sábado, 30 de janeiro de 2010

Carta a Charles Morice, Atuona, Ilhas Marquesas, abril de 1903: Tal como previa no trabalho que te enviei, sobre a gendarmeria nas Marquesas, acabo de cair numa esparrela dessa mesma gendarmeria e ser condenado. É a minha ruína e un recurso talvez nada valha. De qualquer maneira, é preciso prever tudo e antecipar-me. Bem vês como tinha razão em dizer na carta anterior que agisses depressa e com energia. Se formos vencedores, a luta será bela e terei feito uma grande obra nas Marquesas. Muitas iniquidades serão abolidas e vale a pena sofrer por isso. Estou de rastos mas ainda não vencido. O índio que sorri no suplício está vencido? Decididamente, o selvagem é melhor do que nós. Um dia enganaste-te afirmando que eu não tinha razão ao dizer que era um selvagem. É uma verdade: sou um selvagem. E os civilizados presentem-no, porque nas minhas obras nada haveria de surpreendente ou desconcertante se não fosse o "nao-sei-quê-de-selvagem". Por isso são inimitáveis.

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