quarta-feira, 25 de maio de 2016

Sua lua-de-mel foi um longo estremecimento.
Loura, angelical e tímida, o temperamento duro
do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva.
Ela o amava muito, no entanto, as vezes, sentia
um ligeiro estremecimento quando, voltando a noite
juntos pela rua, olhava furtivamente para a alta estatura
de Jordão, mudo havia mais de uma hora.
Ele, por sua vez, a amava profundamente, sem demostrá-lo.
Durante três meses, tinham casado no mes de abril,
viveram uma felicidade especial. 
Sem dúvida ela teria desejado menos severidade
nesse rígido céu de amor, mais expansiva e incauta ternura,
mas a impassível expressão do seu marido a reprimia
sempre. A casa em que viviam influenciava um pouco
os seus estremecimentos. A brancura do pátio silencioso,
frisos, colunas e estátuas de mármore, produziam uma outonal impressão de palácio encantado.
Por dentro, o brilho glacial do estuque, sem o mais leve
arranhão nas altas paredes, alentava aquela sensação
de frío desagradável. Ao atravessar um quarto para outro,
os passos encontravam eco na casa toda, como se um longo
abandono tivesse sensibilizado a sua ressonância.
Nesse estranho ninho de amor, alicia passou todo o outono.
Porém tinha terminado de baixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia dormida na casa hostil,
sem querer pensar em nada até o marido chegar.
Não é comum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque
de gripe que se arrastou insidiosamente dias e mais dias,
Alicia não melhorava nunca.
Por fim uma tarde pôde sair ao jardim apoiada do braço dele.
Olhava indiferente para um e outro lado. De repente Jordão,
com profunda ternura, passou a mão pela sua cabeça,
e Alicia em seguida se quebrou em soluços e o abraçou.
Chorou demoradamente seu discreto pavor, redobrando
o choro diante da menor tentativa de caricia.
Depois, os soluços foram-se acalmando, e ainda ficou
um longo tempo escondida no seu ombro, quietinha,
sem pronunciar palavra.

Nenhum comentário: