O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
AMÉRICA
trecho
América eu lhe dei tudo e agora não sou nada
América dois dólares vinte e sete centavos 17 de janeiro,
1956.
América não agüento mais minha própria mente.
América quando acabaremos com a guerra humana?
Vá se foder com sua bomba atômica.
Não estou legal não me encha o saco.
Não escreverei meu poema enquanto não me sentir legal.
América quando é que você será angelical?
Quando você tirará sua roupa?
Quando você se olhará através do túmulo?
Quando você merecerá seu milhão de trotskistas?
América por que suas bibliotecas estão cheias de lágrimas?
América quando você mandará seus ovos para a Índia?
Estou cheio de suas exigências malucas.
Quando poderei entrar no supermercado e comprar
o que preciso só com minha boa aparência?
América afinal eu e você é que somos perfeitos não o outro
mundo.
Sua maquinária é demais para mim.
Você me fez querer ser santo.
Deve haver algum jeito de resolver isso.
Burroughs está em Tanger acho que ele não vai voltar
mais isso é sinistro.
Estará você sendo sinistra ou isso é uma brincadeira?
Allen Ginsberg
UIVO
para Carl Solomon
trecho
Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato
celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando
sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis
apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos
das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram
anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados
das casas de cômodos,
que passaram por universidades com olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos
& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupas de baixo queimando seu dinheiro
em cestas de papel, escutando o Terror através da parede
Allen Ginsberg
CANÇÃO
trecho
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Allen Ginsberg
UIVO
para Carl Solomon
trecho
Carl Solomon! Eu estou com você em Rockland
onde você está mais louco do que eu
Eu estou com você em Rockland
onde você deve sentir-se muito estranho
Eu estou com você em Rockland
onde você imita a sombra da minha mãe
Eu estou com voce em Rockland
onde você assassinou suas doze secretárias
Eu estou com você em Rockland
onde você ri deste humor invisível
Eu estou com você em Rockland
onde somos grandes escritores na mesma abominável
máquina de escrever
Eu estou com você em Rockland
onde seu estado tornou-se muito grave e é noticiado
pelo rádio
Eu estou com você em Rockland
onde as faculdades do crânio não agüentam mais
os vermes dos sentidos
Allen Ginsberg
SUTRA DO GIRASSOL
trecho
Caminhei pela beira do cais de bananas e latarias e sentei-me
à sombra enorme de uma locomotiva da Southern Pacific
para olhar o sol que se punha entre as colinas de casas
como caixotes e chorar.
Jack Kerouac sentou-se a meu lado sobre um poste de ferro
quebrado e enferrujado, companheiro, pensávamos
os mesmos pensamentos da alma, chapados e de olhos
tristes, cercados pelas retorcidas raízes de aço das árvores
da maquinaria,
A água oleosa do rio refletia o rubro céu, o sol naufragava
nos cumes dos últimos morros de Frisco, nenhum peixe
nessas águas, nenhum ermitão nessas montanhas, só nós
dois com nossos olhos embaçados e ressaca de velhos
vagabundos à beira-rio, malandros cansados.
Olha o Girassol, disse ele, lá estava a sombra cinzenta
e morta contra o céu, do tamanho de um homem, encostada
ressecada no topo do montão de velha serragem -
Allen Ginsberg