segunda-feira, 11 de novembro de 2013

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LUCIANO FEIJÃO  
SÉRIE "DESERTO GRÁFICO"
O desenho não é somente uma coisa mental.
O desenho tem a memória do pulso,
do corpo que é capaz de alterar o que a mente planeja,
porque não somos uma máquina que reproduz mecanicamente
o que foi programado.
Esta memória do corpo no desenho tem a precisão de um instrumento,
uma mecânica de expressão. É com ela que o artista desenhista
elabora na prática seu pensamento e que, por vias diversas,
é capturado pelo olhar e transformado em memória.
O desenho assim como a pintura é uma prática solitária.
Um desenho é ainda mais próximo do que nominamos como pensamento,
por isso tão perto também de quase nada.
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Suas figuras parecem querer representar mais de uma personagem
buscando a habitabilidade neste mundo, que quer povoar este deserto interior
esquartejando-se e duplicando-se, e, novamente,
é remontada em uma nova configuração.
Um personagem que se duplica em varios e acaba por se transformar em nenhum.
A identidade passa do conteúdo para o traço,
uma tarefa árdua no processo do artista em reproduzir estas dez pranchas.
Feijão torna suas figuras torturadas numa paisagem de corpos
trabalhados obsessivamente com hachuras.

JULIO TIGRE

extraído do texto: "Dois caminhos, um deserto", produzido para o catálogo da exposição
"Deserto Gráfico" - Luciano Feijão & Gabriel Albuquerque - Vitória, ES - 2012

Luciano Feijão - Série "Deserto Gráfico" - nanquim ---