quinta-feira, 9 de abril de 2009

OS POETAS / HO CHI MINH

Trimano 2008 / nanquim

HO CHI MINH / Kien Lan 1890 / Hanói 1969 /
Vietnam
HO CHI MINH / "Poemas do Cárcere" / tradução de Coema Simões e Moniz Bandeira / Editora Laemmert / Rio de Janeiro 1968
A POESIA NA REVOLUÇÃO / Magro, rosto amarelado, imberbe, cabelo na testa - éste, o aspecto que o jovem Ba apresentava, quando desembarcou no pôrto do Rio de Janeiro. Trabalhava a bordo de um navio e ficaria em terra para tratamento de saúde. / ____________________________________________________ Ba ou, como se notabilizou mais tarde, Ho Chi Minh habitou uma pensão no bairro de Santa Teresa. Alí passou algum tempo. Tal vez três meses, enquanto esperava que outro navio o levara de volta. / Não se pode precisar exatamente a data. Ba, nos fins de 1911, embarcou como ajudante de cocinheiro, no La Touche Treville, que fazia a linha Haiphong-Marsella. Tinha apenas 21 anos. Conheceu Oran, Dakar, Diégo-Suarez, Port Said, Alexandria. E depois de uma escala em Boston e New York, abandonou a profissão do mar. O mundo estava ás portas da guerra. Era 1914. / __________________________________________________________ Há muitas passagens obscuras na sua vida, informações vagas, dados incompletos. Nenhum dos seus biógrafos alude à sua viagem ao Brasil. Mas, evidentemente, foi nesse período que ela se realizou. / ___________________________________________________________ Em 1924, Ho Chi Minh se encontra, em Moscou, com Astrojildo Pereira e Rodolfo Coutinho com quem partilhou do mesmo quarto e aprendeu a lingua portuguesa. Ambos buscavam o reconhecimento do PCB pela Terceira Internacional. Evocou seus dias de Rio de Janeiro e revelou que muito o impressionara a zona do mangue - o cheiro fétido, o mercado do sexo, subproduto do capitalismo nas condições do atraso semicolonial. / Estava cada vez mais próximo do seu obgetivo: levantar a Indochina contra o jugo colonial. Aquêle homem, franzino, que manifestando indignação e tristeza , denunciou, no congresso socialista de Tours (28.12.20), "as atrocidades praticadas na Indochina pelos bandidos do capital", jamais perdera de vista o infortúnio do seu povo. A guerra mundial, que conflagrara a Europa e a Ásia, criara as condições para o início da jornada da libertação. ___________________________________________________________________ Ho Chi Minh retornou a Indochina, em janeiro de 1941, após consolidar a primeira zona libertada, na região de Cao Bang. Ali começava a maior epopeia da história contemporánea: a história de um povo pobre, atrasado, oprimido, que teima em ser livre, resiste e luta, prefere sucumbir nas ruinas, a golpes de napalm, a renunciar à sua independência e demonstra, com tôda a eloquência do seu heroismo e da sua resolução revolucionária, a fraqueza da maior máquina de guerra do imperialismo mundial. _____________________________________________________________________ A Comuna de París, as insurreições de 1905 e 1917, na Rússia, os levantes da Alemanha e da Hungria, em 1919, a grande marcha de Mao Tse-Tung, a guerra da Espanha, a revolução da China, as lutas de libertação da Argélia, o heroismo de Sierra Maestra, a epopeia do Vietnam e o sacrificio de Guevara - eis alguns episódios da história contemporánea mais fecundos e mais ricos em poesia. / ___________________________________________________________________ Marx, Trotsky, Karl Liebknecht, Mao Tse-Tung, Lumumba e muitos revolucionários escreveram versos, dedicaram-se á poesia. Todos encontraram na política, posteriormente, uma forma de expressão mais poderosa para sua criatividade. / ____________________________________________________________________ Não se pode ler, entretanto, a poesia de Ho Chi Minh com os mesmos olhos que se habituaram aos padrões estéticos do Ocidente. Seus poemas, na maioría são curtos e lembrariam os haicais dos japoneses. Encerram, frequentemente, uma anedota. Ho Cho Minh, através das contradições que joga em cada verso, imprime-lhes um conteúdo ético. _____________________________________________________________________ Quando se diz Ho Chi Minh, fala-se de todos os revolucionários que lutam e morrem no Vietnam. Ele é como aquêle monge incendiado, que se dispõe ao sacrificio, mas com a metralhadora na mao. ___________________________________________________________________ "Se tôda a revolução tem a força da poesia, tóda poesia, que sobrevive, tem a força da revolução" / Moniz Bandeira / Rio de Janeiro 1968
DIÁRIO DA PRISÃO
Aquí teu corpo está prêso na cela. / Teu espírito, não. Ele está livre. / Se queres continuar a tua missão, / deves manter elevado o teu moral.
A LUA
Que fazer ante o encanto da noite e a beleza do tempo? / Nem flor nem álcool na prisão. / Atravès das grades o homem contempla a lua. / A lua contempla o homem através das grades.

luminária em origami: Jacyara Grybowski

O CAMINHO
Se levo fortemente atados os meus braços, / ouço os pássaros, sinto o perfume das flores. / Quem me pode impedir essa felicidade / que me faz menos só e a marcha menos triste?
COBERTOR DE PAPEL DO COMPANHEIRO DE PRISÃO
Livros, novos, papéis velhos são amontoados, / Cobertor de papel é melhor que nenhum. / Abrigados do frio os ricos adormecem / enquanto na prisão tantos tremem sem sono.
MEIA-NOITE
Todos, dormindo, a mesma expressão de inocência. / O despertar divide em bons e maus os homens. / Bom, mau - ninguém assim de natureza nasce. / A educação depois o seu caráter forma.
QUATRO MESES, JÁ
"Um dia encarcerado: / mil anos lá fora". / Não é vã palavra / éste provérbio antigo. / Quatro meses na cela / destruíram meu corpo / mais que dez anos de vida. / Quatro meses de fome, / quatro meses de insônia, / sem mudar de roupa, / sem poder me lavar. / Abandonou-me um dente, / cabelos branquearam, / negro, magro, faminto, / vestido de sarna e de feridas. / Mas, paciente sou, / duro, rijo, / sem recuar um palmo. / Materialmente miserável, / o moral, firme.
BELEZA PERMANENTE
Tudo muda - é a lei. / A roda gira e não para. / Após a chuva, o sol. / O universo, num instante, / troca suas roupas molhadas. / A paisagem estende tapetes / sôbre seis quilômetros. / Sol doce, leve brisa, / uma flor sorrí. / No topo da árvore, / o galho que brilha. / Canta um côro de pássaros. / Homens e animais sentem a resurreição. / Que de mais natural? / Após a desgraça, o júbilo.