O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
sábado, 14 de julho de 2012
NOTURNO
Sobre os seus saltos, sob a lua cheia,
Os travestis desfilam como garças,
Farsa carnal em meio às outras farsas
Que o mundo absurdo no aéreo chão semeia.
São deusas-mães usando liga e meia,
De ancas imensas, madeixas esparsas,
De enormes seios, piscando aos comparsas,
Buscando otários para a escusa teia.
São Vênus neolíticas chamando
Sombras confusas, entre os cães sem casa
E os negros ébrios. Seu barroco bando
Volveu, pulsante, dos tetos das grutas,
E anda na névoa, como numa vasa,
Rotundas popas balouçando enxutas.
A.B.
Sobre os seus saltos, sob a lua cheia,
Os travestis desfilam como garças,
Farsa carnal em meio às outras farsas
Que o mundo absurdo no aéreo chão semeia.
São deusas-mães usando liga e meia,
De ancas imensas, madeixas esparsas,
De enormes seios, piscando aos comparsas,
Buscando otários para a escusa teia.
São Vênus neolíticas chamando
Sombras confusas, entre os cães sem casa
E os negros ébrios. Seu barroco bando
Volveu, pulsante, dos tetos das grutas,
E anda na névoa, como numa vasa,
Rotundas popas balouçando enxutas.
A.B.
LÁZARO
Cobrimos o mendigo que dormia
Com jornais, os jornais do extinto dia.
De fora só ficaram os sapatos
Cambaios, já roídos pelos ratos.
Acendemos então, junto, uma vela
e arengamos na luz branca e amarela.
Um círculo de povo já envolvia
Nosso pranto, e o pinguço nem tremia.
Volveu por fim do reino dos defuntos.
Debandada! E ele riu. Ríamos juntos.
A.B.
Cobrimos o mendigo que dormia
Com jornais, os jornais do extinto dia.
De fora só ficaram os sapatos
Cambaios, já roídos pelos ratos.
Acendemos então, junto, uma vela
e arengamos na luz branca e amarela.
Um círculo de povo já envolvia
Nosso pranto, e o pinguço nem tremia.
Volveu por fim do reino dos defuntos.
Debandada! E ele riu. Ríamos juntos.
A.B.
I. M. L.
Na porta do boteco
Com flores de coroas
Que oferta às moças boas
Ele ergue o seu caneco
De alumínio gravado
Com o escudo do seu time,
E conta o último crime,
e olha o bordel fechado.
Sorrindo, no balcão,
Beberica e, prudente,
Fita a vaga onde, em frente,
Deixou o rabecão.
Então, se há um que lhe peça
Que lembre do seu carro,
Diz, dando um grosso escarro:
- Defunto não tem pressa.
A.B.
Na porta do boteco
Com flores de coroas
Que oferta às moças boas
Ele ergue o seu caneco
De alumínio gravado
Com o escudo do seu time,
E conta o último crime,
e olha o bordel fechado.
Sorrindo, no balcão,
Beberica e, prudente,
Fita a vaga onde, em frente,
Deixou o rabecão.
Então, se há um que lhe peça
Que lembre do seu carro,
Diz, dando um grosso escarro:
- Defunto não tem pressa.
A.B.
LAPA
Nesta casa antiga,
Sob estas volutas,
Como ri com as putas
Entre uma e outra briga.
Como virei copos
E extingui charutos,
Discuti com brutos,
Vaiei misantropos.
Urinei nas pias,
Vomitei nas portas,
Com passadas tortas
Vi nascer os dias.
Velha, velha casa,
Como ainda és a mesma
(Não tens dentro a lesma
Que nos afunda e abrasa.)
A.B.
Nesta casa antiga,
Sob estas volutas,
Como ri com as putas
Entre uma e outra briga.
Como virei copos
E extingui charutos,
Discuti com brutos,
Vaiei misantropos.
Urinei nas pias,
Vomitei nas portas,
Com passadas tortas
Vi nascer os dias.
Velha, velha casa,
Como ainda és a mesma
(Não tens dentro a lesma
Que nos afunda e abrasa.)
A.B.
"Homem-fraude, Homem-estoque, Homem-escroque,
Homem-escroto,
é o burgués quem mais recebe lambadas -
as mesmas que já deram, por exemplo,
Mario de Andrade, D. H. Lawrence
ou os poetas románticos dos quatro cantos da Terra -
neste Outono & Inferno de Frederico Gomes.
Nada então de assim tão novo?
Até certo ponto, nada,
porque nem mesmo a imolação de tantos artistas,
nos últimos 200 anos,
contribuiu para sofisticar nossa espécie
e destruir a couraça,
a "frieza metálica" dos que então acenderam
à gerência do mundo e a mantêm até hoje"
"Ao contrário de certa poesia débil,
que, sendo bordada com palavras,
apenas contribui para aumentar a desordem,
a deste livro ousa dizer o que quer.
Ela é um reflexo concreto da própria vida do autor,
que tem sido um exemplo de autenticidade,
sempre "desfraldando bandeiras inconformistas",
sempre olhando pensativo dos seus cantos de mesa,
por isso forte lá por dentro, onde ele sabe que
"escrever / é apenas mais uma forma de silêncio".
LEONARDO FRÓES
extraido do prefacio de "Outono & Inferno"
Homem-escroto,
é o burgués quem mais recebe lambadas -
as mesmas que já deram, por exemplo,
Mario de Andrade, D. H. Lawrence
ou os poetas románticos dos quatro cantos da Terra -
neste Outono & Inferno de Frederico Gomes.
Nada então de assim tão novo?
Até certo ponto, nada,
porque nem mesmo a imolação de tantos artistas,
nos últimos 200 anos,
contribuiu para sofisticar nossa espécie
e destruir a couraça,
a "frieza metálica" dos que então acenderam
à gerência do mundo e a mantêm até hoje"
"Ao contrário de certa poesia débil,
que, sendo bordada com palavras,
apenas contribui para aumentar a desordem,
a deste livro ousa dizer o que quer.
Ela é um reflexo concreto da própria vida do autor,
que tem sido um exemplo de autenticidade,
sempre "desfraldando bandeiras inconformistas",
sempre olhando pensativo dos seus cantos de mesa,
por isso forte lá por dentro, onde ele sabe que
"escrever / é apenas mais uma forma de silêncio".
LEONARDO FRÓES
extraido do prefacio de "Outono & Inferno"
VILLON
Preferes da puta o sexo-torpeza
ao requinte do sexo-turmalina da burguesa
Ao Deus sério sobrepujas com deuses estorninhos
como sobrepuja-se à mesa a alegria dos vinhos
Preteres o convívio de mandachuvas iracundos
pela amizade fraternal de boêmios e vagabundos
Vês no tumulto do inferno lugar mais real
do que o fastio de um paraíso de anjos sem sal
Cantas do humano a podridão da morte
para melhor abrandar da vida o inexorável Norte
Preferes a sordidez da casa do hipócrita
à casa da hipocrisia do sórdido, inóspita
- O eterno! Diz um de modo vibrante.
Repeles com tédio e orgulho simultâneos:
- O instante
Ao culpado, crente ou teórico ofereces
o reino de risos e pássaros de tuas
antipreces...
F.G
Preferes da puta o sexo-torpeza
ao requinte do sexo-turmalina da burguesa
Ao Deus sério sobrepujas com deuses estorninhos
como sobrepuja-se à mesa a alegria dos vinhos
Preteres o convívio de mandachuvas iracundos
pela amizade fraternal de boêmios e vagabundos
Vês no tumulto do inferno lugar mais real
do que o fastio de um paraíso de anjos sem sal
Cantas do humano a podridão da morte
para melhor abrandar da vida o inexorável Norte
Preferes a sordidez da casa do hipócrita
à casa da hipocrisia do sórdido, inóspita
- O eterno! Diz um de modo vibrante.
Repeles com tédio e orgulho simultâneos:
- O instante
Ao culpado, crente ou teórico ofereces
o reino de risos e pássaros de tuas
antipreces...
F.G
Assinar:
Postagens (Atom)