TRIMANO ARTE VISUAL
Série O Poema Ilustrado
Ilustrações para poemas do livro "Uivo" de Allen Ginsberg
hidrográfica e esferográfica
"El Barco" - Edição virtual - Monte Alto - Rio de Janeiro - 2020
O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
ALLEN GINSBERG - Irwin Allen Ginsberg
Nova Jersey 1926 - Nova York, Estados Unidos 1997
Foi um escritor, poeta e ativista norte-americano considerado
como uma das principais figuras da Geração Beat nos anos
50.
Ficou conhecido pelo seu livro de poemas "Uivo" (1956).
Se opôs vigorosamente ao militarismo e a repressão sexual,
e incorporou a abertura para as religiões orientais.
No seu livro "Uivo" denuncia as forças destrutivas
do capitalismo, e fez parte durante décadas de protestos
não-violentos contra a Guerra do Vietnã e a política
imperialista dos Estados Unidos.
Dados extraídos da Wikipédia
AMÉRICA
trecho
América eu lhe dei tudo e agora não sou nada
América dois dólares vinte e sete centavos 17 de janeiro,
1956.
América não agüento mais minha própria mente.
América quando acabaremos com a guerra humana?
Vá se foder com sua bomba atômica.
Não estou legal não me encha o saco.
Não escreverei meu poema enquanto não me sentir legal.
América quando é que você será angelical?
Quando você tirará sua roupa?
Quando você se olhará através do túmulo?
Quando você merecerá seu milhão de trotskistas?
América por que suas bibliotecas estão cheias de lágrimas?
América quando você mandará seus ovos para a Índia?
Estou cheio de suas exigências malucas.
Quando poderei entrar no supermercado e comprar
o que preciso só com minha boa aparência?
América afinal eu e você é que somos perfeitos não o outro
mundo.
Sua maquinária é demais para mim.
Você me fez querer ser santo.
Deve haver algum jeito de resolver isso.
Burroughs está em Tanger acho que ele não vai voltar
mais isso é sinistro.
Estará você sendo sinistra ou isso é uma brincadeira?
Allen Ginsberg
UIVO
para Carl Solomon
trecho
Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato
celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando
sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis
apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos
das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram
anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados
das casas de cômodos,
que passaram por universidades com olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos
& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupas de baixo queimando seu dinheiro
em cestas de papel, escutando o Terror através da parede
Allen Ginsberg
CANÇÃO
trecho
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Allen Ginsberg
UIVO
para Carl Solomon
trecho
Carl Solomon! Eu estou com você em Rockland
onde você está mais louco do que eu
Eu estou com você em Rockland
onde você deve sentir-se muito estranho
Eu estou com você em Rockland
onde você imita a sombra da minha mãe
Eu estou com voce em Rockland
onde você assassinou suas doze secretárias
Eu estou com você em Rockland
onde você ri deste humor invisível
Eu estou com você em Rockland
onde somos grandes escritores na mesma abominável
máquina de escrever
Eu estou com você em Rockland
onde seu estado tornou-se muito grave e é noticiado
pelo rádio
Eu estou com você em Rockland
onde as faculdades do crânio não agüentam mais
os vermes dos sentidos
Allen Ginsberg
SUTRA DO GIRASSOL
trecho
Caminhei pela beira do cais de bananas e latarias e sentei-me
à sombra enorme de uma locomotiva da Southern Pacific
para olhar o sol que se punha entre as colinas de casas
como caixotes e chorar.
Jack Kerouac sentou-se a meu lado sobre um poste de ferro
quebrado e enferrujado, companheiro, pensávamos
os mesmos pensamentos da alma, chapados e de olhos
tristes, cercados pelas retorcidas raízes de aço das árvores
da maquinaria,
A água oleosa do rio refletia o rubro céu, o sol naufragava
nos cumes dos últimos morros de Frisco, nenhum peixe
nessas águas, nenhum ermitão nessas montanhas, só nós
dois com nossos olhos embaçados e ressaca de velhos
vagabundos à beira-rio, malandros cansados.
Olha o Girassol, disse ele, lá estava a sombra cinzenta
e morta contra o céu, do tamanho de um homem, encostada
ressecada no topo do montão de velha serragem -
Allen Ginsberg
GREGORY CORSO
Nova Iorque 1930-1971
Ao lado de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William
Burroughs, foi o quarto membro canônico dos escritores
da geração beat.
A sua mãe tinha apenas dezesseis anos quando ele nasceu,
e um ano depois abandonou a família e retornou à Itália.
Corso viveu a maioria dos anos de sua infância
em orfanatos e casas de adoção.
Seu pai se casou pela segunda vez quando ele tinha
onze anos, e foi com quem acabou ficando, mas Corso
fugia repetidamente. Foi mandado para um internato
masculino, do qual também fugia. Sua adolescência
complicada inclui uma temporada de varios meses
na Tombs (Túmulos), a prisão municipal de Nova Iorque.
Aos dezessete anos foi condenado por roubo e mandado
à Clinton State Prison por três anos.
Encarcerado em Dannemora por arrombamento em 1947,
mergulhou na literatura através da biblioteca da prisão
e começou a escrever poesia.
Depois de ser liberado em 1950, retornou a Nova Iorque
e conheceu a Allen Ginsberg, quem o introduziu
na cena literária beat.
Corso morreu em Minnesota em 2001, e foi enterrado
no cemitério protestante em Roma, Itália.
Escreveu seu próprio epitáfio: "Espírito é vida. Ele flui
por entre a minha morte ininterruptamente como um rio,
sem medo de tornar-se o mar."
dados extraídos da Wikipédia
TRIMANO - GREGORY CORSO
PUMA NO ZOOLÓGICO DE CHAPULTEPEC
Longo liso lento lépido gato macio
Qual marcação, que coreografia dançava você
quando eles pucharam a cortina final?
Como pode essa elegância sóbria permanecer
aquí tão sozinha, nesse palco 3 x 4?
Te darão ainda uma nova chance
para dançar outra vez pelas Serras?
Como você está triste; ao te observar
penso em Ulanova
trancada nalguma sala apertada com mobília
em Nova York, na 17.a Rua Leste,
no bairro porto-riquenho.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
ECCE HOMO
Por dentro das mãos e dos pés machucados
fragmentos de ferimentos antigos (quase cicatrizados)
como amêndoas negras em crostas
São resposta suficiente -
os pregos atravessaram o homem e atingiram Deus.
A coroa de espinhos (idéia soberba!)
e o ferimento lateral (uma atrocidade!)
penetraram apenas no homem.
Quantas vezes já vi isso pintado;
as mesmas injúrias,
provação exemplar; ecce signum
a mesma face abatida;
Já perdi a lembrança disso tudo.
Ó Theodoricus, juventude, imprecisão, a culpa é minha;
ainda assim é tua!
Tanta dor! é
impossível esquecer.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
NO TÚNEL-OSSADA DE CAMBRIDGE
Tomado pela loucura na estação-ossada
Crispando em minha maleta olho-dos-ossos
que hoje é sinistra com as lições de andar do passado
O painel-ossada com os horários indicou: Preto
Algemado a um ministro
Desembarcado de uma diesel estofada
O guarda-freios me fisgou a nuca: Destino, negro
Pela janela eu vi passar meu agente de estradas
saltitando pela plataforma
uma tocha lanterna-ossada na mão como alucinado -
Subam no carro, subam no carro, dando risadas
Já no interior do túnel-ossada encostei meus ouvidos
nos ouvidos do ministro escutando
o aço conversar com o vapor
e o vapor com o motor; escuro adiante
escuro adiante tudo preto e nada mais.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
O QUE É MEU BELO... E COISAS
Todas as belas coisas
Que tenho
Em cães mortos em celofanes embalados com fitas
E assim tão lindas que minhas
Em meus aposentos-túmulo de pó e sem coisas
Minha prática do momento
Quando vem a linda garota
Fazer que passe apertadinha no buraco da chave
Ou debaixo da porta se for velha
De jeito nenhum como mãe ou como puta
Ou cão sem maternidade
E eu vou levá-la para o que é meu belo
E coisas
Gostando dela em celofane com cordas
Como música para um mundo e não coisas
Mas não posso revelar minha pia suja
E suas coisas penduradas na chave para secar
Melhor estar sozinho que puta
Se fazendo de esposa em meu pó não embalado
Com nylon e galhos de chá e não coisas
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
REQUIEM PARA "BIRD" PARKER, O MÚSICO
trecho
A profecia chegou pelo correio:
Na última matança dos pássaros
Um pássaro de lugar nenhum restará
Este não poderá mais se lamentar
E o pássaro de lugar nenhum será um lento pássaro
Longo longo pássaro
Num quarto em algum lugar
Guardado
Dentro do quarto foi encontrado
encostado um velho sax
Com arroz num pacote
E BIRD, onde posso encontrá-lo?
primeira voz
ei cara, o BIRD morreu
enfiaram o sax num buraco qualquer
o sax jogado num canto qualquer
mas onde está o sax, cara, diz um lugar qualquer
segunda voz
Foda-se o sax
diz agora, onde está BIRD?
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
UM SENHOR DE IDADE DISSE QUE
UMA VEZ ESTEVE COM EMILY DICKINSON
Rosto inconsolado - rosto cheio tenso e pálido
Como de uma mulher bonita já morta - Ela olhou para
mim.
Com suas mãos compridas ela segurava a garganta
Seus cabelos escuros sedosos deitados como morcegos no
sono;
Não era a mim que ela estava olhando.
Ao me afastar ela ainda olhava para o mesmo lugar
...Mas nada havia para se olhar;
Quer dizer, nada que eu pudesse ver.
tradução: Ciro Barroso
TRIMANO - GREGORY CORSO
PARQUE DA QUARESMA Nº 12
Esta casa é o espectro de estranhas coisas
que falam ao solilóquio de um passarinho
uma natural piedade está ali incubada.
Aquele velho sempre sentado à luz da vela
eu vejo o movimento de suas mãos
deitando cores, cores amassadas
como flores que caem das páginas de um livro.
Passei por sua janela um dia;
para vê-lo de perto
...o cara tinha mais de cem anos de idade;
Perguntei a ele se achava que ia chover,
ele falou: - não - e me deitou uma cor roxa na mão.
Ao me despedir
eu lhe disse que não era correto de sua parte
...aquela cor estava queimando.
tradução: Ciro Barroso