sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Minhas projeções de naturezas-mortas com uma lente-
espelho tinham uma aparência emblemática: objetos
vistos de frente, uma totalidade unificadora com fortes realces e sombras, um pano de fundo escuro
e profundidade restrita - todas características impostas
pelas limitações do equipamento. Como vimos, os artistas
encontraram meios de superar essas limitações fazendo a "colagem" de varios elementos numa pintura maior -
mas esses elementos ainda são vistos de frente 
e em close-up. São as habilidades composicionais dos artistas que nos convencem de que tudo está situado num espaço coerente.
Quando as lentes convencionais se tornaram grandes
o bastante e de qualidade boa o suficiente para serem usadas no lugar de um espelho côncavo (em algum ponto
do século XVI), um artista ja escolado no uso da projeção
de lente-espelho veria uma nítida vantagem: um campo
de visão mais amplo. Vários artistas fizeram essa transição,
mas ela é vista com a máxima clareza na obra 
de Caravaggio. Ele usou a lente com tamanha imaginação
que seu exemplo cedo exerceu influência pela Europa
afora, com jovens artistas fazendo peregrinações à Itália
para contemplar seus quadros e aprender com seus seguidores, os caravaggisti.

David Hockney 

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