quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A imagem fotográfica e aquela que permite 
deter o olhar e deste modo fazer emergir
desejos e questionamentos, construindo
vínculos raros em nossas experiências mediáticas.
A relação da imagem fotográfica com seu referente,
ou com o real, no transcorrer dos tempos, desde os primórdios da fotografia aos dias atuais, pode ser lida
sob três aspectos: I - Como espelho do real - o discurso
da mimese - onde há semelhança entre a imagem fotográfica e o real. II - Como transformação do real -
o discurso do código e da desconstrução - que modifica
a imagem capturada por meio de cortes, cores 
e enquadramentos, posibilitando assim uma transformação
da realidade. III - Como índice, quando o retorno ao referênte é eminente, ou seja, o referênte adere. A foto
em primeiro lugar é índice. Só depois pode tornar-se
parecida e adquire sentido. Nos primórdios , o objetivo da fotografia era o de fixar imagens obtidas através da câmara escura, conhecida já por Leonardo da Vinci.
A descoberta de Daguerre, em 1839, causou extranhamento
e surpressa. As imagens traziam uma fidelidade com o real
e uma riqueza de detalhes jamais vista nas pinturas renascentistas, e que dificilmente as mãos de um pintor
alcançariam, Se os pintores renascentistas e mais tarde os
barrocos, investiam em uma perspectiva realista, jamais
pensaram na pintura como uma transposição direta do mundo concreto para a tela. A fotografia, devido a sua relação direta com o real, encantou um grande número de pessoas e provocou a ira e a desconfiança de vários críticos
e artistas. Dentre eles o poeta francés Charles Baudelaire.
O poeta acusa a fotografia como acusa a futilidade do burgués pela moda. Mesmo assim tinha entre seus amigos 
íntimos, o fotógrafo Félix Nadar, que defendia o caráter
artístico da fotografia. Ao criticar duramente a fotografia como arte, Baudelaire acreditava estar salvando a pintura 
de uma catástrofe. Ela seria um instrumento, um servidor
da memória, simples testemunho do que foi, seu papel seria, portanto, o de conservar o traço do passado ou o de auxiliar as ciências em seu esforço para uma melhor apreensão da realidade. A preocupação de Baudelaire era com o esquecimento da arte ocasionado pela mecanização
e industrialização da fotografia.
As reações contra a industrialização da arte se deram
no século XIX, por causa do afastamento da "criação" e do "criador", o que provocaria uma perda de sensações, realidades interiores e riqueza do imaginário de cada artista.
Pela primeira vez no processo de reprodução, a mão,
peça fundamental na construção artística, era excluída,
sendo superada pela fotografia, atribuições que agora cabiam unicamente aos olhos. Walter Benjamim, em
"A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica"
reflete sobre as grandes controversias do século XX, entre
pintura e fotografia, disse: "a fotografia permitiu que 
pintura entregasse o "testemunho. Isto anuncia um novo
rumo para a arte. Ela pode se desprender do real, não
precissa ser "testemunho", portanto, não precissa ser indicial". Há pintores que utilizaram a fotografia, ou melhor, se valeram do seu caráter indicial, do traço, pelo seu poder
de lembrança e consequentemente, pelo poder de retorno
ao referênte. Entre as tendências que se valeram da lógica
do índice, podemos mencionar o Surrealismo e a Pop Art.

Nenhum comentário: