...Germinava nos terraços
o milho das altas serras
e nas vulcânicas sendas
iam os vasos e os deuses.
A agricultura perfumava
o reino das cozinhas
e estendia sobre os tetos
um manto de sol debulhado.
(Doce raça, filha das serras,
estirpe e torre turquesa,
fecha-me os olhos agora,
antes de irmos ao mar
de onde as dores chegam.)
Aquela selva azul era uma gruta
e no mistério de árvores e treva
o guarani cantava como
o fumo que sobe na tarde,
a água sobre as folhagens,
a chuva num dia de amor,
a tristeza junto aos ríos.
No fundo da América sem nome
estava Arauco entre as águas
vertiginosas, apartado
por todo o frio do planeta.
Olhai o grande Sul solitário.
Não se vê fumaça nas alturas.
Vêem-se apenas as nevascas
e o vendaval rechaçado
pelas ásperas araucárias.
Não procures sob o verde fechado
o canto da olaria.
Tudo é silêncio de água e vento.
Mas nas folhas espia o guerreiro.
Entre os lariços um grito.
Uns olhos de tigre em meio
às alturas da neve.
Olha as lanças a descansar.
Escuta o sussuro do ar
atravessado pelas flechas.
Olha os peitos e as pernas
e as cabeleiras sombrias
brilhando a luz da lua.
Olha o vazio dos guerreiros.
Não há ninguém. Trina a diuca
feito água na noite pura.
Cruza o condor o seu vôo negro.
Não há ninguém. Escuta. Escuta a árvore,
escuta a árvore araucana
Não há ninguém. Olha as pedras.
Olha as pedras de Arauco.
Não há ninguém, somente as árvores.
Somente as pedras, Arauco.
Pablo Neruda - Canto Geral
tradução: Paulo Méndes Campos
O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
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