terça-feira, 12 de agosto de 2014

Vindo ao Brasil no período da ditadura de 64,
Luis Trimano pertence aquela geração de profissionais
da imagem gráfica que teve que trabalhar o signo
de modo ambivalente. A linha de seu desenho deveria
funcionar como uma ação clandestina capaz de exercer
eficazmente a função transgressiva do interdito político.
Tinha de desenhar levanto em conta a interpretação
do censor para garantir a sobrevivência da imagem
e da mensagem. Nesse sentido, a exessiva legibilidade
dos objetivos políticos do desenho resultaria na ingerência
da censura. Aquela clandestinidade do desenho exigia
um refinamento intelectual no Brasil, transformando
a estratégia das fotografias ou das imagens desenhadas
na imprensa. A fotografia, na etapa seguinte, também
passa a classificar e a codificar. Configura-se como
o primeiro sistema visual que efetivamente articula o mundo,
em que pesem os atlas, os livros, os dicionários 
e enciclopédias editados na Europa desde a invensão da
imprensa. É que a fotografia foi, efetivamente ao redor do mundo. O olho viajou por toda parte.
Um estrato social ou um individuo podem fabular produtivamente a história. Como diagrama de liberdade
do imaginário, necessária ao processo, sempre incompleto,
da emancipação. Esta é sua solidariedade.
Cada desenho foi um dia uma superficie cega, na qual
se debatia, sem circulação, uma fantasmática coletiva
da injustiça. Para ser inteiramente cristalina, esta série
reclama intérpretes ativos. Só assim o artista atingirá
o resultado-alvo: converter o espectador em agente
de operação de resgate da condição de sujeito daqueles
que foram obliterados pela história.

Paulo Herkenhoff
trecho do texto de apresentação para a exposição:
Trimano - Série "O Negro" - Estudos sobre a fotografia de Christiano Junior
MNBA - Rio de Janeiro 2004

Nenhum comentário: