sexta-feira, 13 de julho de 2012

1892-2002


Voz rumor dos rios
Voz quase-silêncio das planícies
Voz cantoria dos melros
Voz antivoz das estradas do Oeste
Voz roufenha do vento nas montanhas
Voz dos negros dos índios dos imigrantes
Voz dos becos das docas dos bares
Voz ruído das máquinas
Voz incessante dos mares
Voz dos animais das crianças das mulheres
Voz burburinho da Broadway
Voz das vozes múltiplas de Manhattan
Voz das vozes de toda a América
Voz das vozes das vozes de todos os lugares
whitmannianamente recolhidas em uma única voz:
Walt Whitman - o que eu queria dizer-te
é que relendo as folhas de relva
encontrei perdidas entre as páginas
duas pálidas pétalas de rosa
que alí deixara um moço (uma moça?)
em respeitosa homenagem
mais de um século após a tua morte
e que me pareceram o veludo da pele de tua face
sob a espesa barba - motivo óbvio,
                                                         ó grande urso,
porque ninguém jamais a tocara...
Whitman - o que eu queria dizer-te
é que as acariciei como se fossem tua face
(agora sem a barba) de criança de fêmea de macho.
F.G

Nenhum comentário: