sexta-feira, 25 de julho de 2014

A anatomia humana apresenta variações entre individuos,
segundo as idades, raça, sexo e biotipo. 
É um vasto universo a ser descoberto pelo artista.
Podemos esquecer o nome de cada músculo ou região óssea, mas não devemos esquecer a realidade física do corpo inerte ou em movimento, para representá-lo
artisticamente. A anatomia artística é uma das bases do "tripé do conhecimento artístico figurativo", ou seja, 
é um dos conhecimentos básicos na formação de um artista
figurativo, ao lado do estudo das técnicas e da composição.
O pintor que não deseja realizar obras figurativas pode escolher as texturas, a abstração, as cores, as paisagens,
como tripé para manter sua obra em pé. Mas terá, assim mesmo, que estudar profundamente o tema que pretende
representar, para alcançar a maestria.
Observando a evolução da história da arte, compreendemos
que não existe uma linha progressiva e contínua, onde os artistas teriam evoluido na compreensão e representação
da anatomia. Ocorreram oscilações em épocas diversas,
quando os artistas tiveram maior ou menor interesse
na representação anatómica, e suponho, conhecimento
dessa matéria. Para ilustrar este fato, vale lembrar que
a estética bizantina, onde a realidade anatómica e deixada 
em segundo plano, é posterior à arte grega e romana,
que atingiram altos níveis de compreensão e representação
do corpo humano, nos baixo-relevos e esculturas. 
A anatomia acompanha o ser humano há milhares de anos;
existem descrições anatómicas em textos antigos, como no
evangelho de São Lucas na Biblia, e na Ilíada de Homero.
Dante Alighieri descreve a "anatomia do diabo" na Divina
Comédia, e Cervantes utiliza termos anatómicos em Dom Quixote. 
A anatomia acompanha a civilização, desenvolvendo-se
ao lado do conhecimento do corpo humano. Até o inicio
do século XVI, ainda não existia uma ciência anatómica
claramente definida. Versalius (nome latino de Andreas
van Wesel) nascido em 1514 em Bruxelas, Bélgica, estudava
medicina em Paris, e ainda estudante, praticava disecações
públicas para um grande número de espectadores. 
No mundo moderno, novas tecnologias colaboram para que o corpo humano seja desvendado pela pesquisa anatómica,
através de scanners e métodos de cortes em baixa temperatura, que permitem aos estudiosos conhecer o corpo
humano de maneiras, antes impossíveis.
O ser humano foi, pouco a pouco, se especializando 
e perdendo o conhecimento universal. Passou a entender
muito sobre um asunto e menos sobre todos os outros.
A inteligência se compartimentou e o sentido da palavra
"artista" se modificou.
A palavra "artista", perde definitivamente seu status renascentista graças a afirmação de Joseph Beuys, de que
para a arte contemporânea, todos, sem exceção, são artistas. Cabe lembrar que este mesmo artista passa dias
enjaulado, coberto de graxa, uivando como um lobo...
Não é mais necessário conhecer diversas matérias, adquirir
conhecimentos essenciais do ofício, ou adestrar o olhar e a mão, como fizeram os artistas a partir do Renascimento.
A arte contemporânea convive com lacunas na representação da figura humana, e com aberrações anatômicas diversas, provenientes do desconhecimento
anatómico, ou, em raras vezes, do exercício estético.
Para realizar obras contemporâneas, devemos aniquilar
a herança cultural dos antepassados, como desejavam
críticos e formadores de opinião do final do século XX?
Em outros setores do saber, como na medicina, matemática,
física, química, engenharia e tantas outras ciências, a experiência dos antepassados contribuiu para a evolução
do conhecimento, trazendo a herança de parâmetros
definidos e conhecimentos claros e comprovados, obtidos
através de árduas pesquisas. Estes conhecimentos são
completados pela pesquisa contemporânea que não cessa de acrescentar novas descobertas aos conhecimentos adquiridos pela herança histórica. O que seria desses setores do conhecimento se, à cada geração, fosse necessário redescobrir a partir do nada, de um ponto inicial
que se iniciaria a partir da negação do já adquirido?
Seguramente voltaríamos à Idade da Pedra.

Sérgio Prata
dados extraídos da Wikipédia

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