segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

detalhe

Horacio Cardo

Ilustração editorial

Xul Solar

"Casal" - aquarela - 1923

Victor Delhez

Autorretrato - aguaforte

Roberto Paez

Retrato de Ezra Pound - carvão

Luis Trimano

"Samba-Blues" - guache - (detalhe) - 1985/86 Rio de Janeiro

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Zdravko Ducmelic

"Paisagem Imaginária" - técnica mixta - 1988

Juan Carlos Distefano

"Cabalgata" - poliester sobre suporte de lona - (detalhe) - 1966

Hermenegildo Sabat

Retrato de Jean Dominique Ingres - aquarela

Juan Manuel Sanchez

"Fábrica" - óleo sobre tela

Mario Mollari

"Maternidade Indígena" - óleo sobre tela

Luis Felipe Noé

"A Perda do Paraíso" - acrílico e óleo - (detalhe) - 1988

Pascual Di Bianco

Estudo de cabeça - lápiz

Carlos Clémen

Ilustração editorial - pastel e nanquim

Ricardo Carpani

"Cabeça de homem" - óleo sobre tela

César López Claro

"La Mordaza" - linoleum - 1997

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Alberto Cedrón

Capa do disco "Fábulas" de Juan Gelman e Juan "Tata" Cedrón - nanquim e guache 1971

Antonio Seguí

"O monte Champaqui em janeiro" - óleo 1984

Lajos Szalay

"A Família" - nanquim 1966

Carlos Gorriarena

"Besa manos" - (Beija mãos) - crayón 1979/80

Jorge de la Vega

"You're Welcome" - (Seja Bem Vindo!) acrílico - 1967

Carlos Alonso

"La oreja de Van Gogh" - acrílico sobre tela - 1.20 x 1,80 mts - 1972

detalhe

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

PASQUIM / Registro

Pasquim - Ilustração: Trimano

Em 1985, "mestre" Jaguar, editor do "Pasquim", jornal tabloide que se caracterizou pela defesa da liberdade de expressão num período de violenta censura, me convidou para cuidar da edição de ilustração do jornal, que nessa nova fase, contou com projeto gráfico de Oswaldo Miranda, o "Miran", editor da revista GRÁFICA Internacional, de Curitiba A advertência do Jaguar foi: vamos chamar gente nova, vamos publicar tudo mundo, os desenhistas que carecem de espaço para mostrar os seus trabalhos. Nada de panelinhas, as panelinhas embrutecem!.. Aquí, algumas páginas produzidas naquele tempo, e o texto oportuno de Noam Chomsky. / Trimano 2010

Pasquim - Ilustração: Trimano - detalhe da cabeça do menino, sobre foto de Maureen Bisilliat

Pasquim - Ilustração: Tom Werner

10 ESTRATÊGIAS DE MANIPULAÇÃO MEDIÁTICA - NOAM CHOMSKY
1 - "A ESTRATÊGIA DA DISTRAÇÃO" / O elemento primordial do controle social, é a estratêgia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, divulgando constantemente, informações sem real importância. / A estratêgia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais nas áreas de ciência, economia, psicologia ou neurobiologia. / Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas superficiais. / Manter o público ocupado, ocupado, ocupado..., sem nenhum tempo para pensar. / Extraido de "Armas Silenciosas Para Guerras Tranqüilas"

Pasquim

2 - "CRIAR PROBLEMAS E DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES" / Éste método também é chamado: "problema - reação - solução": Se cria uma "situação" prevista para causar determinada reação no público, com a finalidade de que éste seja o demandante das medidas que se deseja impor. / Por exemplo: deixar que se desenvolva e se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos para causar a impressão de que o público é demandante da "política da segurança" com prejuizo das liberdades individuais. / Provocar uma crise económica para conseguir a aceitação como sendo "um mal necessário", o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

Pasquim - Ilustração: Cándido Portinari - crayón

Pasquim - Ilustração: Trimano / Sobre fotograma do filme "O País de São Sarué" de Vladimir Carvalho - 1971

3 - "A ESTRATÊGIA DA GRADUALIDADE" / Para fazer com que se aceite uma medida inaiceitável, basta aplicá-la gradualmente, por contagotas durante anos consecutivos. Foi dessa maneira que condições socio-económicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. / Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade laboral, desemprego em massa, salários que já não garantem ingressos decentes. / Tantas mudanças teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma vez só, não da forma gradual, como foi feito.

Pasquim - Ilustração: Trimano - Retrato do compositor Zé Keti - nanquim - 1985

Pasquim - detalhe

4 - "A ESTRATÊGIA DE DIFERIR" / Outra maneira de se impor uma decisão impopular é, apresentá-la como "dolorosa mas necessária", obtendo a aceitação pública no momento atual, para uma aplicação futura. / É mais fácil aceitar um sacrifício futuro, que um sacrifício imediato. Primeiro: porque o esforço não é empregado de imediato. Segundo: porque o público, a massa, costuma têr a tendência de pensar ingenuamente que: "tudo vai melhorar amanhã", e o sacrifício exigido "poderá ser evitado". / Isto da mais tempo para se acostumar com a idéia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar a hora.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Pasquim - Ilustração: Käthe Kollwitz

5 - "SE DIRIGIR AO PÚBLICO COMO SE FOSSEM CRIATURAS DE POUCA IDADE" / A maior parte da publicidade dirigida ao grande público, utiliza discurso, argumentos, personagens e entoação particularmente infantis, muitas vezes próximas da debilidade mental. Como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, maior a tendência em adotar um tom infantil. Porqué? Se nos dirigirmos a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, ela tenderá, por causa da sugestienabilidade, a formular uma resposta mais infantil ainda, desprovida do senso crítico de um adulto.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pasquim - ilustração: Claudio Tozzi

6 - "UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS QUE A REFLEXÃO" / Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para provocar um curto-circuito na análise racional e, finalmente, neutralizar o senso crítico dos individuos. / Por outra parte, a utilização do registro emocional permite abrir a porta do inconsciente para implantar ideias, desejos, medos e compulsões, e induzir determinados comportamentos.

Pasquim - ilustração: Trimano

7 - "MANTER O POVO NA IGNORÂNCIA E A MEDIOCRIDADE" / Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e métodos utilizados para o seu controle e escravidão. / A qualidade da educação dada as classes sociales "consideradas" inferiores, deverá ser a mais pobre e mediocre possível, fazendo com que a distância entre as classes "consideradas" altas permaneça inalterável no tempo e seja impossível de se alcançar uma auténtica igualdade e oportunidades para todos.

Pasquim - ilustração: Walter Vasconcellos

8 - "ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE COM A MEDIOCRIDADE" / Alimentar no público a crença de que: "está na moda" ser vulgar e inculto, mal falado, admirador de gente sem talento algum, desprezando o intelectual, exagerando o valor do culto ao corpo, e o desprezo pelo espiritual...

Pasquim - Ilustração: Brad Holland

9 - "REFORÇAR A AUTOCULPABILIDADE" / Fazer com que o individuo acredite que somente êle é o culpado da sua desgraça por causa da sua pouca inteligência e da incapacidade dos seus esforços. / Assim, em lugar de se revoltar contra o "sistema" económico e social, o individuo culpa a si mesmo. / Isto gera um estado depressivo que acaba inibindo a sua ação. / Sem ação, não haverá reação nem revolução.

Pasquim - ilustração: Trimano

10 -"CONHECER OS INDIVIDUOS MELHOR DO QUE ÊLES MESMOS SE CONHECEM" / No percurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado um distanciamento cada vez maior entre os conhecimentos do público e os conhecimentos posuidos e utilizados pelas elites dominantes. / Graças a biologia, a neurobiologia e a psicologia aplicada, o "sistema" têm disfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto na forma física como na psicologica. / o "sistema" têm conseguido conhecer melhor o individuo comúm do que êle se conhece a si mesmo. / Isto significa que na maior parte dos casos o "sistema" exerce um controle maior e um grande poder sobre os individuos, maior que o controle que êles têm sobre si mesmos.

Pasquim - ilustração: Trimano

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MARCIA "Z" BRAGA
"Na vida, como na vida profissional, a liberdade é o objetivo principal" / J. CARLOS

"Z" - Ronald Reagan - lápiz de cor

Quem é esse aí? - perguntava com um sorriso de zomba o editor de conhecido matutino carioca olhando para um desenho de Cassio Loredano. Ao que ele respondia sério e já perdendo a paciência: - "Esse aí, é um desenho sobre a cara de fulano de tal..." - "Você está louco, esse aí não é fulano de tal, nunca na vida!" - retrucava o editor, e acresentava! - "Eu não vou publicar isso aí, de jeito nenhum!" - Fazia bastante tempo que os dois estavam nessa conversa, e o Loredano entendendo que o outro não ia aceitar mesmo o seu trabalho." - "Então publica uma foto!" - arrematou, cabreiro. Dito isto, sentou-se na ponta da mesa do editor, e começou a arrancar, com os dentes, diminutos pedaços do desenho, que mastigava e cuspia sistematicamente no chão. Minutos depois, um picadinho de partículas de papel branco se espalhavam por cima das mesas, das cadeiras, e em volta, no chão. O desenho, uma abstração do líder africano Patrice Lumumba, tinha virado picadinho, para surpressa da redação , e angústia minha. Saímos do jornal e fomos encher a cara de cerveja no bar mais próximo. Um belo trabalho tinha se perdido, mas, em compensação, naquela noite o Cassio interpretou no balcão do bar, acompanhado de uma caixa de fósforos, o repertório quase completo de Noel Rosa... Era o ano de 1976, outros tempos, outras conversas, e outros editores, mas a discussão continua sendo a mesma.

"Z" - Paulo Maluf - lápiz

De lá para cá, foram surgindo novos profissionais, tentando levar em frente aquela proposta que parecia tão descabelada aos editores, e que ainda hoje pode parecer a alguns. O mercado de trabalho mudou e, aquilo que há 10 anos atrás foi força e talento na imprensa brasileira, se transformou na imprensa televisiva, esvaziando assim em muito o jornalismo escrito. Vazio, rotina, deserção e até justificado desânimo, aconteceu com muita gente. Mas também aconteceram mudanças nos critérios e nas formas de expressão.

"Z" - "Paulo e Chico Caruso" - lápiz

Hoje, em plena metade da década de 80, estamos com tudo por se fazer novamente!.. Marcia "Z" Braga, não terá que mastigar os seus desenhos até virarem picadinho e jogar na cara dos editores, nem terá que se dedicar a outra profissão, pois a qualidade do seu trabalho está aí para testemunhar permanência. Mas, como ela não copia o Sr David Levine, nem busca inspiração nas páginas da revista Graphis, é bem possível que ainda leve algum tempo para impor a vertente surrealista do seu traço. Como Loredano, Marcia "Z" Braga constroi um desenho independente de lugares comuns ou servilismo ilustrativo. Isto exigirá uma interpretação inteligente e também um conceito "progressivo" (e olha que digo "progressivo" e não "pogressista"...) da visualidade na ilustração para imprensa.

"Z" - Mário Kertesz - lápiz

Depois de uma rápida passagem como repórter da TV Globo, e uma experiência profissional desagradável na imprensa baiana, em Salvador, decide abandonar definitivamente o jornalismo escrito para se dedicar ao desenho. Em 1985 ganha o primeiro prêmio de caricatura no Salão de Humor de Volta Redonda e mais três prêmios nos seguintes salões de humor: de Piracicaba, com uma caricatura de Janio Quadros, do Piauí, com caricatura de Risoleta Neves, e de Franca, com caricatura de Roberto Gusmão. Em 1986 organiza uma exposição dos seus desenhos em Salvador, BA, recebe o prêmio de imprensa no Salão de Piau com caricatura de Abi-Ackel, e participa dos salões de Volta Redonda, Piracicaba e Recife. De volta ao Rio conhece, conhece os irmãos Chico e Paulo Caruso, que fazem o contato de "Z" com Tarso de Castro, e começa a publicar no "O Nacional" Foi um assombro ver seus primeiros desenhos publicados. Paramos para saber quem era esse desenhista que despontava com um traço diferente. Ficamos intrigados com a assinatura, um "Z" misterioso e rasgado a maneira do "Zorro". Depois que fomos descobrir que era uma menina. Quando a entrevistamos para esta página, suas palavras finais foram: "Tem que dar certo. Se não der certo, não vou ser nem contorcionista nem cantora lírica. É provável que empunhe uma tesoura e seja encontrada num cabeleireiro de luxo, cegando a minha lâmina nos cabelos de peruas e mocréias..." Trimano / 87 _______________________________________________________________ ...não deu certo... / Trimano 2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

AFONSO LIMA BARRETO / Sôbre a Carestia

Trimano - "Indigente" - nanquim

As varias partes do nosso complicadíssimo govêrno se têm movido para estudar e debelar as causas da crescente carestia dos gêneros de primeira necessidade. As greves que têm estalado em vários pontos do país muito têm concorrido para êsses passos do Estado. Entretanto, a vida continua a encarecer e as providências não aparecem. / Não há necessidade de ser muito enfronhado nos mistêrios das patifarias comerciais e industriais, para ver logo qual a causa de semelhante encarecimento das utilidades primordiais à nossa existência. / Nunca o Brasil as produziu tanto e nunca elas foram tão caras. O plantador, o operário agrícola continua a ganhar o mesmo; mas o consumidor está pagando pelo dôbro. Quem ganha? O capitalista. Êle e ùnicamente êle, porquanto o fisco mesmo continua a receber o mesmo que antigamente. / O açúcar, por exemplo, que descera de preço nestes últimos anos, é um caso típico da ladroeira capitalista, da mais nojenta. / Os usineiros e os seus comparsas, comissários, etc, no intuito de esfolarem a população nacional ou residente no Brasil, descobriram que o melhor meio de o fazerem era vender grandes partidas, para o estrangeiro, pela metade do preço que as vendem aquí. / Semelhantes patifes, com as teorias econômicas da Escola do Pinhal de Azambuja, dizem que, se não fizessem tal coisa, seria a debâcle do seu negócio. Isto veio escrito nos jornais, com aquela arrogância peculiar a fazendeiros, especialmente os de cana, e fabricantes de açúcar. É o que êles chamam o "alivio". Nada mais absurdo e mais bêsta. Todo o fito do aperfeiçoamento das nossas máquinas, dos nossos processos industriais (é o caso do açúcar), tem sido produzir muito, rápidamente, para vender barato, de modo que o lucro, por mais insignificante que seja em um quilo, somado nas toneladas, dê, por fim, um lucro fabuloso. / O P. aí da Casa Colombo, sabe bem disso, no tocante ao seu comércio, pois afirma que a sua divisa é "vender muito, para vender barato". / Se o açúcar que êles vendem à República Argentina fõsse lançado nos nossos mercados, o pequeno lucro que desse, junto ao obtido com aquêle que até agora fica aquí, seria suficiente para remunerar o capital mais judeu dêste mundo. / Não é necessário ir buscar autoridades em finanças e economia política, para demonstrar coisa tão evidente. / Entretanto, a ganância, o cinismo, a desfaçatez, a alma de piratas dos caciques do açúcar não querem ver isto e esfomeiam os seus patricios. Por falar em patria... / A pátria é um laço moral, dizem; mas, quando os Z.B., os P.L. e outros rompem êsses laços, de forma tão bucaneira, como acabo de mostrar no caso do açúcar, de que modo posso mais respeitá-los, a êles, nas suas vidas e nos seus haveres? Creio que me acho desobrigado de tôda e qualquer prisão moral com semelhantes patifes. / Em presença dêles, devo proceder como em presença do salteador que me toma os passos, em lugar êrmo, e me exige os níqueis que tenho no bôlso. / Só há um remédio, se não quero ficar sem os magros cobres: é matá-lo. / Não há necessidade, entretanto, de o fazer, na parte relativa a êsses cínicos do açúcar e outros. Semelhante gente não se incomoda em morrer: incomoda- se em perder dinheiro ou em deixar de ganhá-lo. É tocar-lhes na bôlsa, que êles choram que nem bezerros desmamados. / O povo até agora tem esperado por leis repressivas de tão escandaloso estanco, que é presidido por um ministro de Estado. Elas não virão, fique certo; mas há ainda um remédio: é a violência. / Só com a violência os oprimidos têm podido se libertar de uma minoria opressora, ávida e cínica; e, ainda, infelizmente, não se fechou o ciclo das violências. / Quando um ministro de Estado, como o R. o é, cuja missão, na especialidade do seu departamento, é prover às necessidades gerais da população, atender aos seus clamores, impedir a opressão de uma classe sõbre as demais, regular o equilíbrio das forças sociais, se faz caixeiro ou chefe de trust, para esfomear um país, não há mais para onde apelar senão para a violência, para a brutalidade da força! / Não há outra esperança, pois êles dominam todo o mecanismo legal - o congresso, os juizes, os tribunais - e tudo isto só fará o que êles quiserem, e seria vão socorrermo-nos dêsse aparelho.
É doloroso chegar a semelhante conclusão; é doloroso ver tanto sangue generoso derramado, tanta lágrima chorada, tanto estudo, tanta abnegação, tanto sacrifício, tanta dor de grandes homens e daqueles que os amaram e apoiaram, é doloroso, dizia, ver acabar tudo isto nas mãos de um tipo, alvar, idiota, ignogante, cúpido e cínico, como Z.B., para, com o trabalho de tantas gerações e a meditação de tantos sábios, trabalho e meditação que estão nas máquinas de suas usinas e nos processos do fabrico, esfomear um país e rir-se de sua miséria. / Nós sabemos porque êle ri-se; é porque conta com a força armada para apoiar o seu saque legal. / Mas, B., é bom não contar com ela sempre. O soldado obedece sem saber, tal vez; mas o oficial sabe ler e, quando se convencer de que pode comprar o teu açúcar ao quilo, dando-te lucro, por $500 pois tu por êsse preço o vendes ao argentino, êle não comandará a descarga sôbre os desgraçados que forem expropriar os teus armazèns de açambargador ministerial. / "Rira mieux qui rira dernier"... / O que fica aí dito pode-se aplicar ao feijão, com M. à frente; à carne verde, com o açougueiro A.P. e o seu caixeiro viajante G.A., ambos à testa da especulação indecente das carnes frigorificadas, fornecidas, a baixo preço, aos estrangeiros, enquanto nós, aqui, pagamos o dôbro pelo quilo da mesma mercadoria; e assim por diante. / Meditem que êles mesmos ou os seus prepostos são os fabricantes das leis e, à sombra delas, estão organizando êsse torpe saque à miséria dos pobres e a mediania dos remediados, sem dó nem piedade, sem freio moral, religioso, filantrópico, patriótico, cavalheiresco ou outro de qualquer natureza; e digam se podemos nós outros, que sofremos as agruras da sua crueldade gananciosa, da sua avidez cínica, da sua imunda traficância, ter em relação a êles qualquer prisão por laços morais, religiosos, patrióticos, cavalheirescos ou outros quaisquer? / Todos êles estão rompidos, todos êles não existem mais, e tôda e qualquer violência, sôbre êles ou sobre as suas propriedades, é justa e legítima. / É, porém, preferível sôbre os teres e haveres, antes do que sôbre as suas pessoas, pois só assim êsses Shylocks chorarão como bezerros ou bezerros desmamados. / A nossa república, com o exemplo de São Paulo, se transformou no domínio de um feroz sindicato de argentários cúpidos, com os quais só se pode lutar com armas na mão. Dêles saem tôdas as autoridades; dêles são os grandes jornais; dêles saem as graças e os prilégios; e sõbre a Nação êles teceram uma rêde de malhas estreitas, por onde não passa senão aquilo que lhes convém. Só há um remédio: é rasgar a rede á faca, sem atender a considerações morais, religiosas, filosóficas, de qualquer natureza que seja. "Alea jacta est"... / O Debate - Rio de Janeiro 1917