terça-feira, 7 de abril de 2009

OS POETAS / HÉCTOR ESCOBAR

Héctor Escobar - foto: Trimano 2008

ASSIM NASCEU A TEMPESTADE / Contaran-me que nascí na madrugada do dia 9 de julho de 1943, as cinco da manhã, baixo uma invernada muito forte,e o primeiro visitante que foi me cumprimentar foi o caudaloso rio Meta, que bordeja a pequena população de puerto Paez, no estado de Apure, na Venezuela; justo na fronteira com a Colômbia e o Amazonas, desde onde me couve navegar pela primeira vez na minha vida. / Contam que o visitante chegou com tanta força, que para que não nos afogássemos, me colocaram com minha mãe numa curiara, enquanto meu pai dava tiros no ar para anunciar minha chegada. Assim viajamos à terras mais altas onde nos refugiamos. Foi ali na floresta onde dei meus primeiros passos, em meio as crianças indígenas, que também era a origem da minha mãe, Trina - como o canto das aves. / Jornalista de profissão, de carne e osso. Desde a juventude escrevo poesias, contos, e até um romance histórico saiu de minhas mãos; alem de traduzir do português ao espanhol e vice versa, diversos autores brasileiros e portugueses. Resido à 30 anos no Brasil, de meus mais de 36 rodando pelo mundo. / Meu nome é realmente, Héctor Eliseo Escobar López, porem desde pequeno a familia me chamou sempre pelo segundo, Eliseo, Cheo. Héctor, de maneira mais formal, na vida profissional, até hoje. Sou um ou outro, os dois juntos, tanto faz. / Héctor Escobar - Rio de Janeiro 2009

foto: Rafiqur Rahman

OÁSIS DE SILÊNCIO / (Ás crianças do Iraque)
Sem escusas / Atropelado / Peço passagem ao silêncio / Para desgarrar um grito. / Desmorona a noite / Arrastando sua serpente / A covardia / Traga-se o céu de Bagdá. / Como usual / O mundo cala sua vergonha / O sangue afoga o pó do deserto / O invasor pulveriza as múmias / Desintegra a criancice / Prostitui o fogo
Peço passagem à dor / Meu coração / Meu Deus / É um arpão ferido
A noite não abriga / Morre o sol / É preciso despertar / Sublevar a moral / Refazer-nos sobre si mesmos / Sombra a sombra / A última esperança do ser / Está nas tuas mãos.

foto: Alaa al Marjani

O BURACO DA AGULHA
Atropeladamente e a galope / Com camelos e tudo / Cruzamos pelo buraco da agulha e o sol tinha se apagado / Suados chegamos ao mar / Vermelho / Ainda do sangue das crianças palestinas / Massacrados em Gaza / Manava pelos poros da areia. / Quisemos cruza-lo / Pela senda aberta por Moisés / Mas / Infelizmente / Ardente / O sangue / Tinha apagado / A descomunal estrada da Biblia / Deus dormia / Os fugitivos de ontem agora eram monstros / Transformando a vida em poeira / Pelo buraco da agulha chegamos / Sem pavor / Com camelos e tudo / A reinventar o amanhecer / Apesar da morte. / Rio de Janeiro 2004

foto: Alaa al-Marjani