quinta-feira, 11 de abril de 2013

O frio ficou intenso, e um nó na garganta
parecia sufocá-lo. Wuayna Chacha teve certeza
de que seria incapaz de abandonar a sua amiga
fiel nessa hora.
Desarmado, o menino olhou pela última vez
a imponente cordilheira dos Andes. Tampou
os olhos de Wintata com a mão, apoiou o pé
na parede rochosa da montanha e num impulso
impetuoso se lançõu no abismo.
Um condor, que acompanhava atento
os movimentos de Wuayna Chacha, rapidamente
abriu as asas e mergulhou no precipício,
evitando assim a queda fatal do menino
e de sua lhama.

Cárcamo - "Thapa Kunturi: ninho do condor"


O condor retomou o vôo
num giro magistral em direção ao céu
e planou no topo da cordilheira
para depois arremeter num rasante
sobre o lago Titicaca.
Ao chegar bem perto da superfície,
abriu as garras  e libertou
seus amedrontados prisioneiros,
que caíram nas águas do lago
com grande estrondo.

Cárcamo - "Thapa Kunturi: ninho do condor"


Cárcamo - "Thapa Kunturi: ninho do condor"


Assustado, Wuayna Chacha acordou
com um frio chuvisco caindo em seu rosto.
Era tarde, o tempo tinha virado,
e uma nuvem cinzenta passava derramando
uma breve chuva na montanha.
Depois de espantar o sono, tratou de refletir
sobre o que tinha se passado, levantou-se e correu
para dar um abraço forte e demorado em Wintata,
que continuou a ruminar serenamente
alguma gramínea fresca que acabara de arrancar
entre as pedras da montanha.
Wuayna Chacha olhou para o céu e viu que o sol
voltara a acender em matizes púrpura o esplendor
do crepúsculo no topo da majestosa cordilheira.
Uma brisa suave e perfumada soprou em seu rosto,
devolvendo-lhe um sentimento de paz e felicidade
que confortou o seu coração.
O menino esfregou os olhos e sacudiu a cabeça
algumas vezes antes de retornar a sua aldeia.

Cárcamo - "Thapa Kunturi: ninho do condor"