segunda-feira, 2 de novembro de 2020

RASTO DE VAPOR REFLETIDO 

NO PEQUENO TANQUE DE SAPOS

 

1

Os velhos sapos vigiam: seus

olhos turvos incham e fecham-se com a lua. Os jovens,

cabeças seguidas do início de pescoço

tremem,

na certeza de que serão corpos.

 

No pequeno tanque

a trilha de vapor de um bombardeiro rasteja,

 

Eu ouço o seu zumbido, vagando, no alto

em ozônio imaculado.

 

2

E eu ouço,

vindo das colinas, a América cantando,

seus cantos variados eu ouço:

estampidos de rifles dos delegados praticando sua pontaria

em cães vadios

á noite,

estalido de chicotes nas costas dos negros

TV gemendo com os odores do corpo humano,

praguejamento do soldado enquanto ele envenena,

queima, tritura,

e apunhala o arroz do mundo,

de boca aberta, gritando alto, pragas histéricas.

 

3

E nos arrozais na Ásia

ossos

vestindo algumas sombras

caminham por uma estrada poeirenta, sanguesugas

esmagadas nos seus calcanhares, sabendo

que a carne que um homem joga ao sol

os cães comerão

e a carne que é atirada ao ar

será agarrada por pássaros,

omoplatas lisas, sem velhas marcas de penas,

mãos cortadas de azul

por filetes erráticos de sangue,

olhos enrugados

enquanto fitam o sol à deriva que nos dá nossas vidas

semente ofuscada com o fulgor da terra gasta pelos pés.

 

Galway Kinnel

tradução: César Augusto R. de Almeida 

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