O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
1904 - David Carvalho casa-se mais tarde com Clara, a quem
vem conhecer na festa dos Cardosos, na Penha, por ocasião
do São João. David, sem ofício certo, é tudo, mais ainda jogador,
bébedo,etc. Dá cabo dos 50 contos de Clara. / Clara enviúva e amiga-se
com José Portilho, pedreiro, 50 anos, e, quando sua filha Iracema foge
com um cabo de polícia, queixa a esta, relutâncias encontradas, e afinal,
abandona-a amigada com êste, e prostituição dela e morte na misericórdia.
José Portillo, envelhecido, não podendo trabalhar; Clara lava e engoma para
sustentá-lo, e no terreiro da estalagem em que moram ela canta uma trova
qualquer em um belo dia de sol.
1905 - "Três anos de martírios. Surras diárias.
Há três anos, mais ou menos, chegou a esta capital,
vinda do interior de um dos Estados vizinhos,
a menor Claudomira, de 20 anos de idade, indo para
a casa de uma familia residente à Rua Nora número 2-D. /
Durante algum tempo foi essa moça, tratada relativamente bem,
pois, no desempenho de suas ocupações, que era a de criada,
se houve com geral agrado de todos. / Não gozou, entretanto,
essa infeliz da paz que, na sua obscura existência, perenemente
fazia vicejar a rósea claridade dos seus sonhos de moça. /
A mais horrorosa situação, com todo o cortejo de ignomínias,
lhe criou o atroz Destino. / Não lhe valeu o esforço sóbre-humano
que empregava para libertar-se da pesada tarefa que lhe era dada
nos vários serviços da casa, onde, sem causa que tal justifique,
lhe aplicam o mais terrível castigo: o açoite! / Tudo tem suportado
essa desgraçada. / Crente na misericôrdia divina, dominava-lhe a esperança de ver aplacada a fúria desumana de seus algozes. / Tudo em vão!
Impedida de sair à rua, desde que aquí chegou, vive essa desventurada
sob o jugo dos seus verdugos. / De tudo a vizinhança sabe. / Desde as
primeiras horas da manhã, já se ouve, como fúnebre matina, as lúgubres
pancadas do açoite! / E essa infeliz não grita: lamentos abafados, soluços
de dor, essa macabra confusão com a voz do algoz, enchem de pavor
a vizinhança. / É chegado o momento da redenção que terá lugar com a
intervenção da polícia da 15a Circunscrição"
1905 - Vai se estendendo, pelo mundo, a noção de que há umas certas raças superiores e outras inferiores, e que essa inferioridade, longe de ser transitória, é eterna e intrínseca à própria estrutura da raça. / Diz-se ainda
mais: que as misturas entre essas raças são um vicio social, uma praga
e não sei que cousa feia mais. / Tudo isto se diz em nome da ciência e a
coberto da autoridade de sábios alemães. / Eu não sei se alguém já
observou que o alemão vai tomando, nesta nossa lúcida idade, o prestígio
do latim na Idade Média. / O que se diz em alemão é verdade transcendente.
Por exemplo, se eu dissesse em alemão - o quadrado tem quatro lados -
seria uma cousa de um alcance extraordinário, embora no nosso rasteiro
portugués seja uma banalidade e uma quase-verdade. // E assim a cousa
vai se espalhando, graças a fraqueza da crítica das pessoas interessadas,
e mais do que à fraqueza, à covardia intelectual de que estamos apossados
em face dos grandes nomes da Europa. Urge ver o perigo dessas idéias,
para nossa felicidade individual, e para nossa dignidade superior de homens.
Atualmente, ainda não saíram dos gabinetes e laboratórios, mas amanhã,
espalhar-se-ão, ficarão à mão dos políticos, cairão sôbre as rudes cabeças
da massa, e tal vez tenhamos que sofrer matanças, afastamentos humillantes, e os nossos liberalíssimos tempos verão uns novos judeus.
Os séculos que passaram não tiveram opinião diversa
a nosso respeito - é verdade; mas, desprovidas de qualquer
base séria, as suas sentenças não ofereciam o mínimo perigo.
Era o preconceito; hoje é o conceito. / Esmagadoras provas
experimentais endossam-no. Se F. tem 0,02 m a mais no eixo
maior da oval de sua cabeça, não é inferior em relação a B,
que tem a menos, porque ambos são da mesma raça; contudo,
em se tratando de raças diferentes, estão aí um critério de
superioridade. / As mensurações mais idiotas são feitas, e,
pelo complacente critério do sistema métrico, os grandes sábios
estabelecem superioridades e inferioridades. / Não contentes com isso,
buscam outros dados, os psíquicos, nas narrações dos viajantes
apressados, de touristes imbecis e de aventureiros da mais baixa
honestidade.
1908 - No dia 2, fuí a casa de M... A... Êle vive
amancebado com uma rapariga portuguêsa,
de vinte e quatro anos, por aí. Tenho ido lá
varias vêzes, sempre cheio de suspeitas que
me queiram armar alguma cilada. Ê bêsta e
infantil tal suposição. Eu não compreendo a ligação
dos dous. Êle quase não dorme lá, passa dias sem lá ir;
sob os pretextos mais infantis, passa as noites fora.
Corre que tem outra amante; suspeito que tem um sócio na mulher...
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