O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado.
Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
Mil novecentos e setenta e um tanta gente /na estrada de Jessore sob um sol inclemente /Quem não consegue fugir pra Calcutá /Do Paquistão Oriental acaba morrendo por lá
Táxi setembro carroça de carvão nessa estrada /Por esqueletos de boi rumo a Jessore sendo puxada /pista sulcada de chuva, campos inundados /Árvores sujas de bosta, casebres plástico nos telhados
Úmidas caminhadas Famílias ao léu /Meninos mudos mirrados só a cabeça cresceu /Veja crânios ossudos & olhos redondos silentes /Anjos negros esfomeados disfarçados de gente
Mãe de cócoras mostra os filhos chorosa /Pernas magrinhas parecem freiras idosas /corpinhos miúdos mãos à boca em prece /Há cinco meses que comida por lá não aparece
ao lado da panela vazia numa esteira deitado /O pai levanta os braços ele está desesperado /Vêm lágrimas aos olhos cansados de sua mulher /A dor faz a mãe Maya chorar & sofrer
Duas crianças juntas na sombra paradas /Me olham fixamente permanecem caladas /Uma vez por semana, leite arroz e lentilhas /É tudo que a guerra dá às crianças suas filhas
Ao pai falta comida dinheiro e trabalho também /O arroz dura quatro dias é comer enquanto tem /As crianças passam três dias sem se alimentar /e depois vomitam quando comem se não comem devagar
Na estrada de Jessore ajoelhada a minha frente /Mulher chorando disse em bengali ajuda a gente /O cartão de identidade foi rasgado sem querer /Meu marido foi na agência mas ninguém quer atender
Eu estava ocupada o neném pegou o cartão /Agora não querem mais dar comida pra nós não /Trago aquí na minha bolsa os pedaços guardados /Uma brincadeira de criança e estamos desamparados
Dois policiais cercados por milhares de meninhos /Esperam anciosos pra ganhar alguns pãezinhos /Os policiais têm apitos & porretes pra impor respeito /& manter a desciplina Mas os garotos não têm jeito
O menorzinho de todos sai da fila de repente /Fura o cerco dos guardas e fica bem lá na frente /Dois irmãos seguem o exemplo também saem do lugar /Os guardas saem correndo atrás possessos a apitar
Por que é que essas crianças estão aqui amontoadas /Rindo brincando correndo & trocando cotoveladas /Por que esperam tão alegres & com tanta tensão e esperança /É por aqui nessa Casa distribuem pão pras crianças
O homem da Casa do pão vai à porta & dá um grito /Milhares de meninos & meninas repetem o que foi dito /É alegria? é uma prece? "Hoje não tem mais pão" /É um grito de "Hurra!" se eleva da multidão
Voltam correndo pros barracos onde ficam à espera os pais /E os pequenos mensageiros avisam que pão não tem mais /Acabou o pão do governo! no casebre apertado /& o bebé está doente, está muito desarranjado.
Desnutrição afeta crânios os torna pequeninos /Desinteria esvazia ao mesmo tempo todos os intestinos /Enfermeira mostra cartão Está faltando Enterostrep /Precisa de suspensão ou então Chlorostrep
Campos de refugiados clínica improvisada /Recém-nascido no colo da mãe escaveirada /O outro tem uma semana nem parece gente não /Vai morrer de Reumatismo Gastrenterite Intoxicação
Setembro em Jessore Num jinriquixá /50.000 almas num dos campos eu vi lá /Cabanas de bambu totalmente inundadas /Esgoto a céu aberto famílias esfomeadas
Os caminhões com a comida estão ilhados com a enchente, /Angélica máquina americana vem correndo que é urgente! /O embaixador Bunker estará muito ocupado? /Vendo criancinhas metralhadas por soldados?
Os helicópteros da USAID por onde andarão? /Traficando heroína lá nas matas do Sião. /E nossa Força Aérea gloriosa, onde andará a voar? /Nos céus do norte do Laos, soltando bombas sem parar?
Onde o Exército de Ouro de nosso grande Presidente? /Onde a Marinha bilionária piedosa e Valente? /Nos trazemos remédios agasalho alimento? /Lançando sobre o Vietnã Napalm e mais sofrimento?
Onde as nossas lágrimas? Quem chora por tanta maldade? /Pra onde irão todas essas familias na tempestade? /Em Jessore as crianças fecham os olhos a pensar: /Quando Nosso Pai morrer onde é que vamos morar?
A quem iremos rezar pedindo carinho e comida? /Quem vai trazer pão pra esta casa inundada e fedida? /Milhões de crianças na chuva sem amor! /Milhões de crianças chorando de dor!
Ó línguas do mundo denunciai esta dor que não vemos /Ó vozes do mundo clamai pelo Amor que não sabemos /Ó sinos de dor elétrica, dobrai com insistência /Despertai na mente da América ó sinos a conciência
Quantas seremos nós pobres crianças perdidas? /De quem são filhas estas que vemos perderem suas vidas? /Que valem nossas almas se não mais nos importarmos? /Cantemos canções & choremos se ousamos -
Chora no chão do lado da casa onde o esgoto é derramado /Dorme dentro dos canos largados no campo enlameado /espera ao lado do poço. Maldito seja este mundo /onde bebés passam fome deitados num catre imundo!
Foi isso que no passado a mim mesmo causei? /Que hei de fazer? ao Poeta Sunil perguntei. /Não lhes dar nenhum dinheiro e então seguir em frente? /Ao prazer de minha carne devo tornar-me indiferente?