domingo, 14 de outubro de 2012

Imagem utilizada na confecção do Cartaz e adesivos


Os trilhos de ferro estão lá,
encrustados nas ladeiras de Santa Teresa,
bairro do centro do Rio de Janeiro.
Lembram um tempo bom que, embora recente,
já traz saudade a comunidade.
Os taxis ainda não gostam de subir
os paralelepípedos do morro,
os ônibus passam derrapando nas curvas
e os carros - antes raros por alí - agora
entopem as ruas estreitas, 
disputando espaço com pedestres.
Tudo porque o bonde, meio de transporte
tradicional do bairro há mais de 100 anos,
não está mais lá.
Hoje só se vê a falta que faz nas imagens
que o representam "chorando", pintadas
nos muros ou estampando adesivos e cartazes
que cobrem o largo do curvelo, na rua mais
antiga do bairro.
Os bondes foram tirados de circulação
depois de um descarrilamento ocorrido
no dia 27 de agosto de 2011, matando seis pessoas.
Não se sabe exatamente o que provocou o acidente, 
o inquérito ainda não foi concluído pelo Ministério Público.
Mas os moradores tem motivos para acreditar que o
sucateamento proposital dos bondes, 
que acompanharam de perto, é o grande responsável
pelo "pesadelo" que viveram.
Abaeté Mesquita, morador e diretor  secretário da AMAST:
Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa,
fala do que considera "uma tragedia anunciada".
Foi um projeto político que trouxe esses bondes
"frankenstein" para o nosso bairro - porque não eram
bondes tradicionais nem trens de tecnologia moderna,
eram um misto - resultando em acidentes terríveis.
Não temos dúvidas de que o sistema de bondes
foi sucateado para justificar a entrada de trens de alta
tecnologia a valores superiores a um milhão de reais
e ser transformado em um elemento puramente turístico,
denuncia. E explica: "a imagem do bonde de Santa Teresa
sempre foi usada para vender a Copa, mas nosso bonde 
tradicional não iria comportar o turismo de massa".

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES E AMIGOS DE SANTA TERESA 

O bondinho de Santa Teresa


O bondinho de Santa Teresa


O bondinho de Santa Teresa


KAREL APPEL - Grupo COBRA
Holanda
You-Tube - filme:
"The Reality of Karel Appel"
14 minutos - 20 segundos
França

Karel Happel


CHRISTIAN KAREL APPEL, conhecido como Karel Appel
(Amsterdão 1921 - Zurique 2006).
Pintor e escultor neerlandês, cofundador do grupo COBRA em 1948.
Estudou na Rijksakademie van Beehldende Kunsten (1940-1943),
onde se tornou amigo de Guillaume Corneille,
seu futuro companheiro no COBRA.,
Appel viveu em Paris, no inicio da década de 1950, em Nova Iorque,
na década seguinte, na Itália e na Suiça, onde faleceu.
Appel pintou também retratos de músicos de jazz e executou varios
trabalhos públicos, incluindo um mural na sede da UNESCO em Paris.
Seus primeiros trabalhos lembram a pintura do realista neerlandês
George Hendrik Breitner (1857-1923), porem, já na época da
Segunda Guerra Mundia, volta-se para o Expressionismo alemão
e principalmente para o trabalho de Van Gogh.
Há um ponto de inflexão no estilo de Appel, por volta de 1945, quando
encontra inspiração na Escola de Paris, particularmente em Matisse,
Jean Dubuffet e Picasso; essa influência, que deverá persistir até
1948, pode ser observada, por exemplo, em uma série de esculturas
de gesso dessa época.
A partir de 1947, seu colorido universo pessoal será construido de seres
simples, infantis e animais amistosos, que povoam suas pinturas,
desenhos, e esculturas de madeira pintada.
Seu senso de humor chega ao ápice em grotescas imagens, relevos
em madeira e pinturas como Hip, Hip, Hooray (1949). 

Karel Appel - "Árvores com folhas" - óleo 1.62 x 1.30 mts - 1978


Logo após a última Guerra, naqueles anos em que andei
formando o acervo do MASP, adquirí obras de artistas
ainda não considerados como posteriormente viriam a ser.
Colocados na Pinacoteca ao lado dos mestres do Impressionismo,
suscitaram, pela diversidade e não cordial aceitação das propostas,
as costumeiras discussões, para não dizer a repulsa, do público,
o qual quase sempre prefere não se aventurar em problemas de 
quebra da ordem estética.
Assim, ao expor no Museu: Miró, Wools, Max Ernst, Karel Appel,
Ronald Kitaj, Tilson, Paolozzi, Rotela, Adami, para enumerar
apenas alguns, o apreço se restringiu a um ainda modesto
círculo dos que, ao invés de gostar do já consagrado, se dispunham
a estimar as novidades, participando idealmente da ação das
vanguardas.
Comprei a pintura de Appel na Galeria Lefévre, em Londres, há uns
vinte anos, quando sua fama não era a de hoje. Sendo holandês,
coloquei o quadro ao lado de um dos nossos Van Gogh, constatando
uma natural e viva afinidade.
A ocasião também serviu para informar os visitantes da existéncia
e afirmação do grupo Cobra, composto por Appel, Corneille, Jorn
e Alechinski, grupo então classificado "abstrato-expressionista"
ou "action-painting", como os alquimistas da crítica determinavam.
Dificil situar Appel num sistema de tendência. Ele é, como se vê
nesta grande exposição, personalidade simples, de excepcional
carga dramática, distinto pela impetuosidade imediata com que
transfere a violência das cores no espaço, sem meditar e prever
o resultado, espontâneo no impulso,no visionar apocalíptico e
passagens no infernal: a cada vez uma explosão atómica de sentimentos
evidentemente dolorosos, gritos, alardes, voltas aos primórdios,
tudo que brota do subconsciente.
Associa-se ao caráter de Van Gogh, Ensor, Munch, aos manipuladores
dos signos e formas das cavernas, à expressão popular, aos inconformistas
agressores da realidade hipócrita, aos prepotentes audaciosos das reformas
e das revoluções, decompositores do humano, recomposto, reajustado
e regenerado, sem cálculos nem misericórdia piedosa, certamente com
algumas pontas de desprezo.
Cada visitante vai analisar e julgar conforme sua experiência e vocação
para com o agitado momento da manifestação da Arte, sintoma antecipador
da vida; porém parece-me certa a compreensão da mensagem de Appel,
indicadora dos dramas que vão exaustivamente se acumulando
neste fim de século.

PIETRO MARIA BARDI
Fundador e diretor do Museo de Arte de São Paulo de 1947 a 1996


Karel Appel - "Hugo Claus" - óleo 1.16 x 89 mts. - 1952