sexta-feira, 12 de novembro de 2010

1905 - "Três anos de martírios. Surras diárias. Há três anos, mais ou menos, chegou a esta capital, vinda do interior de um dos Estados vizinhos, a menor Claudomira, de 20 anos de idade, indo para a casa de uma familia residente à Rua Nora número 2-D. / Durante algum tempo foi essa moça, tratada relativamente bem, pois, no desempenho de suas ocupações, que era a de criada, se houve com geral agrado de todos. / Não gozou, entretanto, essa infeliz da paz que, na sua obscura existência, perenemente fazia vicejar a rósea claridade dos seus sonhos de moça. / A mais horrorosa situação, com todo o cortejo de ignomínias, lhe criou o atroz Destino. / Não lhe valeu o esforço sóbre-humano que empregava para libertar-se da pesada tarefa que lhe era dada nos vários serviços da casa, onde, sem causa que tal justifique, lhe aplicam o mais terrível castigo: o açoite! / Tudo tem suportado essa desgraçada. / Crente na misericôrdia divina, dominava-lhe a esperança de ver aplacada a fúria desumana de seus algozes. / Tudo em vão! Impedida de sair à rua, desde que aquí chegou, vive essa desventurada sob o jugo dos seus verdugos. / De tudo a vizinhança sabe. / Desde as primeiras horas da manhã, já se ouve, como fúnebre matina, as lúgubres pancadas do açoite! / E essa infeliz não grita: lamentos abafados, soluços de dor, essa macabra confusão com a voz do algoz, enchem de pavor a vizinhança. / É chegado o momento da redenção que terá lugar com a intervenção da polícia da 15a Circunscrição"

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