O poema ilustrado surge como prática habitual no meu
desenho a partir de 1962, quando faço uma viagem aos pampas, na Argentina.
Tinha 19 anos e recebia a influência dos
mestres do realismo social, todos eles desenhistas virtuosos e também
ilustradores literários e de poetas. Foi nessa viagem, na cidade de Santa Rosa,
capital da Província de La Pampa, que conheci três poetas que mudaram o meu
rumo, foram Ricardo Nervi, Edgar Morisoli e Juan Carlos “el indio” Bustriazo
Ortiz. Eu provinha do âmbito urbano, e a
poesia rural praticada por eles, de intenso lirismo na evocação da paisagem desértica e das agruras da sua gente, em
constante êxodo por causa das secas, determinaram meu trabalho desse período. Juan Ricardo Nervi, era proveniente da cidade
de Castex, colônia agrícola formada por imigrantes italianos. Com ele a visitamos, e essa visita motivou uma
série de desenhos em parceria com Nervi que compuseram a minha primeira
exposição em Buenos Aires em 1964, que levou por título “Poemas em blanco y
negro – Jornadas de La Pampa seca”. Em 1968 viajo ao Brasil, e pouco a pouco
vou descobrindo a língua portuguesa na poesia musicada da MPB, que me abre as
portas para os poetas brasileiros. Muitas das ilustrações sobre música que fiz
nesse período, assim como os retratos
dos compositores, estavam intimamente ligadas a essa poesia. A poesia saia do livro e ia para a rua, assim
como para mim, na ilustração o desenho saia da galeria e ia para as bancas de
jornais e revistas. Em 1980 aconteceram dois fatos importantes para o meu
trabalho: a encomenda pelo Teatro dos 4, da produção visual da peça “Rei Lear”
de William Shakespeare, e as ilustrações de “A Paixão Medida” de Carlos
Drummond de Andrade, pela editora José Olimpio. Nos anos seguintes ilustrei o peruano
César Vallejo, o uruguaio Mario Benedetti e a série “Radial X” sobre poemas de
Leonardo Fróes. A série “Diário”, exposta na UERJ e na ABL em 2007, foi uma
extensa série de desenhos que abordava a temática da memória, e a realidade
política que viveram nossos países na década de 70. Quando o conjunto ficou
pronto, pontos de contato me fizeram acrescentar 5 poemas de Juan Gelman. Nessa exposição
“Poemas Ilustrados”, estou mostrando, junto ao meu desenho, a poesia de Alexei
Bueno, Marcus Mello, Frederico Gomes, a argentina Marta Kelly e os clássicos,
Machado de Assis e Afonso Lima Barreto. Nesses tempos de negação do sentimento,
em que a arte ficou reduzida a um monte de pedras, redesenhar a palavra, não
será em vão.
Luis Trimano - Rio de Janeiro 2012
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