terça-feira, 22 de setembro de 2015

A REPRESENTAÇÃO DA FIGURA HUMANA

No âmbito da história da arte ocidental,
a representação da figura humana tem sido
um dos temas centrais das artes visuais,
desde a Pré-História até os nossos dias.
A vontade e, ao mesmo tempo, a necessidade
do homem de se representar a si mesmo,
de se imitar a si mesmo, e de guardar memória
de si mesmo, fez com que deixasse de se remeter
apenas à esfera das formas, ultrapassando-as
largamente, situando-se assim na questão mais vasta
da visão e da sua representação, devendo esta para tal
ser entendida como um processo de reflexão
sobre a origem e a evolução da própria humanidade.
Este processo é histórico, ou seja, o modo como o homem
se representou ao longo dos tempos foi-se alterando
de acordo com a visão que tinha de si mesmo
e do mundo que o rodeava, constatando-se assim
que os artistas da Pré-História, do Antigo Egito, 
da Antiga Grécia, de Roma, da Idade Média, do Renascimento, do Barroco, do Romantismo e dos séculos XX e XXI, representam a figura humana de formas diferentes entre si. A representação da figura humana na Pré-História
relaciona-se provavelmente, com a crença de um caráter
mágico do próprio objecto, que agiria sobre quem
o posuisse. Neste sentido, o artista da Pré-História,
a partir da observação direta da realidade, concede
a si mesmo a liberdade de deformar algumas formas,
a fim de lhes conferir significados. Por exemplo, o exagero
intencional dos seios e das nádegas da venus de Willendorf
deve estar relacionado com o culto da fecundidade.
No Antigo Egito, a representação da figura humana,
tanto de homens como de mulheres, perfeitamente hieráticos, engalanados de atributos, respeitando a lei
da frontalidade e o cromatismo diferenciador
de ambos os sexos, parece no fim das contas traduzir
a imutabilidade do próprio Império que as produzia,
por isso, os seus retratos patenteiam uma tranquilidade
imperturbável através dos tempos. Na Antiga Grécia, 
por sua vez, a representação da figura humana
atinge o seu verdadeiro auge, visto que os artistas gregos
foram os primeiros a conseguir representar a figura humana
como ela era percepcionada pela vista e, 
para o conseguirem, recorreram a perspectiva, a escorços,
e a um profundo conhecimento da anatomia,
que observavam em repouso ou em movimento,
por gimnasia  e nos jogos olímpicos, tornando-se eximios
na representação de nus (a Nióbida sera o primeiro nu feminino da história), e do drama que é a existência humana.
Contudo, a busca da perfeição, da harmonia 
e da proporcionalidade traduzida no "cânone" (a regra)
condiciona a arte grega  a um certo realismo,
pela necessidade da representação de arquétipos perfeitos,
no sentido de alcançarem, afinal, o belo ideal. No período
atualmente considerado como o da antiguidade clássica,
podemos ainda destacar o contributo dos artistas
da civilização romana na área da retratística, e a sua enorme
capacidade para reproduzir com total fidelidade os traços
fisionómicos e psicológicos das crianças, homens, mulheres e velhos. Durante um dos períodos mais longos da história
da cultura ocidental, a Idade Media, a representação
da figura humana volta novamente a afastar-se da forma
tal como era percebida pela vista, ganhando assim
uma grande expressividade, com o objectivo de realçar
as intenções simbólicas da tradição cristã, a figura
passará a ser representada frontalmente, hierática
e com gestos rígidos, chegando-se mesmo a praticar incorreções anatómicas simplesmente para a adaptar 
ao espaço que lhe estava destinado. O nu, raramente
é tratado, mas quando isso acontece, trata-se geralmente
de corpos alongados e de estrutura óssea mal marcada.
No Renascimento, a representação da figura humana
ganhou um novo fólego. A pesquisa sobre esse tema,
realizada neste período e estendendo-se até ao século XIX,
pode-se entender como uma procura do segredo dos antigos
ou a tentativa de redescoberta do "cânone", que se pensava
que os antigos utilizavam, e que sería uma espécie
de receita mágica que, quando devidamente aplicada,
resultaria na criação de corpos perfeitos. Neste sentido, a representação da figura humana, seguindo a herança
clássica, demonstrou varios níveis de fidelidade visual,
que nos aspectos físicos e anatómicos, e na expressão
dos sentimentos e das emoções, recuperou os géneros
do nu e do retrato. A referência era o homem enquanto
"medida de todas as coisas", tal como fora imortalizado
por Leonardo da Vinci. A representação da figura
durante o período do Barroco, continua as conquistas
renascentistas, mas conferindo-lhe um ar mais teatral,
ou seja, optando assim por tornar as proporções 
mais esguias, pela composição mais dinámica,
por explorar expressões de forma mais exagerada, 
e por captar as personagens em ação, como uma espécie
de instantáneo fotográfico. No século XIX, as conquistas na pintura e na escultura não andaram de braços dados,
mas no nível da representação da figura humana,
o que é comum em ambas as artes plásticas,
se privilegia a expressão do sentimento individual.
Sintomas do tempo e facetas exasperadas do humano
foram pela primeira vez representados de forma
verdadeiramente exemplar. No século XX, pode-se
considerar "Les Demoiselles D'Avignon" de Picasso,
como o momento de ruptura na maneira de representar
a figura, antes e depois desse quadro. A total desconstrução
dos corpos, vistos como figuras geométricas, a estilização
rude e seca obtida pela prioridade dada à linha recta
sobre a linha curva, e o desbastamento da figura 
em volumes geométricos abruptos, abriram as portas
para uma total liberdade, face aos "cânones" anteriores,
e ainda face às posibilidades das inúmeras representações
futuras.

Ana Rodrigues

IDENTIDADES - Man Ray - "Máscara - autorretrato" - gesso - 1933


IDENTIDADES - Man Ray - "Máscara de Paul Eluard" - gesso


IDENTIDADES - Man Ray - "Máscara de André Breton" - gesso - 1929


IDENTIDADES - Xiaogang Zhang - "Familia" - acrílico - 1995


IDENTIDADES - Xiaogang Zhang - "Familia" - acrílico - 1995


IDENTIDADES - Xiaogang Zhang - "Familia" - acrílico - 1995


IDENTIDADES - Chantal Wicki - "Autorretrato" - óleo - 1993-95


IDENTIDADES - Chantal Wicki - "Autorretrato" - óleo - 1993-95


IDENTIDADES - Chantal Wicki - "Autorretrato" - óleo - 1993-95


IDENTIDADES - Chantal Wicki - "Autorretrato" - 1993-95


IDENTIDADES - Chantal Wicki - "Autorretrato" - 1993-95


IDENTIDADES - Chantal Wicki - "Autorretrato" - 1993-95


IDENTIDADES - Marc Garanger - "Mulher argelina" - 1960


IDENTIDADES - Marc Garanger - "Mulher argelina" - 1960


IDENTIDADES - Marc Garanger - "Mulher argelina" - 1960


IDENTIDADES - Marc Garanger - "Mulher argelina" - 1960


IDENTIDADES - Marc Garanger - "Mulher argelina" - 1960


IDENTIDADES - Marc Garanger - "Mulher argelina" - 1960


IDENTIDADE - Antonio Lopez - "Mulher e homem" - 1968-90


IDENTIDADES - Antonio Lopez - "Mulher e homem" - 1968-90


IDENTIDADES - Ronald Kitaj - "O orientalista" - óleo - 1976-77


IDENTIDADES - Ronald Kitaj - "O arabista" - óleo - 1976-77


IDENTIDADES - Ronald Kitaj - "O espanhol" - óleo - 1977


IDENTIDADES - David Hockney - "Modelo e autorretrato" - óleo - 1977


IDENTIDADES - David Hockney - óleo - 1994


IDENTIDADES - Lucian Freud - óleo - 1994


IDENTIDADES - Chuck Close - "Alex" - óleo - 1991


IDENTIDADES - Chuck Close - "Fanny" - óleo - 1985


IDENTIDADES - Avigdor Arikha - "Retrato de Alexander Frederick Douglas" - óleo - 1988


IDENTIDADES - Avigdor Arikha - "Autorretrato nu" - óleo - 1986


IDENTIDADES - Avigdor Arikha - "Retrato de Marie-Catherine" - óleo - 1982


IDENTIDADES - Philip Guston - óleo - 1969


IDENTIDADES - Philip Guston - óleo - 1973


IDENTIDADES - Willem de Kooning - "Figura de mulher" - óleo - 1950-52


IDENTIDADES - Alberto Giacometti - "Mulheres de Veneza" - bronze - 1956


IDENTIDADES - Balthus - "O jogo de cartas" - óleo - 1948-50


IDENTIDADES - Francis Bacon - óleo


IDENTIDADES - Francis Bacon - óleo - 1954


IDENTIDADES - Antonin Artaud - "Autorretrato" - crayón - 1947


IDENTIDADES - Antonin Artaud - "Retrato de Colette Thomas" - crayón - 1947


IDENTIDADES - Antonin Artaud - "Retrato de Yves Thévenin" - crayón - 1947


IDENTIDADES - Raymond Mason - "O mercado de frutas e legumes de Paris" - argila colorida - 1969-71


IDENTIDADES - Jackson Pollock - "Cabeça" - óleo


IDENTIDADES - Jackson Pollock - "Cabeça" - tinta


IDENTIDADES - Stanislaw Ignacy Witkiewicz - "Retrato de Erwardy" - carvão e pastel - 1930


IDENTIDADES - Stanislaw Ignacy Witkiewicz - Retrato de Heleny" - pastel - 1934


IDENTIDADES - Stanislaw Ignacy Witkiewicz - "Retrato de Heleny Bialynickiej - carvão e pastel - 1930


IDENTIDADES - Max Beckmann - "Autorretrato com cigarro" - óleo - 1923


IDENTIDADES - Max Beckmann - "Autorretrato com cigarro" - óleo - 1923


IDENTIDADES - Max Beckmann - "Autorretrato com cigarro" - óleo - 1947