segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
O ETERNAUTA 
Apresentação de cenas da versão filmada de "O Eternauta",
novela de ficção cientifico-política de Héctor Oesterheld,
ilustrada em quadrinhos por Francisco Solano López entre 1957 e 1961
na revista "Hora Cero", da qual Oesterheld era editor.
"O Eternauta" relata uma suposta invasão de Buenos Aires por seres alienígenas que utilizam uma chuva de flocos venenosos para exterminar a população.
Os fatos sinistros que marcaram a história argentina nas décadas de 1970-80 deixando miles de desaparecidos, transformaram "O Eternauta" num relato premonitório e alegórico.
No Brasil, a novela foi lançada em 2012 pela Editora Martins Fontes.
  

O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - O filme


O ETERNAUTA - OESTERHELD
Capas das Edições - Varias Épocas 

O ETERNAUTA


O ETERNAUTA


O ETERNAUTA


O ETERNAUTA


O ETERNAUTA


O ETERNAUTA


HÉCTOR OESTERHELD
A Editora Frontera / Revista "Hora Cero"
"O Eternauta"
Ficção política na ficção científica 

Capa da revista Hora Cero, ilustrada por Hugo Pratt - Editora Frontera


Capa da revista Hora Cero, ilustrada por Hugo Pratt - Editora Frontera


O ETERNAUTA - edição brasileira - Ed. Martins Fontes - 2012


HÉCTOR OESTERHELD


HÉCTOR OESTERHELD - Buenos Aires, Argentina 1919-1977
Foi leitor voraz desde cedo. Seus primeiros trabalhos foram
com obras de divulgação científica e livros infantis feitos
na segunda metade da década de 1940. Oesterheld dividia
os escritos com a Geologia, que foi gradativamente perdendo
espaço para seus roteiros. Sua primeira história em quadrinhos
data de 1951, publicada pela Abril. A editora havia sido fundada
na Argentina anos antes por César Cívita, e tinha no catálogo
produções importadas da Itália e também dos Estados Unidos,
com os personagens de Disney. Em 1950, seu irmão, Victor Cívita,
trouxe o material ao Brasil, à então editora Primavera, depois rebatizada
de Abril.
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A editora argentina, aos poucos, passou a produzir histórias no próprio país.
Oesterheld rapidamente se tornou um dos principais escritores da casa.
Começou com Cargamento Negro, sobre dois agentes ingleses. Depois
vieram séries mais famosas, entre elas a de aventuras Bull Rocket e o faroeste
Sargento Kirk, desenhado pelo italiano Hugo Pratt, que, anos depois,
criaria na Europa as histórias de Corto Maltese.
Já como diretor de uma das revistas, Oesterheld produziu, em 1956,
um conjunto de livros de bolso com os principais personagens.
O bom retorno estimulou a criação de uma editora própria, a Frontera,
inaugurada em abril do ano seguinte.
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A editora Frontera iniciou com a publicação de uma revista homônima
e de outra batizada  de Hora Cero. Na nova empreitada, Oesterheld levou consigo
os três principais desenhistas da Abril: Pratt, Alberto Breccia e Francisco Solano López, morto em agosto de 2011 e com quem dividiría a autoria de El Eternauta.
Ambos já haviam transitado por outra história de ficção científica, Rolo, El Marciano
Adoptivo, sobre um professor que descobre uma ameaça extraterrestre e procura
a todo custo evitá-la. Na prática, funcionou como um ensaio para a série que viría.
"Lembro que Oesterheld me chamou e me disse: "Vou lançar uma revista semanal.
O que você quer fazer?" - recorda Solano López, em depoimento registrado no livro 
Solano López en Primera Persona - "E eu lhe disse: "Quero fazer uma ficção científica
realista". El Eternauta surgiu na sequência.
O tom realista mencionado pelo desenhista é percebido desde as primeiras páginas.
O leitor de então, 1957, podia ver as ruas de Buenos Aires como cenário de fundo
dos enigmáticos flocos de neve que tiravam a vida de todos os que entrassem em
contato com eles. A trajetória de Juan Salvo e seu grupo em busca da sobrevivência
era contada como se estivesse ocorrendo naquele exato momento, fora da casa
de quem lia a história. Somava-se a isso o caráter maduro da trama criada pelo
roteirista, voltada para um leitor adulto, e não para as crianças, principal público-alvo
dos quadrinhos da época.
A série foi narrada em capítulos. Semana após semana, os mistérios eram paulatinamente construídos e revelados pelo relato de Germán, alter ego de Oesterheld na trama e a quem Juan Salvo confiou suas aventuras pelo fluxo temporal. "O herói verdadeiro de El Eternauta é um herói coletivo, um grupo humano.
Reflete assim, ainda que sem intenção prévia, meu sentimento íntimo: o único herói
válido é o herói em grupo, nunca o individual, o herói solitário", disse Oesterheld
no prefácio de uma das compilações da série, feita em meados da década de 1970.
O capítulo final foi publicado em setembro de 1959, ano em que a editora de Oesterheld já dava sinais de cansaço financeiro, o que levou a empresa a ser vendida.
O escritor continuou a fazer roteiros de quadrinhos para o novo patrão e também
para o exterior, com alguns trabalhos marcantes, como a série Mort Cinder, parceria
com Alberto Breccia.
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A partir do fim da década de 1960, parte de seus escritos passou por uma transição.
Da biografia em quadrinhos de Ernesto "Che" Guevara ilustrada por Breccia a ficções científicas com vieses anti-imperialistas (clara metáfora do papel geopolítico exercido pelos países desenvolvidos), o roteirista impôs um caráter político a seus quadrinhos.
Um deles, Latinoamérica y El Imperialismo - 450 Años de Guerra, foi publicado
em capítulos pelo semanário El Descamisado, editado pela Juventud Peronista,
um dos principais movimentos de oposição vigentes no país. Foi também um dos
alvos da junta militar instaurada após o golpe iniciado em 1976.
Mesmo El Eternauta passou por esse processo de politização. Em 1969, Oesterheld
foi convidado a reescrever a série para a revista de variedades Gente, desta vez com
desenhos de Alberto Breccia - que criou Germán com o rosto do escritor, 
o que tornava mais explícito que o personagem de fato funcionava como alter ego
do roteirista. A trama era basicamente a mesma, afora algumas mudanças pontuais.
Uma delas casava com o momento político de Héctor na época. Nessa nova versão,
os países desenvolvidos haviam feito um acordo com os extraterrestres: dariam
a América do Sul em troca da sobrevivência.
Seria essa a causa da invasão mortal na Argentina.
A releitura de El Eternauta durou algumas edições. Não era a história que o público
da revista estava preparado para ler. Oesterheld acordou em encerrar a série.
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A data mais provável para o desaparecimento de Oesterheld é 27 de abril de 1977.
Uma versão para o que ocorreu: havia nessa data uma reunião da Juventude Peronista, grupo ao qual Oesterheld havia ingressado. Todos foram avisados
de que a casa havia sido descoberta e alertados a não comparecer ao encontro.
Todos menos o roteirista, o único que foi a reunião, o único que foi detido.
Oesterheld optou pela resistência política anos antes de seu desaparecimento.
Seguiram o mesmo caminho suas quatro filhas. Todos tiveram de viver na clandestinidade. A única que decidiu permanecer em casa foi a esposa de Héctor,
Elsa, com quem se casou em 1947. Foi a única que sobreviveu.

PAULO RAMOS - extraído de O Eternauta - Editora Martins Fontes 2012