TRIMANO ARTE GRÁFICA
Série O Poema Ilustrado
Ilustrações para "Sutra do Girassol"
e "Um Supermercado na Califórnia" de Allen Ginsberg
Hidrográfica e esferográfica
"El Barco" - Edição virtual - Monte Alto - Rio de Janeiro - 2021
O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
ALLEN GINSBERG - Irwin Allen Ginsberg
Nova Jersey, EUA 1926 - Nova York, EUA 1997
Foi um escritor e poeta estadounidense, filósofo e ativista.
Ele é considerado como uma das principais figuras
da Geração Beat nos anos 50, junto com Jack Kerouac
e William Burroughs e da contra cultura que se seguiu
depois disso.
Ficou conhecido pelo seu livro de poesia "Uivo" e outros
poemas.
SUTRA DO GIRASSOL
Allen Ginsberg
trecho
Berkeley, 1955
Caminhei nas margens do abandonado cais de lata
onde outrora descarregavam bananas e fui sentar na sombra
enorme de uma locomotiva lá perto para olhar e chorar
o sol morrendo em ladeiras sobre casas todas iguais.
Jack amigo Kerouac sentou-se ao lado no ferro de um mastro
roto partido e a gente caiu na maior fossa do mundo,
os dois ilhados, dois contidos na rede das raízes de aço,
e eu e Jack pensando os mesmos pensamentos da alma.
No rio a correnteza de óleo refletia o céu rubro, o sol caía
pelas alturas finais de San Francisco, sem que houvesse
peixe nessas águas, sem que houvesse um ermitão
nas montanhas, só a gente com olhos de ressaca e remela,
feito vagabundos, cheios de astúcia e cansaço.
Olha só um girassol, Jack então disse, e havia o vulto inerte
e cinzento seco, do tamanho de um homem, recostado
no monte milenar de serragem.
- Eu pulei de alegria e era o primeiro girassol da minha vida,
eram memórias de Blake - essas visões - o Harlem
e os rios do inferno-leste, sanduiches indigestos trotando
um ranger de pontes, carrinhos de bebê encalhados,
esquecidos pneus de bojo negro careca, penicos
& camisas-de-vênus, o poema da margem, canivetes,
nada inox, só o mofo o lixo de tantas coisas cortantes
cujo fio passava para o passado -
e o cinzento girasol se equilibrando ao sol-posto,
desmanchando-se abatido na invasão da fuligem, da fumaça,
do pó de velhas locomotivas no olho -
corola e também coroa com as pontas amassadas virando,
com sementes despencando do rosto, rompendo em breves
dentes um dia claro, raios de sol grudando em seu cabelo
riscado como uma exangue teia de aranha de arame;
caule com braços-folhas jogados, os gestos de raiz
de serragem, pedaços de reboco minando no galinhos
queimados e uma mosca estagnada no ouvido,
você de fato era uma incrível coisa imprestável,
ó meu girassol minha alma, e como eu te amei então!
sujeira não era parte do homem, era a parte da morte
e das locomotivas humanas
tradução: Leonardo Fróes
UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA
Allen Ginsberg
Muito venho pensando em ti nesta noite, Walt Whitman.
enquanto caminho pela calçada sob as árvores,
com uma incômoda dor de cabeça e olhando a lua cheia.
Em meu faminto cansaço, e fazendo compras na imaginação,
fui ao supermercado de neon e frutas, sonhando
com tuas listagens!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras
nas compras da noite! Corredores cheios de maridos!
Mulheres nos abacates e bebês nos tomates! - e você,
Garcia Lorca, que estava fazendo diante dos melões?
Te vi, Walt Whitman, sem filhos, velho comilão solitário,
apalpando as carnes do refrigerador e lançando olhares
aos jovens vendedores.
Te ouvi perguntar a eles todos: quem matou as costeletas
de porco? qual o preço das bananas? quem é meu Anjo, tu?
Vageei por entre as prateleiras brilhantes de latas,
te seguindo e sendo seguido pelo detetive da casa,
em minha imaginação.
Percorremos os grandes corredores,
juntos em nossa solitária fantasia, provando alcachofras,
pegando todas as delícias congeladas,
sem passar pela caixa.
Para onde estamos indo, Walt Whitman? Dentro de uma hora
as portas se fecham.
Qual o caminho que tua barba hoje aponta?
(Toco em teu livro e sonho com nossa odisséia
no supermercado - e me sinto absurdo.)
Iremos caminhar a noite toda por essas ruas solitárias?
As árvores acrescentam sombras às sombras,
luzes apagadas nas casas, ambos estaremos sozinhos.
Andando e sonhando com a América perdida de amor,
passaremos por automóveis azuis no estacionamento
a caminho de nosso solitário refúgio?
Ah, querido pai, de barbas cinzas, velho e solitário professor
de coragem, que América te conheceu quando Caronte
desistiu de empurrar seu barco e desceu-te na margem
enfumaçada e ficou vendo o barco desaparecer
nas negras águas do Letes?
Berkeley, 1955
tradução: Flávio Moreira da Costa
ENKI BILAL
Belgrado, Servia 1951
É um cineasta, desenhista e roteirista
de histórias em quadrinhos francês.
Nasceu na Servia em 1951 e mudou-se
para Paris com 9 anos de idade.
Aos 14 resolveu se tornar desenhista
de histórias em quadrinhos.
Junto com Moebius e Druillet revolucionaram
o gênero se tornando famosos na Europa,
outorgando às histórias em quadrinhos
um caráter cultural inexistente até esse momento.