domingo, 21 de outubro de 2012

Vermeer pintou predominantemente mulheres jovens numa situação narrativa,
ainda que só levemente esboçada. A ideia de actividade foi criada através da
junção de alguns atributos, como por exemplo um instrumento musical ou uma
balança de ouro. Além destas pinturas de género, na sua obra há ainda três quadros
em que faltam estes elementos, dando a impressão de que se trata de retratos, já
que as mulheres surgem numa perspectiva próxima própria deste tipo de pintura.
Não é forçoso que seja assim, porque alguns tipos de actividade ou atitude
mental são atributos importantes na interpretação de muitos retratos pintados na
Idade Moderna; por outro lado, nem toda a representação que corresponda ao
estilo de um retrato terá necessariamente de ter sido criada consciente e voluntariamente como caracterização de uma personalidade individualizada. No caso
do portrait historié, por exemplo, no qual o tema assume frequentemente um
papel de difarce, é muitas vezes difícil concluir se a intenção foi a de retratar
um individuo ou se o modelo empresta a sua imagem para um objectivo diferente.
Estas considerações são pertinentes no famoso quadro de Vermeer Menina do
brinco de pérola. A menina está contra um fundo escuro, neutro, muito próximo
do preto, o que estabelece um contraste muito plástico. (No fragmento 232 do
seu Tratado da pintura, Leonardo da Vinci observa que sobre um fundo escuro
um objeto parece mais claro, e vice-versa).
A menina está vestida com um casaco amarelo-acastanhado, sem adornos, o que
faz salientar  o branco luminoso da gola. Um outro contraste é formado pelo
turbante azul, com uma ponta pendente amarelo-limão, como um véu sobre o ombro.
Vermeer usou cores quase puras neste quadro, limitando a escala de tons.
O reduzido número de superfícies de cor é dado por vernizes da mesma cor 
que criam sombras.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

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