sexta-feira, 14 de março de 2014

ANITA MALFATTI


ANITA MALFATTI - São Paulo, Brasil 1889-1964
Pintora e desenhista
Filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti, e de mãe norteamericana: Betty Krug
Segunda filha do casal, Anita nasceu com atrofia no braço e na mão direita.
Aos três anos de idade foi levada pelos pais a Luca, Itália, na esperança de corrigir
o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores
e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da sua vida. Voltando ao Brasil,
teve a sua disposição miss Browne, uma governanta inglesa que a ajudou
no desenvolvimento do uso da mão esquerda e no aprendizado da arte da escrita.
Iniciou seus estudos em 1897 no colégio São José de freiras católicas, situado
na rua da Glória. Aí foi alfabetizada. Posteriormente passa a estudar em escola
protestante: na Escola Americana, que depois tomaria o nome de Mackenzie College,
onde, em 1906, recebeu o diploma de normalista.
Nesse meio tempo falece Samuele Malfatti, esteio moral e financeiro da familia.
Sem recursos para o sustento dos filhos, dona Betty passa a dar aulas particulares
de idioma e também de desenho e pintura. Chegou a submeter-se à orientação do
pintor Carlo Deservi para com mais segurança ensinar seus discípulos.
Anita acompanhava as aulas e nelas tomava parte. Foi portanto sua própria mãe
quem lhe ensinou os rudimentos das artes plásticas.
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"Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda
me revelara o fundo da minha sensibilidade. Resolví então, me submeter  a uma
estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte
emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima
da estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças
de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim.
Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, o deslocamento de ar,
a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delirio e de loucura. Eu via
cores, e cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre
na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar a pintura."
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Anita pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do pai, parecia impossível, 
tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama e sua mãe passava o dia
dando aulas de pintura e de idiomas.
Ela tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que estavam prestes a viajar à Europa
para estudar música. Assim surgiu a idéia de acompanha-las à Alemanha, e seu tio
e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou financiar a viagem.
Anita e as Shalders chegaram em Berlim em 1910, ano marcante na história
da arte moderna alemã.
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"Os acontecimentos precipitavam-se tão depressa, que eu me lembro de ter vivido
como dentro de um sonho. Nada do que acontecia se asemelhava com o que havia
acontecido no Brasil. Comprei incontinente uma porção de tintas, e a festa começõu"
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Berlim era então o grande centro musical da Europa. Acompanhando suas amigas
às aulas no centro musical, ali recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista
Fritz Burger, retratista que dominava a técnica pontilhista e divisionista. Foi o primeiro
mestre de Anita. Nessa época ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.
Durante as ferias de verão, Anita e as amigas foram as montanhas de Harz, 
em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando sua viagem, visitou
a 4º Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na Alemanha,
na qual conheceu trabalhos de pintores modernos, incluindo-se o tão admirado
Van Gogh.
Teve aulas também com Lovis Corinth, um tipo bem germánico que não tinha a menor
paciência com seus alunos, mas com Anita era diferente. Tal vez porque se identificasse com ela. Alguns anos antes sofrera um AVC que como sequela, tal como a aluna lhe deixara dificuldade motora na mão direita.
Anita estava cada vez mais interessada pela pintura expressionista.
Com a instabilidade causada pela aproximação da guerra, resolve deixar Berlim,
antes passando por Paris.
São Paulo, 1914, Anita tinha 24 anos e com mais de quatro anos de estudos 
na Europa. A cidade crescia, mas o ambiente artistico ainda era incipiente, o gosto
predominante era pela arte académica. Mais uma vez financiada pelo tio, embarca
para os Estados Unidos. 
No inicio de 1915, já se encontrava em Nova York, matriculada na tradicional
Art Student's League. Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso de desenho ou pintura nessa instituição por demais conservadora.
Trazendo em sua pintura a marca do Expressionismo, dificilmente conseguiria
adaptar-se a uma academia de ensino tradicional.
Em meados de 1916, já de volta ao Brasil, se depara com o desgosto que suas telas
causaram no gosto da sua familia, que esperava ver uma pintura bem comportada.
Ela inconscientemente "rompera" com as regras da pintura académica tão apreciada
por seus parentes.
Em 1917 resolve promover uma grande exposição individual. Os acontecimentos
a partir da primeira semana se deram de forma tão rápida e surprendente que Anita
só se atreveria a narrá-los 34 anos depois:
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"A principio os meus quadros foram bem aceitos, e vendi, nos primeiros dias, oito quadros. Em geral, depois da primeira surpressa, acharam a minha pintura perfeitamente normal. Qual não foi a minha surpresa quando apareceu o artigo
crítico de Monteiro Lobato"
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Trecho do lamentável artigo crítico do escritor Monteiro Lobato sobre a exposição
de Anita Malfatti, intitulado "Paranoia ou Mistificação", publicado em 20 de dezembro de 1917,  no jornal ultra conservador O Estado de São Paulo, vinte anos antes da mostra "Arte Degenerada" montada pelos nazistas com obras de arte moderna confiscadas em Berlim, em 1937.
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Disse ele: "Há duas especies de artistas, uma composta dos que vêm as coisas,
e em consequência fazem arte pura, guardados "os eternos" ritmos da vida,
e adotados, para concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grecia, é Rafael
na Itália, é Reinolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin
na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade
de satélites que gravitam em torno desses sois imorredouros. A outra espécie
e formada dos que vêm "anormalmente" a natureza e a interpretam à luz das teorias
efêmeras, sob a "sugestão estrábica" de escolas rebeldes, surgidas cá e lá "como
furúnculos" da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do "sadismo" de todos os períodos de decadência, são frutos de fim de estação, "bichados ao nascedouro".
Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. Embora se dêem como novos, como
precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte "anormal  e teratológica": nasceu com a "paranoia e a mistificação". de há muito que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que "ornam
as paredes dos manicômios". A única diferênça reside em que nos manicômios essa
arte é sincera, produto lógico dos "cérebros transtornados pelas mais estranhas psicosis"; e fora deles, nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária
mas não absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura."
"Estas considerações, são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam
acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das
"extravagancias de Picasso & Cia"
"Sejamos sinceros: Futurismo, Cubismo, Impressionismo e tutti quanti não passam
de outros ramos da "arte caricatural". È a extensão da caricatura a regiôes onde não
havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura das formas, caricatura que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma idéia, mas sim desnortear, aparvalhar, atordoar
a ingenuidade do espectador..."
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Toda essa tolice recalcada e destructiva, faz de Lobato um "precursor" da ideologia nazi-fascista. Em 1938, ele escreve estas barbaridades racistas:
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"Um dia se fará justiça ao Ku Klux Klan; tivesemos uma defesa dessa ordem, 
que "mantem o negro no seu lugar", e estariamos livres da peste da imprensa carioca -
mulatinho fazendo o jogo do galego e sempre demolidor, porque a mestiçagem do negro destroi a capacidade construtiva"
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Após a crítica de Lobato, as telas vendidas foram devolvidas, algumas foram quase 
destruídas a bengaladas, o artigo gerou uma verdadeira catilinária em artigos de jornais. A primeira voz que se levantou em defesa da pintora, foi a de Oswald de Andrade. Pela imprensa ele elogiou o talento de Anita e parabenizou pelo simples fato dela não ter feito copias. O artigo de Lobato foi agresivo e maldoso e deixou marcas 
profundas na vida e na obra da artista. Anita ficou moralmente arrasada com a crítica.
Ficou magoada pelo resto da vida.
Mario de Andrade se referindo ao acontecimento disse:
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"Assisti bem de perto essa luta sagrada, e palavra que considero a vida artistica
de Anita Malfatti um desses dramas pesados que o isolamento dos indivíduos
apaga para sempre feito segredo mortal. O povo passa, o povo olha o quadro
e tudo neste mostra vontade e calma bem definidas. O povo segue seu caminho
depois de ter aplaudido a obra boa, sem saber que poder de miseirinhas cotidianas
maiores que o Pão de Açúcar aquela artista bebeu diariamente com o café da manhã."
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Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna, mais uma vez, movimentou
a insípida vida artística de São Paulo. Anita participou com 22 trabalhos. Nesse mesmo ano embarca mais uma vez em viagem de estudos para Paris pela bolsa do Pensionato.
Na Escola de Paris, no pós-guerra, muitos pintores das mais diversas origens,
passavam pela experiência da releitura da arte de séculos passados, como Picasso
por exemplo. Nos cinco anos que Anita passou na França, a crítica foi unánime
no elogio a sua pintura pioneira, destacando seus desenhos de modelo, de factura pessoal e vigorosa. Seria a produção mais válida e permanente do estágio francés.
Em 1928, volta ao Brasil. Mario de Andrade, seu maior e melhor amigo, declara:
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"O nome de Anita Malfatti já está definitivamente ligado à história das artes brasileiras
pelo papel que a pintora representou no início do movimento renovador
contemporâneo. Dotada de uma inteligência cultivada e duma sensibilidade vasta, 
ela foi a primeira entre nos a sentir a precisão de buscar os caminhos mais
contemporâneos da expressão artística, de que vivíamos totalmente divorciados,
banzando num tradicionalismo acadêmico que já não corresponde mais a nenhuma
realidade brasileira nem internacional,"
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Em 1929 abria em São Paulo, sua quarta exposição individual. Depois de fechar
sua exposição, até 1932, Anita dedicou-se ao ensino escolar. No inicio dos anos 40,depois da morte de Mario de Andrade e da sua mãe, se recolheu a sua chácara
em Diadema.
Anita Malfatti morreu na cidade de São Paulo en 1964.
textos extraídos da Wikipédia

ANITA MALFATTI


ANITA MALFATTI


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ANITA MALFATTI


ANITA MALFATTI - água-forte


ANITA MALFATTI - Retrato de Mario de Andrade óleo-


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ANITA MALFATI


ANITA MALFATTI


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ANITA MALFATTI - Retrato de Mario de Andrade - pastel


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