domingo, 7 de dezembro de 2014

Tal como a maioria dos pintores, imagino, quando observo
pinturas estou tão interessado em "como" foram pintadas
quanto em "o que" dizem ou "por que" foram pintadas (essas
questões, é claro, são relacionadas). Tendo eu próprio 
pelejado para usar a óptica, descobrí que estava agora observando as pinturas de um novo modo. Era capaz de
identificar características ópticas e, para surpresa minha,
podia vê-la na obra de outros artistas - e a coisa remontava
aos anos 1430, ao que parecia. Creio que foi no fim do século XX que isso se tornou evidente. Foi necessária
a tecnologia nova, sobretudo o computador, para vê-lo.
Os computadores deram lugar a impressões coloridas
mais baratas e de melhor qualidade, conduzindo a uma
grande melhora nos últimos 15 anos no padrão de livros
de arte (mesmo 20 anos atrás, a maioria ainda era em
preto e branco). E agora com fotocopiadoras coloridas
e impressoras pessoais qualquer um pode ter acesso
a reproduções baratas mas de boa qualidade em casa,
e assim pôr lado a lado obras que estavam antes separadas
por imensas distâncias. Foi isso o que fiz em meu estúdio
e o que me permitiu ver a coisa em toda a sua amplitude.
Somente ao reunir desse modo as imagens que comecei 
a notar coisas; e tenho certeza de que essas coisas só
poderiam ser vistas por um artista, um fazedor de marcas,
que não está tão afastado, ou da ciência, quanto um historiador de arte. Afinal, estou dizendo apenas que os
artistas sabiam em outro tempo usar uma ferramenta,
e que esse conhecimento se perdeu.

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