segunda-feira, 8 de abril de 2019

LA VOLUNTAD é a história da militância revolucionária
na Argentina entre 1966 e 1978. 
Relata os tempos atormentados e fascinantes, quando
atrasar um encontro com um companheiro poderia selar
o seu destino, quiçá a própria vida.
Os companheiros que lutaram armados, o uso da violência,
Che Guevara e a idéia do homem novo, a noção arraigada
do sacrifício revolucionário, a vida clandestina, a tortura,
o "ponto", as vidas recolhidas em "aparelhos", prisões, quedas, esquecimento e silêncio, são alguns dos temas recorrentes nos relatos e testemunhos sobre as ditaduras
que se espalharam pela América do Sul entre os anos
60 e 80, e aparecem em um formato bem menos heroico do que estamos acostumados a ver, com pitadas de humor 
e ironía. O que pensavam aqueles homens e mulheres
no início da vida adulta e já cercados de obrigações e ritos,
o que pensam hoje? As lembranças das vidas e mortes,
desta vez, lembranças muito mais intensas dos vivos,
que uma homenagem aos mortos. 
O Processo, como ficou conhecido o período da repressão
a luta armada na ditadura militar (1976-1983) contou
com a triste "benção" que a igreja católica na Argentina,
representada por monsenhor Pío Laghi, núncio apostólico
de Buenos Aires, deu aos militares em 1977, quando
o general Videla já estava com sua máquina de fazer
desaparecidos funcionando na força máxima.
Os "vencedores" aproveitaram para conseguir que a Argentina fosse muito mais injusta, sórdida e estúpida
que antes que nos propusésemos melhorá-la, e ainda
por cima muitos de nos morreram naquele caminho.
A edição definitiva dos três volumes de La Voluntad,
coloca em perspectiva o significado da sua publicação
anos atrás, quando apareceu por primeira vez uma história
da militância revolucionária na Argentina, uma proposta 
para se combater a "desmemória" desde a escrita.
Quando escrevemos os livros, sem dúvida, nós 
e os militantes que ofereceram seu testemunho, esperávamos acabar com a amnésia produzida pelas leis 
da impunidade, esse período de indultos cúmplices,
e todas as barbaridades que se sucederam durante 
a década de 90.
Creemos que neste momento, muito fértil se comparado
aos 90, também existem imagens caricaturais, como a de manter uma idéia do militante como alguém que também pensava na reforma agrária ou na renda potencial da terra.
Na Argentina dos anos 70, mesmo estando 
na clandestinidade, líamos a John William Cooke e varios
outros escritores políticos que nos permitissem pensar.
Se derrubássemos um sistema de privilégios, poderíamos
construir um sistema igualitário, e para isso tinhamos
que resignificar o militante como um sujeito que estava
no sindicato, ele não estava sentado numa poltrona,
não era um intelectual disposto a debater: PCR, PO,
Montoneros, PR, mesmo na situação semi-clandestina,
tivemos que ouvir todas as vozes. Quais são as coisas que um militante tinha em mente para os dilemas humanos?
Porque participar de uma organização clandestina,
se arriscar a ser torturado ou morto, não é algo alheio
à angústia dos militantes. Mas mesmo assim, milhares
e milhares dizeram "eu ainda estou nisso, vale a pena..."
O interessante é que a voz do coral sempre aparece,
a história de várias vozes e situações diferentes
que funcionaram coletivamente. Um dos grandes riscos
é ignorar que a percepção do grupo esteve sempre presente
na miltância revolucionária.

Editora Planeta
Coleção Espejo de la Argentina
Primeira edição 1973
Buenos Aires 
 

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