domingo, 15 de junho de 2008

"As estatuas" / atelier do escultor argentino R.Yrurtia



SÉRIE "DIÁRIO"
Galeria Cândido Portinari
UERJ Rio de Janeiro 2006/07



A Educação Pelo Traço - Leonardo Fróes
Não, nem tudo está perdido. Porque houve Goeldi, santo homem que tive o privilégio de conhecer em pessoa, e Grassman. com esses e outros mestres do traço, com esses e os poetas da cor, cujas obras me nutriram, na juventude, em minhas peregrinações por museus, foi que meus olhos de menino espantado começaram a ver sob a aparência das coisas. A educação pelo traço, para um escritor, é essencial: assim como as palavras, tendo plasticidade e contorno, são os desenhos imperfeitos que ele consegue fazer, assim o corte, o gesto, o risco, as incisões praticadas por artistas na superfície do mundo é que lhe abrem com mais proveito e largueza as portas da percepção dos fenomenos. Nem tudo está perdido. Se o ambiente da arte já foi contaminado pela corrupção do gosto, se o lixo visual e sonoro nos enche olhos e ouvidos, pelas ruas, das mais inúteis bobagens, se um comercialismo vulgar se sacraliza sob o nome pomposo de Mercado, deus de lábia de ouro que ludibria e seduz, nada disso constitui no Ocidente, entretanto, uma novidade nefasta estruturada ou surgida em nossos dias. Há quase 200 anos, em nossa banda do planeta, essas situações se repetem, tenazes como as doenças cronicas. Schopenhauer, num conjunto de textos publicado em 1851, Parerga und Paralipomena, denunciou que os mesmos males já grassavam então na arte literária. Ao contrapor-se aos "livros ruins" de sua época, que, segundo ele, eram "escritos exclusiva- mente com a intenção de ganhar dinheiro", o filósofo considerou-os "não apenas inúteis, mas realmente prejudiciais" sendo taxativo ao dizer: "Nove décimos de toda a nossa literatura atual não têm nenhum outro objetivo a não ser tirar alguns trocados do bolso do público..." Sejam livros, sejam quadros ou outros objetos de arte, todos sabemos, só não vê quem não quer, que essa mesmice se prolonga até hoje, agravando-se à medida que a corrupção do gosto se generaliza e que a fome de lucro fácil se orienta para a valorização do que é ruim, mal feito, xaporoso, vazio de significado e por conseqüência nocivo. Uma "abundante erva daninha", como escreveu Schopenhauer no século 19, "que tira a nutrição do trigo e o sufoca". Sendo doença cronica, o acumulo de coisas tolas e sua produção em série perturbam, sem dúvida, a organicidade e a boa ordem do mundo. Mas, apesar disso, nem tudo - insisto - está definitivamente perdido. Porque, assim como tivemos Goeldi e Grassman e tantos outros criadores de tantas e tão diversas verdades, como tivemos Daumier ou Hogarth, Grosz ou Posadas, temos aqui aos nossos olhos, em nossa banda do planeta, alguns heróis da resistência que souberam se imunizar contra as enfermidades da moda.
Texto escrito pelo poeta e tradutor Leonardo Fróes, especialmente para o catálogo da exposição Série "Diário" - e 5 poemas de Juan Gelman

SÉRIE "DIÁRIO" -


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