sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Montagem da exposição
POEMAS ILUSTRADOS
Galeria Manuel Bandeira 
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS 
de 6 a 23 de novembro de 2012
Rio de Janeiro

Trimano - "Poemas Ilustrados"


O poema ilustrado surge como prática habitual no meu desenho
a partir de 196, quando faço uma viagem aos pampa, na Argentina. Tinha
19 anos e recebia a influência dos mestres do realismo social, todos eles
desenhistas virtuosos e também ilustradores literários e de poetas. Foi nessa
viagem, na cidade de Santa Rosa, capital da Provincia de La Pampa, que conhecí
três poetas que mudaram o meu rumo, foram Ricardo Nervi, Edgar Morisoli
e Juan Carlos "el indio" Bustriazo Ortiz. Eu provinha do ãmbito urbano, e a
poesia rural praticada por eles, de intenso lirismo na evocação da paisagem
desértica e das agruras da sua gente, em constante êxodo por causa das secas,
determinaram meu trabalho desse período.
Juan Ricardo Nervi, era proveniente da cidade de Castex, colónia agrícola
formada por imigrantes italianos. Com ele a visitamos, e esa visita motivou uma 
série de desenhos em parceria com Nervi que compuseram a minha primeira exposição em Buenos Aires em 1964, que levou por título "Poemas en Blanco
y Negro - Jornadas de la Pampa Seca". Em 1968 viajo ao Brasil, e pouco a pouco
vou descobrindo a língua portuguesa na poesia musicada da MPB, que me abre
as portas para os poetas brasileiros. Muitas das ilustrações sobre música que fiz
nesse período, assim como os retratos dos compositores, estavam intimamente
ligadas a essa poesia. A poesia saia do livro e ia para a rua, assim como para mim
na ilustração, o desenho saia da galeria e ia para as bancas de jornais e revistas.
Em 1980 aconteceram dois fatos importantes para o meu trabalho: a encomenda
pelo Teatro dos 4, da produção visual do cartaz e o banner da peça "Rei Lear"
de Shakespeare, além dos retratos individuais dos atores da companhia organizada pelo lendãrio Sergio Brito; e as ilustrações autorizadas pelo poeta, de "A Paixão
medida" de Carlos Drummond de Andrade, pela editora José Olimpio.
Nos anos seguintes ilustrei o peruano César Vallejo, o uruguaio Mario Benedetti
e a serie "Radial X" sobre poemas de Leonardo Fróes. a série "Diário", exposta
na UERJ e na ABL em 2007, foi uma extensa série de desenhos que abordava a
temática da memória, e a realidade política que viveram nossos paises na década
de 70. Quando o conjunto ficou pronto, pontos de contato me fizeram acrescentar
cinco poemas do argentino Juan Gelman. Nessa exposição "Poemas Ilustrados",
estou mostrando, junto ao meu desenho, a poesia de Alexei Bueno, Marcus Mello,
Frederico Gomes, a argentina Marta Kelly e os clássicos, Machado de Assis e Afonso Lima Barreto. Nesse tempo de negação do sentimento, em que a arte ficou reduzida a um monte de pedras, redesenhar a palavra não será em vão.

LUIS TRIMANO  Rio de Janeiro 2012