quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL / O curso é composto de 8 aulas teórico-práticas, com a duração de 3 horas cada aula, abordando os seguintes tópicos: A caricatura na imprensa / A ilustração editorial / A ilustração na imprensa / O poema ilustrado / e-mail para contatos: luis.trimano@terra.com.br
Anúncio do primeiro Curso de Ilustração Editorial / Estúdio "Marimbondo", a convite do ilustrador Renato Alarcão / Rio de Janeiro 2007
A CARICATURA NA IMPRENSA: 2 aulas / Tempo de duração de cada aula: 3 horas / Projeção de imagens referentes à deformação facial e obras de artistas que em diferentes épocas praticaram éste género / Esse tipo de desenho, onde a expressão é o elemento essencial, está aparentado ao títere, à marionete, à sátira de costumes e ao retrato expressionista /
Retrato de Franz Kafka / nanquim 1989
Anúncio do curso / PUC / Rio de Janeiro 2008
A ILUSTRAÇÃO EDITORIAL / 2 aulas / Tempo de duração de cada aula: 3 horas / O cartaz, a capa de disco, a capa de livro, a ilustração para revista e o painel mural são analisados nesta aula / A austeridade do desenho em preto e branco e a dureza dos temas tratados pelo jornal, se transformam em imagens onde a cor e o decorativismo das composições têm prioridade / Mostramos aqui capas de disco e cartazes ilustrativos de temas da MPB, do carnaval, e retrato de compositores /
Ilustração para a revista programa do Free Jazz Festival / Edição ShowBras - Rio de Janeiro 1985
Anúncio do curso / Univer - Cidade / Lagoa Rio de Janeiro 2007
Exposição "Página Ilustrada" / Trabalho em conjunto com o designer Luiz Agner, e complemento do curso / Galeria da Univer - Cidade / Lagoa - Rio de Janeiro 2007
Anúncio do curso de ilustração / ABI - Associação Brasileira de Imprensa / Rio de Janeiro 2007
A ILUSTRAÇÃO NA IMPRENSA / 2 aulas / Tempo de duração de cada aula: 3 horas / Projeção de obras de artistas de varios países / Aqui a ilustração para jornal é mostrada principalmente na sua fase de preto e branco, mais próxima da gravura, antes da moda dos jornais "multicoloridos" /
Ilustração para "Literatura Latinoamericana" / revista Argumento / editora Paz e Terra - 1973
Capa do folder do Seminário de Ilustração e Design Editorial organizado pela professora Sandra Medeiros, da Universidade Federal do Espírito Santo, no auditório da Rede Gazeta - Vitória - 2008 / Participaram das mesas redondas, pelo Rio de Janeiro: Lula Palomanes - ilustrador / Paulo Cavalcante - ilustrador / Luis Trimano - ilustrador / Walter Vasconcellos - ilustrador / Rubem Grilo - gravador / Bruno Liberati - ilustrador / por Minas Gerais: Guilherme Mansur - ilustrador / por São Paulo: Chico Caruso - cartunista / Tide Hellmeister - design e ilustração - (in memoriam) / por Vitória / ES: Joyce Brandão / Attilio Colnago / Gilbert Chaudanne / Ilvan
Cartaz de apresentação do Seminário de Ilustração e Design Editorial organizado pela professora Sandra Medeiros, mestra em Design, e complemento do curso Trimano / Rede Gazeta / Universidade Federal do Espírito Santo - Vitória 2008 / Projeto gráfico: Lula Palomanes
O POEMA ILUSTRADO / 2 aulas / Tempo de duração de cada aula: 3 horas / Prática das diversas técnicas do desenho sobre papel / Projeção de ilustrações de artistas latinoamericanos, europeus e norte americanos, que abordaram a interpretação de poemas /
Ilustração para o poema "Ambições de Assombrações" de Leonardo Fróes / Série Radial X / Rio de Janeiro 1997

domingo, 18 de janeiro de 2009

"A Rosa do Povo" Carlos Drummond de Andrade
PROCURA DA POESIA / Não faças versos sobre acontecimentos./ Não há criação nem morte perante a poesia./ Diante dela, a vida é um sol estático,/ Não aquece nem ilumina./ As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam./ Não faças poesia com o corpo / esse exelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica./ Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro / são indiferentes./ Nem me reveles teus sentimentos./ que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem./ O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Trimano - 2008 / série "Perfis"

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz./ O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas./ Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto â linha de espuma./ O canto não é a natureza nem os homens em sociedade./ Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam./ A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques, não indagues./ Não percas tempo em mentir. Não te aborreças./ Teu iate de marfim, teu sapato de diamante./ vossas mazurcas e abusôes, vossos esqueletos de familia / desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.// Não recomponhas / tua sepultada e merencória infância./ Não osciles entre o espelho e a / memória em dissipação./ Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras./ Lá estão os poemas que esperam ser escritos./ Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superficie intata./ Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário./ Convive com teus poemas, antes de escrevê-los./ Tem paciência, se obscuros. Calma se te provocam./ Espera que cada um se realize e consume / com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio./ Não forces o poema a desprender-se do limbo./ Não colhas no chão o poema que se perdeu./ Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará su forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras / Cada uma / tem mil faces secretas sob a face neutra / e te pergunta, sem interesse pela resposta / pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? // Repara: ermas de melodia e conceito, elas se refugiaram na noite, as palavras. / Ainda úmidas e impregnadas de sono,/ rolam num río difícil e se transformam em desprezo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ARTISTAS DA AMÉRICA LATINA ROBERTO RODRIGUES / Brasil 2006 / 2029

Autorretrato / óleo

Roberto Rodrigues - Rio de Janeiro 2006 / 2029
Um dos maiores ilustradores brasileiros, assassinado
aos 23 anos, em lugar do pai, Mário Rodrigues, dono
do jornal Crítica, por uma mulher, alvo de calúnia em
matêria publicada pelo jornal, com desenho do Roberto.
Simbolismo, romantismo tardío e decadência estão
presentes nas suas ilustrações. O subúrbio, as paixões humanas,
e o atelier compartido com Portinari.
Como seu irmão, o dramaturgo Nelson Rodrigues,
faz aguda crítica aos costumes da sociedade
carioca da época. Simbolismo e elementos do
Art-Nouveau convergem no seu desenho.
Beardsley e Egon Schiele, também os desenhos
de Victror Brecheret, e as influências da Arte Oriental,
iniciada pelos Impressionistas e moda nos anos 20

O desprêzo

nanquim

O ciúme

nanquim

O último romántico

nanquim

O elogio da cocaina

nanquim

Autorretrato e foto do artista

nanquim

Arrependimento

nanquim

Enterro

nanquim

O corvo

nanquim

O encantador de serpentes

nanquim

O abraço

nanquim

Amor a primeira vista de um homem que não é máo

nanquim

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

OS POETAS / Lawrence Ferlinghetti / USA / 'SAUDAÇÃO'

Trimano - Série "Diário" - nanquim 2004-08

A cada animal que abate ou come sua própria espécie / E cada caçador com rifles montados em camionetas / E cada miliciano ou atirador particular / com mira telescópica / E cada capataz sulista de botas com seus cães / & espingardas de cano serrado / E cada policial guardião da paz com seus cães / treinados para rastrear & matar / E cada tira a paisana ou agente secreto / com seu coldre oculto cheio de morte / E cada funcionário público que dispara contra o público / ou que alveja-para-matar criminosos em fuga / E cada Guarda Civil em qualquer país que guarda os civis / com algemas & carabinas / E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual posto de barreiras / em tanto faz qual lado de qual Muro de Berlim / cortina de Bambu ou de Tortilha / E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário em calças de / equitação sob medida & capacete protetor / de plástico & revólver em coldre ornado / de prata / E cada radiopatrulha com armas antimotim & sirenes e cada tanque / antimotim com cassetetes & gás lacrimogênio

Trimano - Série "Diário" - nanquim 2004/08

E cada piloto de avião com foguetes & napalm sob as asas / E cada capelão que abençoa bombardeiros que decolam / E qualquer Departamento de Estado de qualquer superestado que vende / armas aos dois lados / E cada Nacionalista em tanto faz que Nação em tanto faz / qual mundo Preto Pardo ou Branco / que mata por sua Nação / E cada profeta com arma de fogo ou branca e quem quer que reforce / as luzes do espírito á força ou reforce o poder / de qualquer estado com mais Poder / E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam & matam / pela Paz / Eu ergo meu dedo médio / na única saudação apropriada Prisão de Santa Rita, 1968

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

OS POETAS / Carlos Drummond de Andrade / Brasil 1902-1987
CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO / Carlos Drummond de Andrade / "Nova Reunião" - Antologia Poética / Editora José Olimpio 1985

Trimano - Série "Diário" - nanquim 2007-08

Provisoriamente não cantaremos o amor.
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os braços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas
MASSACRE / Carlos Drummond de Andrade / "Nova Reunião" / Antologia Poética / Editora José olimpio 1985

Trimano - Série "Diário" - nanquim 2007-08

Eram mil a atacar

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

o só objeto
indefensável
e pá e pé e ui
e vupi e rrr
e o riso passarola no ar
grasnando
e mil a espiar
os alfabetos purpúreos
desatando-se
sem rota
e llmn e nss e yn
eram mil a sentir
que a vida refugia
do ato de viver
e agora circulava
sobre toda ruína
A BOMBA / Carlos Drummond de Andrade / "Nova Reunião" / Antologia Poética / Editora José Olimpio - 1985

Trimano / Série "Diário" - nanquim 2007-08

A bomba / é uma flor de pánico apavorando os agricultores
A bomba / é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba / é miséria confederando milhões de misérias
A bomba / é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba / é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba / dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba / não tem preço não tem lunar não tem domicílio
A bomba / amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba / não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba / mente e sorri sem dente
A bomba / vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba / é redonda que nem mesa redonda. e quadrada

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A bomba / tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba / furtou e corrompeu elementos da natureza e mais furtara e corrompera
A bomba / multiplica-se em ações ao portador e em portadores sem ação
A bomba / chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba / faz week-end na Semana Santa
A bomba / brinca bem brincado o carnaval
A bomba / tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba / industrializou as térmites convertendo-as em balísticos interplanetários
A bomba / sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose, de verborréia
A bomba / não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba / envenena as crianças antes que comecem a nascer
A bomba / continua a envenená-las no curso da vida
A bomba / respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba / pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba / é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba / é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba / tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro, cobalto e ferro além de comparsaria
A bomba / tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba / não admite que ninguém a acorde sem motivo grave
A bomba / quer manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba / mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba / dobra todas as linguas à sua turva sintaxe
A bomba / saboreia a morte com marshmallow
A bomba / arrota impostura e prosopopéia política
A bomba / cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba / é podre
A bomba / gostaría de ter remorso para justificar-se, mas isso lhe é vedado
A bomba / pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba / declara-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba / tem um clube fechadíssimo
A bomba / pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba / é russuramericanenglich mas agradam-lhe eflúvios de París
A bomba / oferece na bandeja de urânio puro, a titulo de bonificação, átomos de paz
A bomba / não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba / desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger velhos e criancinhas
A bomba / não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de cáncer
A bomba / é cáncer
A bomba / vai à lua, assovia e volta
A bomba / reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação em cadeia
A bomba / está abusando da glória de ser bomba
A bomba / não se sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba o instante inefável
A Bomba / fede
A bomba / é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba / com ser uma besta confusa / da tempo ao homem para que se salve
A bomba / não destruirá a vida
O homem (tenho esperança) liquidará a bomba

domingo, 4 de janeiro de 2009

"Beats" e Libertarios / Lawrence Ferlinghetti "O Mundo é um Ótimo Lugar..." / de: "Retratos do Mundo Passado" - 1955

Trimano - série Economia / "Liberdade Interditada"

O mundo é um ótimo lugar / pra se nascer /
se não te importa que a felicidade / nem sempre tenha /
muita graça / se não te importa um quê de inferno /
de quando em quando / justo quando tudo vai bem /
pois nem mesmo nos céus / se canta o / tempo todo /
O mundo é um ótimo lugar / pra se nascer /
se não te importa que alguns morram / o tempo todo /
ou sofram só de fome / parte do tempo / o que não é tão
mau assim / se não é com você / Ah o mundo é um ótimo lugar /
pra se nascer / se não te importam / algumas mentes mortas /
nos postos mais altos / ou uma bomba ou duas / de quando
em quando / nas suas caras pasmas / ou tais outras inconveniências /
que vitimam a nossa / sociedade Marca Registrada /
com a distinção de seus homens / e seus homens de extinção /
e seus padres / e outros patrulheiros / e suas várias segregações /
e investigações parlamentares / e outras prisôes /
de ventre que nosso torpe / corpo herda /
Sim o mundo é o melhor dos lugares / para tantas coisas como /
encenar diversão / e encenar amor / e encenar tristeza /
e cantar baixarias e se inspirar / e dar umas voltas / olhando de tudo /
e cheirando flores / e cutucando estátuas / e até pensando /
e beijando as pessoas e / fazendo filhos e usando calças /
e acenando chapéus e / dançando / e nadando nos rios durante /
piqueniques / no meio do verão / e no sentido amplo /
"vivendo até o fundo" / Sim / mas bem no meio disso chega /
então sorrindo o / agente funerário / de ""Retratos do Mundo
Passado" - tradução: Nelson Ascher
OS POETAS / Lawrence Ferlinghetti / USA 1919

Ferlinghetti

Antes de tudo, é bom lembrar. Em 1953, Lawrence Ferlinghetti criou, junto com Peter Martin, a City Lights Books, que editaria todos os primeiros livros dos poetas beats Allen Ginsberg, Gregory Corso, McLure e Lamantia. Martin era filho de um anarquista italiano, assassinado em 1943, e a City Lights funcionou como lugar de reunião das ideias de seu pai em São Francisco. Era lá que eles compravam seus jornais L'Adunata e L'Humanitá Nova. Martin largou o negócio em um ano e passou sua parte para Shigeyoshi Murao, mas a editora manteve a tradição libertária. Ferlinghetti e Shigeyoshi foram presos em 1957 por publicar literatura obcena, isto é: How! (Uivo), de Allen Ginsberg. O julgamento de How! foi um caso nacional e abriú o caminho para a primeira publicação na América de O Amante de Lady Chaterley de D.H. Lawrence, Trópico de Cáncer de Henry Miller e Almoço Nu, de William Burroughs (esse também depois de julgamento). Foi Ferlinghetti quem - a través da City Lighs, em 1971 e 1972 - trouxe os poetas russos Yevtuchenko e Voznesensky para ler seus poemas em São Francisco, assim como, em 1972, organizou leituras públicas feitas por poetas chilenos, gregos e americanos, em apoio á luta contra a ditadura na Grécia.

Ferlinghetti

Esse contexto é fundamental para se ler esse poeta que, numa atitude comum a todos os escritores beat, não separa a sua vida da sua poesia. Ler Ferlinghetti é ler a história de uma outra América, desconhecida da maior parte do público, que - na década de 50 e inicio dos anos 60 - só recebia de lá o brilho de Hollywood, coca-cola, motéis e drive-ins. Não se ouvia falar no "mundo á prova de beijo, um mundo de tampa de privada e taxis/ caubois de boutique / indios sem terra e madames loucas por cinema", dos quais fala O Olho do Poeta Vendo... Dos beats, aliás, nesse tempo, só chegaram aquí as tentativas recuperadoras da grande imprensa americana, que os caracterizava de cavanhaque, óculos escuros e roupas pretas, dizendo yeah, yeah, yeah (estereótipos que alguns "académicos" da grande imprensa paulista andaram ultimamente a repetir). Através da obra de Ferlinghetti, representada inteira nesse volume, vemos aparecer as questões que eram tematizadas no movimento de artistas e jovens beats dessa época: uma revolta contra os valores do capitalismo, do trabalho alienado e da corrida de ratos atrás do dinheiro, contra a destruição da natureza pela industria predadora, contra a proibição arbitrária do uso de drogas não ocidentais, contra os preconceitos ante a compreensão mágica da vida, contra o sexismo, contra a bomba atómica. Vemos sua colocação ao lado dos trabalhadores e dos imigrantes, pelo respeito a diversidade cultural, política e económica, vilipendiada pelo monopólio da cultura de consumo (protestante e anglo-saxónica). Através da sua obra, constatamos como esses temas se mantém, atravessando o apoliticismo dos hippies dos anos 70 (os últimos poemas são de 1981), quando a maior parte deles já se transformou em bandeira de movimentos organizados de ecologistas, feministas e minorias étnicas, pela liberação da maconha, antinucleares, etc... Essas questões pertencem a uma cultura internacional. Não tém pátria. São contra- efeitos do capitalismo industrial, ele mesmo planetário. E estão sendo vividos do mesmo modo nos nossos centros industriais. A voz de Ferlinghetti, a coerência e a força da sua posição existencial são um bom estímulo para a reflexão no momento. Mauro Sá Rego Costa / Crónica publicada no Jornal do Brasil, com motivo da edição da antologia "Vida Sem Fim", pela editora Brasiliense em 1984
PORTA SECRETA / Lawrence Ferlinghetti / (Hinoa a Macchu Picchu, após Neruda)

Trimano / Série "Diário" - Pedreira 2007-08

Porta secreta porta morta / que é Mãe / Porta secreta porta morta / que é Pai / Porta secreta porta morta / de nossa vida inumada / Porta secreta além da qual o homem deixa / suas pegadas pelas ruas / Porta secreta á qual batem mãos de barro / Porta secreta sem trincos / cuja vida é feita de batidas / de pés e mãos / Pobre mão pobre pé pobre vida! / Porta secreta com dobradizas de cabelo / Porta secreta com ferrolhos de lábios / Porta secreta com chaves de esqueletos / Porta secreta autobiografia da humanidade / Porta secreta dicionário do universo / Porta secreta palimpsesto de mim mesmo / Porta secreta eu sou feito dos / pedaços de meus membros / Porta secreta falácia patética / da evidência dos sentidos / em perceber a natureza da realidade

Trimano - "Indios" nanquim 1990