quarta-feira, 7 de agosto de 2019

PROPOSTAS GRÁFICAS - O POEMA ILUSTRADO - OSWALD DE ANDRADE

MANIFESTO ANTROPÓFAGO

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.
Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos
os individualismos, de todos os coletivismos. De todas
as religiões. De todos os tratados de Paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem.
Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos
católicos suspeitos postos em drama.
Freud acabou com o enigma da mulher e com os sustos
da psicologia impressa.
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável
entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra
o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do Sol, mãe dos vivientes. Encontrados e amados
ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. 
No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas nem coleções
de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano,
suburbano, fronteiriço e continental. Pregiçosos no mapa-
mundi do Brasil. 
Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada.
A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica
para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução
Francesa, A unificação de todas as revoltas, eficazes na direção do homem.
Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro.
E todas as girls...

Oswald de Andrade

Em Piratininga
Ano 374 da deglutição do bispo Sardinha
Revista de Antropofagia, ano 1, Nº 1,
São Paulo, maio de 1928

Oswald de Andrade
São Paulo, Brasil 1890-1954 
 

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