O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
UM MARTIR PRECOCE
Em vez de permitir que ele
testemunhasse em juizo
Alegando as razões
por que costumava furtar
Lojas de alta classe
e depois mandar cartões postais
À polícia para
que o viesse prender
- se pudesse -
Eles o despacharam num trem
para um manicômio de
Criminosos alienados
sem julgamento
Tendo-lhe sido negada
a profilaxia da
Loucura
ele, pertinaz e
Frustrado, chegou perto
da beira do abismo -
Tiveram finalmente
de soltá-lo, o inflexivel -
A instituição estava
"superlotada"
Deixaram-no ir-se
sob a custódia de um
Parente, com a condição
de viver
Fora do Estado -
Eles o "curaram" de
fato
Mas a armação
contra a qual lutou
Permanece -
e o feito juvenil
Dele que marcou
o período romântico
De uma revolta
a que tão bem serviu
Ainda é importante -
Que ele seja
uma sirene de fábrica
Que não pára de tocar -
Razão, razão, razão!
enquanto houver
Uma memória que lembre
e uma voz que
Grite -
Não desistir nunca
insistir o tempo todo!
Sem ajuda, assustando
os tribunais venais
Que ele julgava
fidedignos mas que o
Traíram.
extraído de "Um Martir Precoce" - 1935
O LAVRADOR
Perdido em pensamentos o
lavrador passeia sob a chuva
por seus campos vazios, mãos
nos bolsos,
na cabeça
a colheita já plantada.
Um vento frio vem encrespar a água
entre as hervas tostadas.
Por toda parte
o mundo rola friorento para longe:
negros pomares
escurecidos pelas nuvens de março -
deixando espaço livre aos pensamentos.
Lá embaixo, além da galharia
rente
ao carreiro encharcado de chuva
assoma a figura artista do
lavrador - compondo
- antagonista
extraído de "Uvas Azedas" - 1921
ESTAS
são as semanas sombrias, desoladas
em que na sua aridez a natureza
iguala a estupidez do homem.
O ano submerso faz-se noite
e o coração submerge
mais fundo do que a noite
num sitio vácuo, varrido pelo vento
sem sol, sem lua nem estrelas,
só uma estranha luz como de pensamento
que incita um fogo obscuro -
a girar sobre si mesma até,
na frialdade, incendiar-se
para tornar um homem cônscio
de nada que saiba, não a própria
solitude - Não um fantasma mas
seria abraçado - vacuidade,
desespero - (Eles
silvam e soluçam) entre
os clarões e estrondos da guerra;
casas em cujos aposentos
o frio é maior do que se possa pensar,
partidas as pessoas a quem amávamos,
os leitos vazios, as poltronas
úmidas, as cadeiras sem uso -
Trata-se de esconder nalgum lugar
longe da lembrança, onde enraize
e cresça, a salvo dos ouvidos
zelosos e dos olhos - por si mesma.
Esta mina vêm eles escavá-la - todos.
Será isto a contraparte da música
mais suave? A fonte de poesia que
vendo o relógio parado, diz,
Parou o relógio que
ontem tiquetaqueava tão bem?
e ouve o som de água do lago
esparrinhando - pedras agora.
extraído de "Poemas Reunidos Completos" - 1938
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