quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

F. BACON - "Estudo para autorretrato" - óleo 1978

F . BACON - idem II

Isabel Rawsthorne - foto: John Deakin

F. BACON - "Estudo para retrato de Isabel Rawsthorne" - óleo 1966

F.BACON - idem II

F. BACON - idem III

DS - Você está dizendo que pintar é quase uma maneira
de trazer alguém de volta, que o processo de pintar é quase igual
ao processo de lembrar?
FB - É o que eu digo. E acho que os métodos por meio dos quais isso é feito
são tão artificiais que o modelo diante de você, no meu caso, inibe a artificialidade por meio da qual essa coisa pode ser trazida de volta.
DS - E se pessoas que você já pintou muitas vezes
de memória e de fotos posassem para você?
FB  - Ficaria inibido, porque, se gosto delas, não quero praticar na sua frente a violência que eu lhes faço no meu trabalho. Prefiro fazer essas violências às
escondidas, o que, na minha opinião, me permite registrar a realidade delas
com mais clareza.
DS - Em que sentido você concebe isso como uma violência?
FB - No sentido de que as pessoas acreditam - ou pelo menos
as pessoas simples - que as distorções em suas figuras são
uma violência - não importa o quanto simpatizem com você
e o quanto gostem de você.
DS - Você não acha que, por instinto, possivelmente estejam certas?
FB - É possível, é possível. Entendo perfeitamente isso. Mas
me diga, quem hoje consegue registrar uma coisa que surge
na sua frente como um fato sem danificar profundamente a
imagem?

F. BACON - "Estudo para retrato de Peter Beard - óleo 1975

F. BACON - "Estudo para um retrato" - óleo 1969

DS - Mas você não acha, já que está falando em registrar os
vários níveis de emoção de uma imagem, que, entre outras
coisas, poderia também estar expressando ao mesmo tempo
amor e hostilidade pela pessoa - que isso que você faz pode ser
não só carinho mas também agressão?
FB - Acho lógico demais. Acredito que não seja essa a maneira
como as coisas funcionam; acho que a coisa toca mais no fundo:
como pintar essa imagem para torná-la imediatamente mais real
para mim? É só isso.
DS - Tornar a imagem imediatamente mais real não equivaleria
a objetivar sentimentos contraditórios em relação ao sujeito?
FB - Bem, acho que você está abordando o problema por um
lado mais psicológico, e a maioria dos pintores, tenho a impressão,
não fazem isso. Eles podem insonscientemente estar enrolados com o que você diz, mas, conscientemente, nem um pouco.
DS - Bom, evidentemente se eles tivessem conciência disso
seria um desastre para a obra. O que eu estava tentando dizer
é que, quando o modelo ingenuamente imagina que o pintor
o está agredindo, ele instintivamente está reconhecendo um
desejo insonsciente do pintor em agredi-lo.