sábado, 1 de junho de 2013

O poema ilustrado surge como prática habitual no meu desenho a partir de 1962, quando faço uma viagem aos pampas, na Argentina. Tinha 19 anos e recebia  a influência dos mestres do realismo social, todos eles desenhistas virtuosos e também ilustradores literários e de poetas. Foi nessa viagem, na cidade de Santa Rosa, capital da Província de La Pampa, que conheci três poetas que mudaram o meu rumo, foram Ricardo Nervi, Edgar Morisoli e Juan Carlos “el indio” Bustriazo Ortiz. Eu provinha do âmbito urbano,  e a poesia rural praticada por eles, de intenso lirismo na evocação da paisagem  desértica e das agruras da sua gente, em constante êxodo por causa das secas, determinaram meu trabalho desse período.  Juan Ricardo Nervi, era proveniente da cidade de Castex, colônia agrícola formada por imigrantes italianos.  Com ele a visitamos, e essa visita motivou uma série de desenhos em parceria com Nervi que compuseram a minha primeira exposição em Buenos Aires em 1964, que levou por título “Poemas em blanco y negro – Jornadas de La Pampa seca”. Em 1968 viajo ao Brasil, e pouco a pouco vou descobrindo a língua portuguesa na poesia musicada da MPB, que me abre as portas para os poetas brasileiros. Muitas das ilustrações sobre música que fiz nesse período,  assim como os retratos dos compositores, estavam intimamente ligadas a essa poesia.  A poesia saia do livro e ia para a rua, assim como para mim, na ilustração o desenho saia da galeria e ia para as bancas de jornais e revistas. Em 1980 aconteceram dois fatos importantes para o meu trabalho: a encomenda pelo Teatro dos 4, da produção visual da peça “Rei Lear” de William Shakespeare, e as ilustrações de “A Paixão Medida” de Carlos Drummond de Andrade, pela editora José Olimpio. Nos anos seguintes ilustrei o peruano César Vallejo, o uruguaio Mario Benedetti e a série “Radial X” sobre poemas de Leonardo Fróes. A série “Diário”, exposta na UERJ e na ABL em 2007, foi uma extensa série de desenhos que abordava a temática da memória, e a realidade política que viveram nossos países na década de 70. Quando o conjunto ficou pronto, pontos de contato me fizeram acrescentar  5 poemas de Juan Gelman. Nessa exposição “Poemas Ilustrados”, estou mostrando, junto ao meu desenho, a poesia de Alexei Bueno, Marcus Mello, Frederico Gomes, a argentina Marta Kelly e os dois clássicos Machado de Assis e Afonso  Lima Barreto.
Luis Trimano – Rio de Janeiro 2012