segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Gritaram os dois; e eram três. Gritaram os quatro
e eram cinco. Gritaram todas as pessoas naquela quadra.
As que passavam, as que passeavam, as que olhavam
vitrines, as que olhavam para o chão, as que entravam
e saiam dos prédios. Gritavam, e o grito ecoou pela rua.
Foi respondido. Gritaram na esquina. E na outra esquina.
Na praça. Gritaram dentro do ônibus, dos carros, 
no interior dos cinemas e dos escritórios, gritaram
nos mictórios e nas lanchonetes, nos bancos e drogarias.
E no fim da tarde, quando o sol se pôs, mão havia
mais ruídos, nem silêncio, apenas o grito, uniforme,
uníssono, unânime, solidário, de seis milhões de pessoas.
Grito sem fim, enquanto a noite descia.

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