segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ALLAN POE - O GATO PRETO


ALLAN POE - O GATO PRETO


ALLAN POE - O GATO PRETO


ALLAN POE - O GATO PRETO


E nesse cálculo não me equivoquei. Utilizando um pé 
de cabra, desloquei rapidamente os tijolos e, após escorar
o corpo cuidadosamente contra a parede interna, mantive-o
nessa posição, enquanto, com pouca dificuldade, refazia
toda a estrutura como se mostrava originalmente.
Tendo buscado argamassa, areia e crina, com todas
as precauções possíveis, preparei um reboco que fosse
indistinguível do antigo, e com ele procedi 
muito diligentemente à obra da nova alvenaria. 
Após terminar, observei satisfeito o trabalho bem-feito.
A parede não apresentava o menor sinal de ter sido
perturbada. Recolhi o entulho no chão com cuidado
mais do que minucioso. Olhei em torno em triunfo e disse
comigo mesmo - "Aí está, pronto, meu trabalho não foi em vão".
Meu passo seguinte foi procurar pelo causador de tamanha
desgraça; pois eu havia, enfim, chegado à firme determinação de matá-lo. 
Tivesse eu sido capaz de encontrá-lo naquele momento,
não resta dúvida sobre qual teria sido seu destino;
mas ao que parecia a criatura astuciosa se alarmara
com a violência de minha fúria precedente e evitava aparecer em meu presente estado de espírito.
É impossível descrever, ou imaginar, a profunda, jubilosa,
sensação de alívio que o sumiço do detestado animal
ocasionou em meu peito. Ele não apareceu durante a noite -
e assim, por uma noite, ao menos, desde que fora trazido
à casa, dormi um sono profundo e tranquilo; sin senhor,
dormi, mesmo com o fardo do assassinato em minha alma!
O segundo e o terceiro dia se passaram, e ainda nem sinal
de meu algoz. Eu voltava a respirar como um homem livre.
O monstro, aterrorizado, fugira do lugar para sempre!
Eu não o veria nunca mais! Minha felicidade era suprema!
A culpa por meu ato tenebroso pouco me perturbava.
Umas poucas perguntas haviam sido feitas, mas foram
respondidas prontamente. Até mesmo uma busca fora empreendida - mas é claro que nada se descobrira.
Eu contemplava minha futura felicidade como assegurada.
No quarto dia após o crime, uma equipe policial veio,
um tanto inesperadamente, ter à minha porta, e procedeu
mais uma vez a uma rigorosa investigação da casa.
Confiante, entretanto, na inescrutabilidade 
de meu esconderijo, mostrei grande desembaraço.
Os policiais instaram que os acompanhasse em sua busca.
Não deixaram um único vão ou recesso por examinar.
Finalmente, pela terceira ou quarta vez, desceram ao porão.
Não tremi um músculo sequer. 
Meu coração batia tão calmamente como o de alguém
no sono da inocência. Andei pelo porão de ponta a ponta.
Cruzei os braços sobre o peito e perambulei para cá
e para lá, tranquilo. Os policiais se deram totalmente
por satisfeitos e se prepararam para ir embora. A exultação
em meu coração era forte demais para ser reprimida.
Eu ardia por dizer nem que fosse uma palavra, a título
de triunfo, e tornar duplamente garantida sua certeza de minha inocência.
"Senhores", disse eu, enfim, quando os homens subiam 
pela escada, "alegra-me ter-lhes aplacado as suspeitas.
Desejo saúde a todos, e lhes apresento mais uma vez
meus respeitos. A propósito, senhores, esta - esta é
uma casa muito bem construída". (Em meu incontrolável desejo de dizer o que quer que fosse com naturalidade, eu mal fazia ideia do que falava.) - Devo dizer, uma casa
exelentemente bem construída. Estas paredes - já vão,
senhores? - estas paredes são obra sólida"; e nisso,
no pleno frenesi de minha bravata, bati fortemente,
com a bengala que levava na mão, exatamente 
naquela parte da alvenaria atrás da qual jazia o cadáver
de minha amantíssima esposa.
Mas queira Deus me proteger e livrar das presas 
do Príncipe das Trevas! Nem bem a reverberação
de minhas batidas mergulhou no silêncio, fui atendido
por uma voz vinda da tumba! - por um gemido, inicialmente
abafado e fraco, como de uma criança a soluçar, e depois
se dilatando rapidamente em um grito longo, elevado
e contínuo, inteiramente anômalo e inumano - um uivo -
um guincho lamurioso, metade horror e metade triunfo,
tal como só poderia ter brotado do inferno num esforço
combinado das gargantas dos condenados em sua agonia
e dos demônios que exultam a danação.
De meus próprios pensamentos é tolice falar. Desfalecendo,
cambaleei para a parede oposta. 
Por um instante, os policiais na escada permaneceram
imóveis, num paroxismo de terror e perplexidade.
No instante seguinte, uma dúzia de braços vigorosos
avançava contra a parede. Ela veio toda abaixo.
O cadáver, já grandemente decomposto e coberto de crostas
de sangue, surgiu ereto ante os olhos dos presentes.
Em sua cabeça, com a boca vermelha escancarada
e um olho solitário de fogo, estava a hedionda criatura
cuja astúcia me levara ao assassinato, e cuja voz delatora
me condenara à corda do carrasco. 
Eu emparedara o monstro dentro da tumba!

ALLAN POE - O GATO PRETO


ALLAN POE - O GATO PRETO


ALLAN POE - O GATO PRETO


ALLAN POE - O GATO PRETO - Releitura dos "Disparates" de Francisco de Goya


CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL - DIÁRIO GRÁFICO
A História Humana Contada Pela Arte
ARTE DO EXPRESSIONISMO
OTTO MUELLER 
Influência Simbolista
A Poética Romani
"El Barco" - Edição virtual - Monte Alto - Rio de Janeiro - 2017 
  

OTTO MUELLER
Pintor e gravador alemão do movimento expressionista
Die Brücke.
Mueller nasceu em Liebau, Silésia, em 1874.
Entre 1890 e 1892, estudou litografia em Görlitz e Braslau.
De 1894 a 1896, estudou na Academia de Belas Artes de Dresden e continuou seus estudos em Munique
durante 1898. Ele deixou a academia de Munique
depois que Franz von Stuck o classificou como sem talento.
Suas primeiras obras foram influenciadas 
pelo Impressionismo e o Simbolismo. 
Quando se instalou em Berlim, em 1908, seu estilo tornou-se
expressionista. Durante esse tempo houve encontros
com Rainer Maria Rilke e Erich Heckel.
Em 1910, juntou-se a Die Brücke, grupo expressionista
de Dresden. Foi membro do grupo até que se disolveu,
em 1913, devido a diferenças artísticas. Ao mesmo tempo,
também manteve contato com o grupo Der Blaue Reiter.
Durante a Primeira Guerra Mundial, lutou como soldado
na França e na Rússia. 
Depois da guerra, tornou-se professor na Academia de Artes de Breslau, onde ensinou até a sua morte, 
em 24 de setembro de 1930.
Em 1937 os nazistas pegaram 357 de suas obras 
nos museus alemães, consideradas como arte degenerada.
Mueller era o mais lírico dos pintores expressionistas.
O tema principal de suas obras é a união dos seres humanos com a natureza, enfatizando uma harmoniosa
simplificação de forma, cor e contornos.
É conhecido especialmente por suas pinturas de nus
de mulheres romani, (ciganos de origem indiana).
A sua mãe era de origem romani.
O suporte que ele preferiu para suas pinturas foi
a tela grosseira, que produz uma superfície de tapete.
Sua gravura equivale a 172 litografias, incluindo algumas
xilogravuras.

dados extraídos da Wikipédia