TRIMANO - GREGORY CORSO
Ilustração para "Puma No Zoológico De Chapultepec"
hidrográfica e esferográfica
2020
O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
TRIMANO - GREGORY CORSO
PUMA NO ZOOLÓGICO DE CHAPULTEPEC
Longo liso lento lépido gato macio
Qual marcação, que coreografia dançava você
quando eles pucharam a cortina final?
Como pode essa elegância sóbria permanecer
aquí tão sozinha, nesse palco 3 x 4?
Te darão ainda uma nova chance
para dançar outra vez pelas Serras?
Como você está triste; ao te observar
penso em Ulanova
trancada nalguma sala apertada com mobília
em Nova York, na 17.a Rua Leste,
no bairro porto-riquenho.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
ECCE HOMO
Por dentro das mãos e dos pés machucados
fragmentos de ferimentos antigos (quase cicatrizados)
como amêndoas negras em crostas
São resposta suficiente -
os pregos atravessaram o homem e atingiram Deus.
A coroa de espinhos (idéia soberba!)
e o ferimento lateral (uma atrocidade!)
penetraram apenas no homem.
Quantas vezes já vi isso pintado;
as mesmas injúrias,
provação exemplar; ecce signum
a mesma face abatida;
Já perdi a lembrança disso tudo.
Ó Theodoricus, juventude, imprecisão, a culpa é minha;
ainda assim é tua!
Tanta dor! é
impossível esquecer.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
NO TÚNEL-OSSADA DE CAMBRIDGE
Tomado pela loucura na estação-ossada
Crispando em minha maleta olho-dos-ossos
que hoje é sinistra com as lições de andar do passado
O painel-ossada com os horários indicou: Preto
Algemado a um ministro
Desembarcado de uma diesel estofada
O guarda-freios me fisgou a nuca: Destino, negro
Pela janela eu vi passar meu agente de estradas
saltitando pela plataforma
uma tocha lanterna-ossada na mão como alucinado -
Subam no carro, subam no carro, dando risadas
Já no interior do túnel-ossada encostei meus ouvidos
nos ouvidos do ministro escutando
o aço conversar com o vapor
e o vapor com o motor; escuro adiante
escuro adiante tudo preto e nada mais.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
O QUE É MEU BELO... E COISAS
Todas as belas coisas
Que tenho
Em cães mortos em celofanes embalados com fitas
E assim tão lindas que minhas
Em meus aposentos-túmulo de pó e sem coisas
Minha prática do momento
Quando vem a linda garota
Fazer que passe apertadinha no buraco da chave
Ou debaixo da porta se for velha
De jeito nenhum como mãe ou como puta
Ou cão sem maternidade
E eu vou levá-la para o que é meu belo
E coisas
Gostando dela em celofane com cordas
Como música para um mundo e não coisas
Mas não posso revelar minha pia suja
E suas coisas penduradas na chave para secar
Melhor estar sozinho que puta
Se fazendo de esposa em meu pó não embalado
Com nylon e galhos de chá e não coisas
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
REQUIEM PARA "BIRD" PARKER, O MÚSICO
trecho
A profecia chegou pelo correio:
Na última matança dos pássaros
Um pássaro de lugar nenhum restará
Este não poderá mais se lamentar
E o pássaro de lugar nenhum será um lento pássaro
Longo longo pássaro
Num quarto em algum lugar
Guardado
Dentro do quarto foi encontrado
encostado um velho sax
Com arroz num pacote
E BIRD, onde posso encontrá-lo?
primeira voz
ei cara, o BIRD morreu
enfiaram o sax num buraco qualquer
o sax jogado num canto qualquer
mas onde está o sax, cara, diz um lugar qualquer
segunda voz
Foda-se o sax
diz agora, onde está BIRD?
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
UM SENHOR DE IDADE DISSE QUE
UMA VEZ ESTEVE COM EMILY DICKINSON
Rosto inconsolado - rosto cheio tenso e pálido
Como de uma mulher bonita já morta - Ela olhou para
mim.
Com suas mãos compridas ela segurava a garganta
Seus cabelos escuros sedosos deitados como morcegos no
sono;
Não era a mim que ela estava olhando.
Ao me afastar ela ainda olhava para o mesmo lugar
...Mas nada havia para se olhar;
Quer dizer, nada que eu pudesse ver.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
PARQUE DA QUARESMA Nº 12
Esta casa é o espectro de estranhas coisas
que falam ao solilóquio de um passarinho
uma natural piedade está ali incubada.
Aquele velho sempre sentado à luz da vela
eu vejo o movimento de suas mãos
deitando cores, cores amassadas
como flores que caem das páginas de um livro.
Passei por sua janela um dia;
para vê-lo de perto
...o cara tinha mais de cem anos de idade;
Perguntei a ele se achava que ia chover,
ele falou: - não - e me deitou uma cor roxa na mão.
Ao me despedir
eu lhe disse que não era correto de sua parte
...aquela cor estava queimando.
tradução: Ciro Barroso