terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O que eu não posso, aquí, é nestas ruas aceitar-me / digitado sem o perfil das minhas sombras / na sombra dos que não me vêem e se fizeram / cães de guarda do poder em que se alienam Estado e ideologias. / O que não posso é sentir-me em tudo isso e não ser / a ferida aberta na grande curva do horizonte / pelo uso dos medos que se fardam / com a escuridão acumulada nas injustiças da riqueza. / O que eu não posso é pensar tudo isso sem pensar-me / sob os vendavais de uma carta que se queima / no olho sempre aberto dos Guevaras deste século. // O que eu não posso é padecer isso tudo e não fazer-me / lenha a queimar-se no calor das praças. / Numa alegria passiva, alí, o povo é reunido / com anima enganada e ainda incônscio / de ser ele, com suas mãos e o seu suor, a força / que move nos porões da história principal / as alavancas do dia e o chão das coisas inventadas. / Mentirosos, os holofotes iluminam os atores e as atrices / das glórias de ter fingido o ser / a voz dos que são pobres, a voz dos que não têm / condições iguais de microfone e luz.

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