quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

F. BACON - pintura - óleo 1946

"Estudo sobre o retrato do Papa Inocêncio X" de Velázquez - óleo 1949

"Retrato do Papa Inocêncio X"- por Diego Velázquez - (detalhe)

F. BACON - "Estudo sobre o retrato do Papa Inocêncio X" de Velázquez - óleo - 153 x 118 mts.- 1953

DS - E, no entanto, quando você finalmente conseguiu
ir a Roma, apesar de ter ficado lá dois meses, não aproveitou
a oportunidade para ver a Inocêncio X.
FB - É verdade. Mas também é verdade que naquela época
eu atravessava emocionalmente uma fase de extrema infelicidade.
E, apesar de abominar igrejas, passava a maior parte do tempo
na basílica de São Pedro, onde ficava simplesmente perambulando.
Mas a razão provável tal vez fosse o medo de ver a realidade do
Velázquez depois de ter remexido tanto nele, o medo de ver
aquele quadro maravilhoso e pensar nas besteiras que havia feito com ele.     
DS - Então nada daquilo que suspeitei tinha fundamento.
Acho que devo ter imaginado que você deveria preferir
fotografias aos originais, porque elas são menos explícitas,
mas sugestivas.
FB - Bom, minhas fotografias estão muito estragadas.
Porque as pessoas pisam nelas, amarrotam, fazem todo tipo de coisa,
e isso traz novas implicações para a imagem; por exemplo, para uma imagem de Rembrandt, implicações que não partiram de Rembrandt.

George Dyer - foto: John Deakin

F. BACON - "Retrato de George Dyer" - óleo 1966-67

F. BACON - idem II

F.BACON - idem III

DS - Até agora só falamos de seu trabalho em cima
de fotografias que já existiam e que você escolheu.
No meio dessas havia instantáneos antigos que você usava
enquanto pintava o retrato de alguém que conhecia.
Mas nos últimos anos, quando você planeja fazer o retrato
de uma pessoa, me dá a impressão de que prefere usar um
jogo de fotografias tiradas especialmente para o que tenciona fazer.
FB - Tem razão. Mesmo no caso dos amigos
que vem ao estúdio e posam, eu tiro fotos suas para os retratos,
porque prefiro trabalhar muito mais em cima delas do que
olhando para eles. Verdade seja dita: eu não poderia tentar fazer o retrato
em cima da fotografia de alguém que não conhecesse. Mas se eu conhecer,
e ainda por cima tiver a fotografia, acho que fica mais fácil trabalhar assim, mais do que com eles presentes no estúdio. Creio que, se eu estiver na presença da imagem,
não consigo me soltar tanto quanto se trabalhasse somente com a imagem
fotográfica. Pode ser simplesmente que isso se deva ao meu lado neurótico,
mas acho menos inibidor pintá-los de memória e de suas fotografias do que com
eles sentados diante de mim.
DS - Você prefere ficar sozinho?
FB - Inteiramente só. Com a lembrança deles.
DS - Por ser a lembrança mais interessante,
ou por que a presença perturba?
FB - O que eu pretendo fazer é distorcer o objeto
até um nível que está muito alem da aparência, mas,
na distorção, voltar a um registro da aparência.