terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

VAN GOGH / Desenhista

"Mulher de Scheveningen" - croqui,tinta - La Haye 1882

VINCENT VAN GOGH - Goot Zunder - Holanda 1853 / Auvers-sur-Oise - França 1890 / Post-Impressionista. / Maior referência do Expressionismo, Van Gogh travou uma luta contra os covencionalismos, pela exaltação de sentimentos e significados simbólicos, expressos nos autorretratos e nas pinturas de paisagens. Travou também uma outra luta contra as perturbações epilépticas agravadas pelo uso de absinto, que acabaram por leva-lo a cometer suicidio aos 37 anos. Estuda pintura na Holanda com seu primo, Anton Mauve (1808 - 1888). É nomeado pastor em Borinage, região mineira da Bélgica, que acaba em fracaso. Por volta de 1886 chega em París, onde descobre o Impressionismo. Mesmo observando a rigorosa disciplina que se impós, na preocupação pelo dominio técnico, e de ter adquirido conhecimentos eruditos em arte e literatura, seu trabalho esteve, desde o inicio aparentado a pintura dos Naifs e dos doentes mentais. De educação rigidamente protestante (seu pai era pastor), costumava associar passagens evangélicas aos seus quadros. Neles, exalta com exuberância suas impressões sobre a natureza influenciado pelas estampas japonesas de mestres como Hokusai e Hiroshigue. Os comentários sobre seu processo de trabalho constam das famosas cartas ao seu irmão Theo. (Ampliar clicando sobre as imagens para sentirmos a força e a velocidade da execução do desenho. Ao mesmo tempo a "luta" quase que "corporal" pelo dominio da técnica.)

"Estrada na campina - de Loodsduinen a La Haye" - carvão e tinta, bico de pena - 26 x 33,5 cm - La Haye 1882

Pode-se proclamar a boa saúde mental de Van Gogh, que durante toda a sua vida somente assou uma das mãos e, além disto, não passou de cortar a orelha esquerda. / Em um mundo em que todos os dias as pessoas comem vagina cozida na salsa verde ou sexo de recém-nascido, flagelado e enfurecido arrancado assim como sai do sexo materno, e não se trata de uma imagem mas de um fato muito freqüente, repetido diariamente e cultivado em toda a extensão da terra. É assim que se mantém - por delirante que possa parecer tal afirmação - a vida presente, na sua velha atmosfera de estupro, de anarquia, de desordem, de desvario, de descalabro, de loucura crônica, de inércia burguesa, de anomalia psíquica (porque não é o homem mas o mundo que se tornou anormal), de desonestidade deliberada e insigne hipocrisia, de sujo desprezo por tudo que cheira à nobreza, de reivindicação de uma ordem inteiramente baseada no cumprimento de uma primitiva injustiça, em resumo, do crime organizado. As coisas vão mal porque a conciência doente tem o máximo interesse, neste momento, em não sair de sua doença. / Desta maneira, uma sociedade deteriorada inventou a psiquiatria para defender-se das investigações de alguns iluminados superiores, cujas faculdades de adivinhação a incomodavam. Não, Van Gogh não era louco,mas seus quadros eram misturas incendiárias, bombas atómicas, cujo ángulo de visão comparado com o de todas as pinturas que faziam furor na época, teria sido capaz de transtornar gravemente o conformismo larval da burguesia. / ANTONIN ARTAUD / 1947 - Trecho extraido do livro "Van Gogh, o suicidado pela sociedade"

"Estudo de uma árvore" - crayon e aquarela - 50 x 69 cm - La Haye 1882

"Sorrow" - crayon - 45,5 x 29,5 cm - La Haye 1882

Tinha acordado cedo e vi os operários que chegavam na obra com um sol magnífico. Tu terias gostado de ver o particular aspecto desse rio de personagens negros, grandes e pequenos, primeiro na rua estreita onde havia muito pouco sol e depois na obra. Mais tarde tomei o café da manhã composto de pão seco e um copo de cerveja; é uma forma que Dickens recomenda aos que estão a punto de se suicidar, para afasta-los durante algum tempo do seu projeto... E mesmo que não estejamos com disposição de espírito para realiza-lo, e uma boa prática para meditar de quando em vez no quadro de Rembrandt "Os peregrinos de Emaús" / Cartas a Theo - Amsterdam 1877

"Ancião de casaco e cartola" - lápiz litográfico preto, tinta e bico de pena - 46 x 26 cm - La Haye 1882

"Página de croqui" - tinta - La Drenthe 1883

"Camponeses arando" - croqui,tinta - La Drenthe 1883

Pouco tempo atrás fiz uma excursão muito interessante, tendo passado seis horas numa mina. / É uma das minas mais velhas e perigosas dos arredores, chamase Marcasse. Esta mina tem má reputação por causa dos muitos acidentes acontecidos nela, tanto na descida como na ascensão, por causa do ar asfixiante e as explosões de gas grisú, da água subterránea e do afundamento de antigas galerias. È um lugar sombrío e a primeira vista tudo tem um aspecto melancólico e fúnebre. / Os operários desta mina são geralmente pessoas exauridas e febris, de aspecto fatigado, gastado, velho antes do tempo, as mulheres em geral estão descoloridas e murchas. Em volta da mina estão as moradias miseráveis dos mineiros, com algumas árvores mortas, fileiras de arbustos, montes de lixo e cinzas, montes de carvão inservível. Maris teria feito um quadro admirável. ______________________________________________________________ Não conheço melhor definição da palavra arte que esta: "Arte é o homem agregado à natureza"; a natureza, na realidade, na verdade, mas com um significado, com um conceito. com um caráter, que o artista faz ressaltar, da expressão "que redime", que desembaralha, liberta, ilumina. / Um quadro de Mauve ou de Maris ou de Israels fala mais claramente que a própria natureza. _______________________________________________________________ Uma melhora na minha vida - não aspirava, não tinha necessidade dela por acaso? - Quisera melhorar ainda mais. Precisamente porque o aspiro, tenho medo de "remédios piores que o mal". Podemos ser rigorosos com um doente depois que descobre o valor do seu médico, ou se prefere não ser curado ao contrário por um charlatão? / Cartas a Theo - Borinage 1879 - 1880

"Pescadores na praia" - croqui - tinta, bico de pena - La Haye 1882

"Personagens nas ruas de Nuenen" - croqui, carvão - 35,5 x 20,5 cm - Nuenen 1885

"Lavoura e moinho" - carvão - 44,5 x 56,5 cm - Nuenen 1885

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Não posso me cuidar daquilo que as pessoas pensam de mim, é necessário que continue "adiante", é nisto que devo pensar. / La fora está tudo muito triste, os campos são blocos de terra negra com um pouco de neve, e a miude jornadas nas quais não à mais que bruma e lodo; no entardecer, o sol vermelho, e na manhã os corvos, a relva resecada e a verdura murcha que apodrecem, pequenos bosques negros e os galhos dos álamos e dos sauces ourizados, contra um céu triste, como uma massa de arame farpado. Isto, só o enxergo de passagem, mas está completamente em harmonia com os interiores muito sombrios nestas escuras jornadas de inverno. / Está também em harmonia com as fisionomias dos camponeses e dos tecelões. Não os escuto se queixarem, mas levam uma vida muito rude. Suponhamos um tecelão que trabalha muitas horas, que faça uma peça de sesenta varas numa semana. No entanto ele tece, é necessário que uma mulher enrole a linha nos carreteis; ou seja, são duas pessoas as que trabalham e devem viver desse trabalho. Sobre esta peça, o tecelão ganha, nessa semana, quatro florins e meio, e quando a entrega ao fabricante, costumam lhe dizer que só receberá outra peça para tecer em oito ou quince dias. Conseqüentemente, o salário é baixo e o trabalho escasso. Por causa disto, essa gente costuma viver nervosa e irrequieta. É um estado de ánimo diferênte ao que conhecí nos mineiros, num ano em que ouve greve e muitos acidentes. / Cartas a Theo - Nuenen 1883 - 1885