sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Posso ter certeza de que Robert Campin e Jan van Eyck
tinham conhecimento de espelhos e lentes - os dois
elementos básicos da câmara moderna - pois pintaram
alguns em vários de seus quadros dos anos 1430 
(e, naquela época, pintores e fabricantes de espelhos
eram ambos membros da mesma guilda). Lentes e
espelhos ainda eram raros na época, e os artistas devem
ter ficado fascinados pelos estranhos efeitos produzidos.
Como pessoas que faziam imagens, certamente ter-lhes-a
causado admiração o fato de figuras inteiras, ou mesmo
recintos inteiros, poderem ser vistos em pequenos espelhos
convexos. Seguramente não é uma coincidência que tais
espelhos chegassem à pintura ao mesmo tempo que um
maior grau de individualidade aparecesse no retrato.
  

Robert Campin - 1438


Jan van Eyck - 1436


Tendo de inicio observado que a pintura
no fim da Renascença era muito mais naturalista
que o fora a princípio, agora podemos ser bem
mais específicos: a mudança rumo a um maior
naturalismo ocorreu subitamente no fim dos
anos 1420, ou no começo dos anos 1430, em
Flandres. Terá sido por causa da óptica? Que
outra explicação averia? Por que artistas como
Campin e Van Eyck de repente passam a produzir
imagens bem mais modernas, "de aparência
fotográfica? Hoje estamos habituados a imagens
projetadas por uma lente. Uma cámara
funciona porque uma imagem  do "mundo real"
é projetada num filme. Teriam Campin e Van Eyck
visto o mundoprojetado desse modo?
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

Hans Holbein - detalhe - 1532