A série "O Negro", iniciada em 2000, e exposta
no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro
em 2005, teve inicio muitos anos antes, numa visita
que fiz ao Museu Histórico da Praça XV, na cidade.
Lá existe uma pequena saleta onde são mostrados
em vitrines, ferramentas, ferrolhos de tortura, un
medonho "tronco" ou cepo, e os retratos de escravos brasileiros (hoje domínho público) tirados pelo fotógrafo português Christiano Junior (Açores, Portugal 1832 - Assunção, Paraguai 1902), durante o período do Segundo
Reinado, no Rio de Janeiro, cidade onde morou e trabalhou.
O que me impressionou naquelas fotografias foi a maneira
"humanista" do fotógrafo olhar para o "modelo-escravo".
Diferentemente do desenho e da pintura, onde as figuras são construídas pelo artista parte a parte, a fotografia conta com o fator velocidade, que captura a imagem de forma
instantânea, revelando o interior da pessoa no rosto. 
Foi a "captação" desse olhar que me fez guardar na memória as imagens de Christiano Junior, um pioneiro da fotografia documental na America do Sul, como fotografias de arte, e não apenas como simples registros.
Na Série "O Negro", tomei como modelo e ponto de partida,
os retratos, que nas ampliações revelaram gestos, ocultos nos pequenos originais, do tamanho de um daguerreótipo.