sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Hoje se aceita em geral que Vermeer,
trabalhando cerca de 50 anos depois de Caravaggio,
não só tinha conhecimento de instrumentos ópticos
como também os utilizava de algum modo em sua pintura.
Van Leeuwenhoek, o grande micorscopista e fabricante
de lentes, foi seu vizinho e testamenteiro. Grande parte
das provas está no interior das próprias pinturas.
Vermeer parece encantado com os efeitos ópticos da lente
e tentou recriá-los na tela. Objetos e pessoas  em primeiro plano são por vezes muito grandes; outras coisas são
pintadas em foco suave, ou totalmente fora de foco.
Nesta pintura de uma leiteira, por exemplo, a cesta
em primeiro plano está fora de foco comparada à cesta
pendurada ao fundo, uma distorção que Vermeer 
não teria visto a olho nu. Nem poderia ter reproduzido
o efeito de "halo" dos realces fora-de-foco, vistos aqui
na cesta, no pão, no canecão e no jarro, a menos
que o tivesse visto! Assim, este era o ponto de partida:
Vermeer foi um artista que usou a óptica - suas pinturas
são demonstração disso.
Gostaria de advertir aquí que essa é a figura mais sólida
de Vermeer. 
Ela tem uma presença maior que as senhoras do próprio Vermeer.
Teria sido por ser ela uma criada (um tema das chamadas
"clases menos favorecidas", de tantos pintores ópticos
da primeira leva), e assim não estar em condições
de queixar-se: "Ah, estou com dor de cabeça. Preciso
me deitar", como as "senhoras" teriam sido capazes
de fazer

David Hokney

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