domingo, 30 de dezembro de 2012

Tal como a maioria dos pintores, imagino, quando observo pinturas
estou tão interessado em "como" foram pintadas quanto em "o que"
dizem ou "por que" foram pintadas (essas questões, é claro,
são relacionadas). Tenho eu proprio pelejado para usar a óptica,
descobrí que estava agora observando as pinturas de um novo modo.
Era capaz de identificar características ópticas e, para surpresa minha,
podia vê-las na obra de outros artistas - e a coisa remontava aos anos
1430, ao que parecia! Creio que foi somente no fim do século XX
que isso se tornou evidente. Foi necessária a tecnologia nova, sobretudo
o computador, para vê-lo. Os computadores deram lugar a impressões
coloridas mais baratas e de melhor qualidade, conduzindo a uma grande
melhora nos últimos 15 anos no padrão dos livros de arte (mesmo 20
anos atrás, a maioria era preto e branco). E agora com fotocopiadoras
coloridas e impressoras pessoais qualquer um pode ter acesso a
reproduções baratas mas de boa qualidade em casa, e assim pôr lado
a lado obras que estavam antes separadas por imensas distâncias.
Foi isso o que fiz em meu estúdio e o que me permitiu ver a coisa em
toda a sua amplitude. Somente ao reunir desse modo as imagens que
comecei a notar coisas; e tenho certeza de que essas coisas só poderiam
ser vistas por um artista, um fazedor de marcas, que não está tão
afastado da prática, ou da ciência, quanto um historiador de arte.
Afinal, estou dizendo apenas que os artistas sabiam em outro tempo usar
uma ferramenta, e que esse conhecimento se perdeu.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney  


No começo de 1999 fiz um desenho usando 
uma câmara lúcida. Era um experimento
baseado no palpite de que Ingres, nas primeiras
décadas do século XIX, tivesse usado esse pequeno
dispositivo óptico, então recém inventado. Minha
curiosidade foi despertada quando fuí a uma exposição
de seus retratos na National Gallery de Londres e fiquei
surpresso como eram pequenos os desenhos, embora
tão misteriosamente "precisos". Sei como e difícil
alcançar tal precissão, e imaginei como ele teria feito.
O que se seguiu levou-me a esse livro.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

David Hockney


David Hockney - retrato - lápiz


David Hockney - retrato- lapiz


David Hockney - retrato - lápiz e guache


David Hockney - retrato- lápiz


Andy Warhol - lápiz


Sei que Warhol usou um projetor para fazer
desenhos como esse. Seu traço tem uma
óbvia aparência "decalcada". Foi contemplar
esse desenho que me fez reconhecer a
semelhança com as roupas do retrato de Holbein.
extraido de "O Conhecimentp Secreto" de David Hockney

Andy Warhol - "Maço de notas" - caneta


Os traços das roupas no retrato de Holbein,
são feitos depressa e sem hesitação, e diferem
do estilo do rosto. Os desenhos são confiantes
e "precissos". Acompanhe os traços da manga
de Holbein. São executados rapidamente, de uma vez,
como se decalcados, acompanhando as dobras e
conferindo volume. Os traços no maço de dinheiro
de Warhol são análogos, nada de alterações, cada cual
em posição que parece a correta.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

Hans Holbein - Retrato - lápiz