domingo, 29 de junho de 2014

O PROCESSO DE TRABALHO

Quando regressei à Argentina, depois de viver
durante muito tempo na Espanha, estava com quarenta anos, e queria trabalhar sobre a minha identidade.
A fotografia, com a sua capacidade de congelar o tempo,
foi a minha ferramenta para faze-lo.
Comecei a revisar as minhas fotos familiares, as da juventude, as do colegio, e achei uma foto grupal da nossa
divisão do primeiro ano no Colegio Nacional de Buenos Aires, tirada em 1967.
Sentí a necessidade de saber o que tinha sido da vida de cada um dos meus ex companheiros, e decidí convocar
aqueles que conseguí localizar, para uma reunião na minha casa, depois de vinte e cinco anos, e lhes propus fazermos
um retrato de cada um. Ampliei em grande formato a foto de 67, a primeira, em que estávamos todos juntos, para servir de fundo aos retratos atuais, e resolví escrever em cima das
imagens, uma reflexão sobre a vida de cada um deles.
Mais tarde organizou-se um ato para lembrar os 98 companheiros que desapareceram ou foram assassinados pelo terrorismo de estado nos anos sombrios da ditadura. Depois de vinte anos, as autoridades do Colegio aceitaram pela primeira vez, que lembrassemos oficialmente na aula magna aos que faltavam. Foi um fato histórico.

Marcelo Brodsky

O Colegio Nacional de Buenos Aires foi fundado em 1772, e é o Instituto mais antigo
da República Argentina. Nele se formaram alguns protagonistas fundamentais da
história do país, como Mariano Moreno, Manuel Belgrano e Bernardino Rivadavia.

Na última ditadura militar argentina, a mais sanguinária de todas, denominada Processo de Reestruturação Nacional, que teve início em 24 de março de 1976
e se prolongou durante oito anos, até dezembro de 1983, foram desaparecidas
ou assassinadas 30.000 pessoas entre 1976 e 1978. 

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