terça-feira, 30 de outubro de 2012

Este é o Baco enfermo, de 1594, Caravaggio
certamente posuia espelhos - eles são
mencionados em listas de seus pertences - 
e muitos estudiosos admitem que ele os tenha
usado. Mas os historiadores em geral
interpretaram relatos contemporáneos da forma
com que ele usava espelhos "para pintar retratos"
como uma alusão de que ele pintava a si próprio.
Mas se ele usava uma lente-espelho, pintava
outra pessoa. Para ter pintado essa figura,
Caravaggio talvez tenha usado a técnica de
montagem, captando o modelo em pedaços e os
reunindo depois. Se compararmos  com o outro Baco, 
que Caravaggio pintou cerca de um ano mais atarde,
vemos que na pintura de 1594, cabeça e ombro
parecem ben mais próximos a nós (como vimos, o
efeito de usar uma lente-espelho e a montagem
é para trazer o tema para mais perto do plano pictórico).
Mas no Baco posterior, de 1595-96, ele parece mais afastado.
Esse é um efeito que se esperaria de uma lente convencional,
que pode projetar um campo de visão mais amplo, e, portanto,
mais da figura de uma só vez. Além disso, repare como a figura
segura o copo com a mão esquerda. Novamente, isso poderá ser
atribuido ao uso de uma lente, que, à diferença da lente-espelho,
inverte todas as coisas.
Vejo essas duas pinturas como marco de uma mudança radical.
Creio que a certa altura dos anos 1590 Caravaggio veio a possuir 
uma lente, tal vez ofertada por seu poderoso patrono,o cardeal
Del Monte, que aconselhara Galileu sobre como ele poderia
aperfeiçoar seu telescópio. O cardeal era, portanto, claramente
versado em assuntos ópticos, e sem dúvida possuía diversas lentes.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney