segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lawrence Ferlinghetti na sua livraria-editora - anos 80/90 - foto de jornal

LAWRENCE FERLINGHETTI - 1919 / Poeta, tradutor e principal editor dos poetas beat. Em 1953, junto com Peter D. Martin, fundou a livraria "City Lights" mais tarde transformada em editora, e lugar de encontro dos poetas e escritores. Logo lança a série "Pocket Poets", visando criar uma "efervescência internacional dissidente". A publicação de "Uivo" de Ginsberg, em 1956, o levou a prissão acussado de obsenidade. Mesmo com as dificuldades criadas nos EUA pela chamada "caça as bruxas" promovida na época, a editora continuou impulsionando os poetas da Geração Beat, um dos maiores movimentos de poetas do pos-guerra, abrindo caminho para o posterior movimento Hippie. Ferlinghetti é tradutor de poetas da Europa e América do Sul, como o chileno Angel Parra, o francés Jacques Prevert, e o italiano Pier Paolo Pasolini. Livros no Brasil: "Vida Sem Fim" - Editora Brasiliense 1984 / "Um Parque de Diversões da Cabeça" - L& PM Editora 1984 / "7 Dias na Nicarágua Livre" - L&PM Editora 1985

Ferlinghetti - anos 50 - foto de jornal

POUND EM SPOLETO / Adentrei um camarote no Teatro Melisso, o gracioso renascentista onde ocorriam todos os dias recitais de poesia e os concertos do festival de Spoleto e subitamente vi Ezra Pound pela primeira vez, imóvel feito uma estátua de mandarim, num camarote de balcão no fundo do teatro, logo acima das poltronas. Foi um choque: ver somente um ancião admirável numa postura curiosa, magro e de cabelos longos, aquilino aos 80, a cabeça estranhamente inclinada para um lado, imerso em permanente abstração... Após três poetas mais jovens no palco, ele deveria ler, desde o seu camarote, e lá estava, junto a uma amiga idosa (que segurava seus papeis) aguardando. Observou as articulações das prôprias mãos, movendo-as, inexpressivo, um mínimo. Uma vez apenas, quando todos no teatro cheio ovacionavam alguém no palco, estimulou-se a aplaudir, como que incitado por um ruido no vazio... Todos no recinto se levantaram, voltaram-se e, olhando para trás e para cima, ovacionando, viram Pound em sua cabine. o aplauso se prolongou e pound tentou se levantar da poltrona. Um microfone atrapalhava. Ele segurou, com mãos ossudas, os braços da poltrona e tentou se levantar. Não conseguiu e tento de novo e não conseguiu. Sua amiga idosa não tento ajudá-lo. Finalmente ela colocou um poema em sua mão e, depois de pelo menos um minuto, surgiu a sua voz. Primeiro moveu-se a mandíbula e então surgiu, inaudível, a voz. Um jovem italiano aproximou bastante o microfone à sua face e o manteve ali e a voz se fez ouvir, fraca mas obstinada, mais alto do que eu esperava, uma tênue, suave salmodia. O recinto silenciou de um só golpe. A vos me derrubou, tão suave, tão tênue, tão fraca, contudo tão obstinada. Apoiei a cabeça nos meus braços sobre o parapeito aveludado do camarote. Surpreendi-me ao ver uma lágrima solitária cair no meu joelho. A voz tênue e indómita prossegia. Saí às cegas do camarote, pela porta ao fundo, para o corredor do teatro onde todos ainda sentavam voltados para ele, descí e saí, para a luz do sol, chorando... / Acima da cidade / junto do antigo aqueduto / as castanheiras / ainda vicejavam / Aves mudas / voavam bem baixo / no vale / O sol brilhava / sobre as castanheiras / e as folhas / voltavam-se para o sol / voltavam-se e voltavam-se e voltavam-se / e continuariam voltando-se / Sua voz seguia e / prosseguia / através das folhas... LAWRENCE FERLINGHETTI - de "Olho e Peito Abertos" - 1973 / Tradução: Nelson Ascher

Retrato de Lou Reed - Nova iorque 1984

Interior / São Franciso 1955

Gregory Corso - París 1957

GREGORY NUNCIO CORSO / 1930-2001 / A mãe de Corso tinha apenas 16 anos quando Gregory nasceu e um ano depois abandonou a familia e retornou a Itália. / Corso viveu a maior parte da sua infância em orfanatos e casas de adoção. Seu pai se casou pela segunda vez quando ele tinha 11 anos, e foi com quem acabou ficando, mas Corso fugia repetidamente e acabou sendo mandado a um internato masculino. Do qual também fugiú. / Durante à adolescencia, passa períodos de reclussão em colônias penais. Em 1947, foi condenado a 3 anos de prissão por arrombamento. E foi na biblioteca da prissão onde Corso começou a escrever poesía. / Depois de ser liberado, em 1950, conhece Allen Ginsberg num bar de Geenwich Village em Nova Iorque, que o levou a se integrar no grupo de escritores beat. Morreu em Minnesota no dia 17 de Janeiro de 2001. / Escreveu seu próprio epitáfio: / "Espírito é vida / ele flui por entre a minha morte / como um rio / sem medo de tornar-se mar" OBRAS: "Lady Vestal e outros poemas" 1955 / "Gasolina" 1958 / "O Feliz aniversário da morte" 1960 / "Arauto do espírito autóctone" 1981