sábado, 3 de janeiro de 2015

CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
SOBRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO
TEXTO DE ANÁLISE

JOSÉ CLEMENTE OROZCO - tinta


É POSSÍVEL LIBERDADE DE IMPRENSA
SEM LIBERDADE DE EXPRESSÃO?

"Mijam em nos e os jornais dissem "chove"...
Eduardo Galeano

"...y en los insultos como piedras, que nos escupen cada día,
los cuadrumanos de la tinta y del papel..."
Nicolás Guillén


A midia hegemônica sempre conviveu mal 
com a democracia pelo fato de ter plena liberdade
para mentir, omitir, manipular
e agredir. Enquanto isso, o povo vê televisão
em silêncio. Sem qualquer limite, a "liberdade
de empresa" suprime com facilidade a liberdade
de imprensa, irmã da liberdade de expressão.
Ou seja, para a liberdade de imprensa realizar-se,
é preciso que os meios de comunicação sejam
absolutamente plurais e que haja total facilidade
de acesso de todos os cidadãos e grupos sociais
à produção dos conteúdos através da midia.
Como falar em liberdade de imprensa quando
meia duzia de familias controla toda a circulação
de informações no país? Como falar em liberdade
de imprensa quando políticos com mandato 
e seus familiares possuem concessões de radio
e televisão? Quando todos os movimentos sociais
só ganham espaço na mídia para serem criminalizados?
Mais questões: Quem pode ter um jornal? Quem pode
escrever em um? Quem vê seu segmento social representado em emissoras de televisão e radio?
Quem consegue com facilidade concessões para transmitir?
Para garantir liberdade real é preciso igualdade, prioridade,
é preciso dar voz a todos, o que está muito longe 
de acontecer. O controle de toda a comunicação brasileira
por pouquíssimas pessoas é uma realidade incontestável.
A censura interna nas empressas de comunicação, 
em diálogo constante com a autocensura, enterra a liberdade de expressão, de imprensa, de informação.
As agressóes a jornalistas, recorrentes no período da Ditadura Militar, são mais um resquicio de uma história
escondida pelo estado com a complacência dos patrões
e de alguns desses jornalistas. É um ciclo onde ganham
as elites, ganham os donos da mídia, e quem perde são
os jornalistas e o povo. A violência contra o jornalista,
contra o jornalismo e contra a liberdade começa na formação
oligopólica da comunicação brasileira, passa pelas práticas
internas dos conglomerados da mídia e, como consequência
de tudo isso, chega ao desprestígio da função jornalística.
A liberdade de imprensa é impossível em um cenário de libertinagem empresarial, com desmandos à bel prazer,
com propriedade cruzada dos meios de comunicação,
com acordos publicitários antiéticos fustigando a possibilidade de expressão através dos veículos tradicionais.
Nesse panorama, vemos a velha liberdade sem igualdade,
liberdade para alguns poucos e aprisionamento e silêncio
para quase todos. A construção da verdadeira liberdade
passa pela ação, não pela omissão, passa necessariamente
pela limitação do direito de violar a liberdade do outro.

Alexandre Haubrich